31 março 2010

O maçom e o conflito


O conflito faz parte das nossas vidas. Quer queiramos, quer não. Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis. Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: a força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a cooperação, a hierarquização, etc..

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos. Tanto como qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito. Desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a Tolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. Pelo contrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bem gerir um conflito não é procurar ganhar a todo o custo. Mais bem gerir um conflito consiste em detetar e obter a melhor solução possível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o conflito pode parecer a melhor solução no curto prazo, mas revelar-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir! Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não é apenas deixá-lo falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz. Para procurar determinar porque o diz e para que o diz. E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmente conflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma aparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, de uma ou das duas partes, de propósitos, intenções, objetivos.

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da verdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de, condescentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha. A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto filosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - por maioria de razão. Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura confituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescente superioridade. É a consequência da nossa consciência da Igualdade fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitável corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós. A Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. Não é demais repeti-lo.

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro, para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos; (2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medida é essa divergência, superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendo superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; (5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidar melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar, determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar predispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmente adquire a consciência de que existem várias, e por vezes insuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver, conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dos interesses inicialmente em confronto.

E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o que implica entender) a posição do outro.

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática do silêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do que realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver os problemas que ouça expostos.

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao Outro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através da busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. Através da gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente, mais bem sucedido.

Rui Bandeira

24 março 2010

O maçom e a Religião


A Maçonaria não é uma religião. Mas a Maçonaria Regular lida com a espiritualidade e, nesse sentido, atende inevitavelmente à conceção religiosa dos seus obreiros.

Tal como em relação à Política, é vedada, no seio da Maçonaria Regular, toda a discussão ou controvérsia religiosa. Mas, sendo uma agremiação em que apenas são admitidos crentes, obviamente que a espiritualidade, em geral, e as convicções religiosas, em particular, são objeto da atenção dos maçons.

Como procedem então os maçons para satisfazer o seu interesse na espiritualidade e nas convicções religiosas sem violar a proibição de discussão ou controvérsia religiosa?

De uma forma espantosamente simples e de uma eficácia comprovada ao longo de centenas de anos: estabeleceram o denominador comum e, para além dele, deixam ao íntimo de cada um as respetivas opções.

O maçom Regular é crente num Criador do Universo. Esse o denominador comum. Quais as características, poderes, atuações, propósitos, intervenções, etc., do Criador do Universo - isso é matéria do foro íntimo de cada um. Cada um crê no Criador tal como o concebe, tal como a religião que pratica o levou a entender, aceitando ou discordando que tenha a característica A ou B, o poder X ou Y, que atue no Universo criado, e como, ou não atue, com plano específico ou sem ele, com ou sem intervenções concretas. Isso é com cada um e ninguém tem nada com isso - portanto, não se discute.

As religiões monoteístas têm diferentes designações para o Criador: Jeovah (ou Javeh), Allah, Deus... Ao longo da história, homens mataram homens em insanas guerras, uns lutando por Deus e outros por Allah, outros ainda invocando Jeovah - todos estupidamente esquecendo, ou escondendo, ou não atendendo, que essas são todas designações que os humanos dão à mesma Entidade...

Como resolvem os maçons esta questão? Sempre com a mesma eficaz simplicidade: coletivamente, designam o Criador por uma denominação que - mais uma vez - é um denominador comum - Grande Arquiteto do Universo. E cada um, no seu íntimo, perante a sua religião, designa-o como entende.

No entanto, seria estulto não reconhecer que a religião condiciona a cultura de homens e de sociedades. A cultura judaica resulta de manifesta influência da religião judaica. O mesmo se pode referir em relação à cultura e religião islâmicas e, ressalvadas as assinaláveis diferenças internas, à cultura e religião cristãs.

Como conciliar estas diferenças? Ainda e sempre, com a eficaz simplicidade que resulta da Tolerância e da Harmonia: o meu Irmão é, enquanto individualidade, importante para mim, como eu sou para ele - não importam as diferenças culturais ou de pensamento religioso. Tal como não faria sentido distinguir entre louros e moremos, entre os que têm olhos azuis e os que os têm castanhos , entre os que são altos e os que são baixos, não faz sentido distinguir entre os que professam a religião A ou a crença B.

Pelo contrário, é muito mais frutuosa a cooperação, a entreajuda dos diferentes. O louro reage melhor ao frio, o moreno suporta melhor o sol - distribuamos tarefas aproveitando essas diferentes potencialidades. O de olho azul vê melhor com pouca luz e o de olho castanho tem olho de águia com a mais intensa luminosidade - atribuamos esforços tendo isso em conta. Os altos arrumam melhor as prateleiras e os baixos encontram melhor o que está no fundo dos armários baixos - aqueles que tratem das prateleiras, enquanto estes se ocupam dos armários...

Ainda e sempre, o que os maçons há muito aprenderam e diariamente aplicam é que a diversidade é uma riqueza, uma vantagem, não um ónus, não algo que se deva corrigir.

Portanto, não me interessa a religião específica de meu Irmão. Basta-me a nossa crença comum no Grande Arquiteto do Universo. Este plano comum é apto e suficiente à nossa vivência em comum da espiritualidade. Não perdemos tempo em discutir as diferenças, não entramos no que seria um infantil jogo de "o meu Deus é mais poderoso que o teu" (afinal, é o mesmo...), "a minha maneira de ver o meu Deus lava mais branco do que a tua" (afinal, o que realmente importa é como cada um se aperfeiçoa, melhora, se dignifica na sua passagem por esta vida e se prepara para o Mistério que está para além do Oriente). Achamos que é muito mais útil, mais eficaz, mais inteligente, retirarmos da vivência espiritual do outro as lições e as técnicas e os princípios que nos sejam úteis para melhor aperfeiçoarmos a nossa própria vivência. E, ao mesmo tempo, abrirmos ao outro a nossa própria vivência espiritual, para que o outro dela retire e aprenda e utilize o que para ele seja mais útil.

No fim de contas, se fôssemos todos iguais, se pensássemos todos da mesma maneira, se professássemos todos idênticas convicções religiosas - o que é que cada um podia aprender com os demais? Mais do mesmo?

Para o maçom, a religião, as diferentes religiões não são pomos de discórdia, de discussão, de controvérsia. São oportunidades de diálogo, de aprendizagem, de cooperação no crescimento de cada um.

E isto, meu caro leitor, os maçons praticam-no em Loja e procuram também assim o fazer fora de Loja, entre si e com todas as demais pessoas. Com a certeza que, se algum dia se conseguir que todos identicamente se comportem, o Mundo será muito melhor!

Rui Bandeira

17 março 2010

O maçom e a Política


O sexto Landmark (princípio fundamental) da Maçonaria Regular prescreve:

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

No texto que, neste blogue, dediquei ao sexto Landmark, escrevi:

Por isso, em Loja não se discute Política nem Religião. Esta, porque sendo do foro íntimo da cada um, não faz sentido discuti-la. Aquela, porque sendo susceptível de grandes paixões poderia cavar insanáveis conflitos entre Irmãos. Ademais, reconhecendo cada maçon no seu Irmão um homem livre e de bons costumes, grave atentado a essa liberdade seria não lhe reconhecer o direito à sua crença religiosa e ao seu entendimento político. Não quer isto dizer que um maçon não possa ou não deva afirmar a sua convicção religiosa ou a sua posição política. Pode este, pode aquele, pode aqueloutro, podem todos. Mas, isto feito, mais além não se vai. Cada um crê no que crê, pensa como pensa, ponto final! Não há lugar para discussões sobre se esta crença é melhor do que aquela ou se aquele entendimento político é mais ou menos adequado do que aqueloutro.

A controvérsia ou discussão política está, assim, completamente banida em Loja, na Maçonaria Regular.

Este princípio implica um corolário, a que se chega por duas vias: a Maçonaria Regular não toma posições políticas.

Não o faz, porque (1), uma vez que não existe discussão política em Loja e, dado que as deliberações dos maçons são tomadas em Loja, não há como tomar posição política que resulte de deliberação validamente tomada; e porque (2), uma vez que a tomada de uma posição política implica escolha - em favor de algo, em detrimento de algo -, a instituição maçónica não toma posição, pois, com toda a probabilidade, iria fazê-lo em concordância com alguns dos seus membros, mas, por outro lado, afirmando discordância em relação a outros. E a Maçonaria Regular não privilegia nenhum dos seus elementos, nenhuma das ideias livres de homens livres. Não se trata sequer de determinar maiorias e de agir segundo as maiorias verificadas. Em matéria de ideias, tão legítimas e respeitáveis são as ideias maioritárias como as minoritárias. Afirmar uma posição institucional em detrimento do livre entendimento de um elemento que seja seria desrespeitar esse entendimento. A instituição é de todos, o espaço onde todos cooperam para que cada um se aperfeiçoe e evolua. Não pode pois privilegiar uns - ainda que porventura a maioria - em detrimento de outros ou de apenas um que seja.

A Maçonaria Regular, enquanto instituição, não toma, pois, posições políticas. A Maçonaria Regular não é monárquica nem republicana. A Maçonaria Regular não é politicamente conservadora, nem liberal, nem social-democrata, nem progressista, não prossegue nem defende nenhum "ismo". A Maçonaria Regular integra homens bons, que procuram ser melhores, sejam monárquicos ou republicanos, conservadores ou progressistas, liberais ou sociais-democratas, seja qual for o "ismo" que prefiram.

Por seu turno, cada maçom tem as convicções políticas que entende ter, toma e divulga (ou não...) as posições políticas que lhe aprouver, declara (ou não...) as escolhas políticas que julga adequado declarar, quando se lhe afigura oportuno, nos locais em que pretenda e possa fazê-lo.

Cada maçom é, em suma, um homem livre, que assume e aceita e com naturalidade pratica que há um espaço - a Loja - em que convive e coopera com outros homens livres, que podem ter ideias diversas das suas, sem que tal cause quaisquer dificuldades de relacionamento. E assim a diversidade é, não causa de conflito, mas catalisador de riqueza e abertura de espírito, de constante e leal interação das ideias de todos com todos, cada um testando e avaliando a validade das suas, a força das suas convicções, cada um evoluindo em função da sadia análise das ideias e convicções dos outros.

Fora do espaço da Loja, cada um é livre de assumir as posições políticas que entenda, como entenda, quando entenda.

Por isso, e em suma, não há posições políticas da Maçonaria Regular, mas cada maçom regular é livre de tomar e assumir e divulgar as posições e convicções e escolhas políticas que muito bem entenda. Que serão sempre suas e só suas e só a ele vinculam.

Rui Bandeira

10 março 2010

Intolerância

Airton da Fonseca, maçom e editor do Novo Blog do Ferra Mula, escreveu, em comentário ao texto "Ansiedade":


Muito se escreve sobre a Tolerância. Gostaria muito que o Ir.'. fizesse uma peça de arquitetura sobre a Intolerância. É sabido que a Tolerância é uma virtude que deve ser praticada pelos IIr.'., mas me parece que do ponto de vista global, a intolerância é o mal do século que se findou e continua mais evidente em nossos dias.

Correspondendo ao pedido, o tema de hoje é, então, a Intolerância.

À primeira vista, intolerância é o oposto de tolerância, virtude que, como muito bem acentua Airton da Fonseca, deve ser praticada pelos maçons. Bastaria então definir esta para, por oposição, nos depararmos com aquela.

Este caminho é tentador. Recordo-me de uma frase que bastas vezes ouvi a Fernando Teixeira, Grão-Mestre Fundador: "O limite da Tolerância é a estupidez". Portanto, se a estupidez está fora da tolerância, aí temos: a Intolerância não será, então, mais do que uma estupidez!

O que apetece declarar ser uma grande verdade!

Mas, por muito tentador que seja proclamar isto, uma mais atenta meditação permite-nos apreender que, em bom rigor, o oposto da Tolerância não é a Intolerância, é o Preconceito.

O tolerante renega, rejeita o preconceito. O preconceituoso, esse, não está disponível para tolerar a diferença, o que considera erro ou o que vê como inferior.

Há mais de três anos, aqui no blogue, o José Ruah e eu mantivemos uma não totalmente desinteressante polémica sobre o conceito de Tolerância. Quem não a leu, ou dela não se recorda, poderá através do marcador "Tolerância", localizar os doze textos em que essa troca de opiniões se desenvolveu, publicados entre 16 de novembro de 2006 e 16 de janeiro de 2007.

O ponto de partida da controvérsia foi o entendimento do José Ruah de que a tolerância pressupõe uma posição de superioridade (moral, social, pessoal, conceptual, o que se quiser) do tolerante em relação ao tolerado, ao que eu contrapus o meu entendimento da igualdade essencial de planos entre ambos, no verdadeiro conceito de Tolerância.

Recordo aqui esta troca de opiniões, porque precisamente entendo que é o Preconceituoso que se pretende colocar numa posição de superioridade, não o Tolerante que nela se coloca.

Curiosamente, não me parece que essa seja, necessariamente (pode sê-la, mas não o é necessariamente) a posição do Intolerante. Este, em relação ao objeto da sua Intolerância, não se arroga necessariamente da condição de superioridade. Pode muito bem atribuir ao objeto da sua postura uma posição no mesmo plano da sua - ou pode mesmo reconhecer-lhe a prevalência - e precisamente por isso contra o objeto da sua Intolerância lutar.

Porque a Intolerância não é, nunca, conceptualmente, passiva. É sempre proativa, tendencialmente agressora, ou, pelo menos, agressivamente opositora.

A Intolerância não é, pois, a mera antinomia, oposição, à Tolerância. É bem mais do que isso, é um estado de espírito tendencialmente militante, diverso, suscetível de assumir múltiplas formas ou manifestações.

A Tolerância é sempre uma postura de ordem moral. A Intolerância não é necessariamente uma postura de que a Moral está arredada. Não se admire o leitor: não me enganei e quis mesmo escrever o que acabei de escrever! Esclarecerei porquê.

É que, ao contrário do que me parece que entende o Airton, não considero a Intolerância necessariamente um mal. Volte a leitor a não se admirar. Novamente quis escrever o que acabei de escrever. E repito: a Tolerância é sempre uma virtude, um bem; a Intolerância - ao contrário do Preconceito - nem sempre é um mal. Explico então, antes que o leitor conclua definitivamente que ensandeci de vez.

Considero-me uma pessoa tolerante. Esforço-me por sê-lo e por praticar esta virtude. Procuro banir o Preconceito da minha postura. Mas entendo - e julgo que todos também assim o entenderão - que há na Vida e no Mundo coisas e posturas e situações que não podem, não devem, ser toleradas. Em relação às quais não só podemos como devemos ser absoluta, completa e inamovivelmente INTOLERANTES.

Sou completamente INTOLERANTE em relação à pedofilia, à violação, à violência gratuita, ao abuso de poder, à opressão, aos maus-tratos dos mais fracos. Só para dar alguns exemplos e exemplos por todos pacificamente aceites.

Em termos morais, a Intolerância é, em si mesma, neutra. Não é necessariamente um mal ou um bem. Depende do seu objeto. Admito que muitas das intolerâncias com que nos deparamos são um mal. Mas são-no em função do seu objeto. A Intolerância religiosa, ou de cariz racial, ou derivada de preconceito social são obviamente más. Era certamente nisso que o Airton pensava quando escreveu o que acima se transcreveu. Mas são más EM FUNÇÃO DO SEU OBJETO, não porque intrinsecamente a intolerância seja necessariamente sempre má. Creio já ter acima elucidado convenientemente que há intolerâncias que, atento o caráter particularmente desprezível dos seus objetos, não são más - pelo contrário, são socialmente úteis e devem ser cultivadas por quem procura ser uma pessoa de bons costumes.

Portanto, e em conclusão: o oposto da Tolerância não é a Intolerância - é o Preconceito. Em termos morais, a Tolerância é boa, o Preconceito é mau, a Intolerância é neutra, sendo boa ou má consoante o objeto sobre que se manifeste.

Surpreendido?

Rui Bandeira

03 março 2010

Portugal e Áustria - ligações históricas entre os dois países, especialmente do ponto de vista maçónico

Como referi no texto publicado na semana passada, hoje procedo à publicação da prancha apresentada pelo Irmão E. C., da Loja Hippokrates, na reunião daquela Loja em que uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues efetuou uma visita àquela Loja.

Sabemos que alguns dos leitores deste blogue não dominam o inglês e preferem sempre que publiquemos aqui apenas textos em português. Mas, por vezes, justificam-se exceções - e este é um desses casos. Trata-se de um trabalho feito por um Irmão estrangeiro propositadamente para ser apresentado para o dia em que estava programada a visita à sua Loja de Irmãos portugueses da Loja Mestre Affonso Domingues. Ficámos, é óbvio, muito sensibilizados. E uma forma de manifestar o nosso agrado é publicar aqui o trabalho apresentado.


Portugal and Austria – historical links between the two countries especially in regard of Freemasonry

Portugal and Austria can be regarded as two countries in Europe which obviously differ in many aspects and in this way of course contribute to the rich diversity within the European Union. Drawing our attention to what we do have in common we can say that – nowadays – both countries are of rather similar dimensions concerning size and population: whereas within more than 92000km² of the parliamentary republic on the Iberian Peninsula more than ten million people are living, the federal republic in Central Europe is somewhat smaller, being inhabited by more than eight million inhabitants at nearly 84000km² of surface size.
Nevertheless our subject is of historical interest – which means we have to look backwards in history to examine commonness.

Alliances between Portugal and Austria

In spite of the fact that – as to the geographic distance – our two countries are far apart from each other, several situations occurred in the past at which Portugal and Austria had to deal with each other in some ways; at first it seems worthwhile to consider matrimonial alliances between the ruling houses of the Kingdom Portugal and the Austrian Empire. Such marriages were very common in Europe with its multitude of monarchies because they offered political advantages, even though the territories of the participating countries were at remote distance of each other. The Habsburg Family whose empire was in the centre of the continent was eager to build alliances with many European monarchies through marriages; in this way a dense network of familiar and political relationships developed in the whole of Europe – which means the confusion was perfect …
The probably first union of such characteristics between Portugal and Austria was concluded in the 15th century: it was the wedding of the Austrian Emperor Friedrich V (III) (1415 – 1493) with Infanta Leonor of Portugal (1436 – 1467); she then became the mother of one of the most important Austrian Emperors, Maximilian I, called “The last Knight”.
During the 16th century at least five alliances were concluded between the House of Habsburg and Portuguese Nobility; therefore it is not so easy to see through the complexities which were created in this way: these marriages mainly concern the so called “Spanish Line” of the Habsburg Family whose establisher Emperor Karl V (I) (1500 – 1558) married his first cousin, Infanta Isabella of Portugal (1503 – 1539) and who were a very happy married couple; their son Phillip II (1527 – 1598) became husband of Princess Infanta Maria Manuela of Portugal (1527 – 1545) and named as Phillip I was later the King of Portugal. Karl’s sister Infanta Eleonore of Castile (1498 – 1558) became the third wife of the Portuguese King Dom Manuel I (1469 – 1521); he was the father of Eleonore’s sister in law, the mentioned Isabella, while Eleonore at the same time was the niece of Dom Manuel’s first and second wives. Another child of Karl, Archduchess Johanna of Austria (1535 – 1573), was married to a Portuguese member of high nobility as well: Prince João Manuel of Portugal (1537 – 1554), her first cousin. A second sister of Karl, Archduchess Katharina of Austria (1507 – 1578), became the wife of King Dom João III of Portugal (1502 – 1557). At this point the confusion for the listener is too big to imagine all the relations; only an illustration could help.
The next important matrimony between Portugal and Austria was during the 18th century, when Archduchess Maria Anna of Austria (1683 – 1754) married her cousin King Dom João V of Portugal (1689 – 1750).
In the early 19th century, Archduchess Maria Leopoldine (1797 – 1826) became the wife of Dom Pedro I (1798 – 1834) who was the Emperor of Brazil and also King of Portugal for a bit more than two months. The Portuguese royal family had been living in Brazil in exile for ten years, as a result of the Napoleonic Wars. And a few generations later, the third wife of Archduke Karl Ludwig of Austria (1833 – 1896) was Portuguese as well, the Infanta Maria Theresa of Portugal (1855 – 1944) who died here in Vienna during the Second World War.


Sebastião José de Carvalho e Melo

Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras and Marquês de Pombal – the name under which he is known – was born on the 13th of May 1699 in Lisbon as son of Manuel de Carvalho e Ataíde and Teresa Luísa de Mendonça e Melo. After his studies at the famous University of Coimbra which – having been founded 1290 – is one of the oldest universities in the world, he was sent to London in 1738 as Portuguese Ambassador and after seven years went to Vienna having been entrusted by King Dom João V with the same function. It was here that Sebastião José de Carvalho e Melo got married to Leonore Ernestina Gräfin von Daun, the daughter of the Austrian Field Marshall Leopold Josef Graf von Daun in December 1745; the wedding had been made possible after the intervention of the Portuguese Queen, Maria Ana de Áustria. King Dom João V called him back to Lisbon; his son and successor Dom José I appreciated him so much that he was appointed Minister of Foreign Affaires and later even Prime Minister.
The 1st of November 1755 for sure was the most tremendous day ever for Lisbon and probably one of the most significant days in the life of Sebastião José de Carvalho e Melo: having survived luckily he immediately organized help for the people who had survived as well as the burying of the victims. Thanks to his efforts there were no epidemics in the city which in the course of the earthquake had suffered fires and a tsunami. To rebuild of a main part of the city new technologies for construction of earthquake-proof buildings were invented and tried for the first time. Dom José I – not being interested in political matters – gave him plenty of freedom for his official functions so that under this aspect Sebastião José de Carvalho e Melo can be regarded as the actual ruler of Portugal in the middle of the 18th century; the so-called Pombaline Reforms represent the enlightenment in Portugal and affected not only Lisbon’s renewal and modernization, but also the position of the Church in Portugal, especially the problems which had been caused by the Jesuits who continued to preach that the earthquake had been God’s punishment for the previous reforms. Furthermore he abolished slavery in Portugal and India, though not in Brazil, where the position of the native population was defined; he reorganized the Portuguese Army and Navy, and even regulated production and trade of Port Wine by law.
For his merits Sebastião José de Carvalho e Melo received the title of Conde de Oeiras in 1759 and was made Marquês de Pombal in 1770 though the high Portuguese Nobility refused to accept the noble titles of Marquês de Pombal; shortly after the King’s death in 1777 the succeeding sovereign withdrew all power from the Marquis who died on the 8th of May 1782 peacefully in Pombal.


Gomes Freire de Andrade

Gomes Freire de Andrade was born in Vienna on the 27th of January 1757 as son of António Ambrósio Freire de Andrade e Castro, Ambassador of Portugal to the Austrian Court and Elisabeth Countess von Schaffgotsch who was descendant from an old and distinguished family of Bohemia.
His father – who had been a great supplier of Marquês de Pombal in the arduous campaign against the Jesuits in Portugal – sent Gomes Freire de Andrade at the age of with 24 years to his actual home country, to Portugal; it is said that Gomes Freire de Andrade already by then had achieved the rank of commander in the Order of Knights of Christ – which means that he had joined the Order in Vienna. His military career began in 1782 and developed very well, taking him around quite a lot. As he received permission to serve in the army of Tsarina Catherine II in the war against Turkey he left for Russia where he gained greatest sympathy at court, especially with the Empress herself. Having been very successful in battles he was awarded in 1790 by Catherine and was promoted to the rank of a colonel which was confirmed in the Portuguese army – even though he was absent in Portugal. By the time rumours of sympathy and enthusiasm of the Tsarina towards Gomes Freire de Andrade came up, apparently confirmed by the dissensions between him and Prince Potemkin who had been her favourite. Back to Portugal his life in battle continued when in 1793 he fought with his regiment in Catalonia with the Spanish armed forces against the French Army which constantly received reinforcements and finally won in the following year. The so-called “Légion Portugaise” was integrated to the French Army under its General Junot in 1808, had garrison in Grenoble and even participated in the Russian campaign. But the task Gomes Freire de Andrade was given by Napoleon in 1813 was just to be the Governor of Dresden in this period.
After the defeat of Napoleon, Freire de Andrade again returned to Portugal in 1815, where he was made a Lieutenant-General and – became the Grand Master of Freemasonry in Portugal a year later.
As there were suspicions that Gomes Freire de Andrade had been a leader in a conspiracy against the King Dom João VI he was betrayed – according to the facts by three Portuguese masons – and arrested. It was Gomes Freire’s position as grand master of the Portuguese Freemasonry and his correspondence with masons in other countries which gave him the appearance of being an arch-conspirator. Many of the conspirators had been masons and their secret meetings seem to have been partly disguised by carrying out Masonic rituals. A day before his execution a British officer who was a freemason offered to him the opportunity to escape which he refused and so his execution took place on the 18th of October 1817 in the fortress Julião da Barra in Oeiras for the crime of treason along with eleven other people. His body was burned and the ashes were thrown into the Tejo River. This brutal act, for which the commander of the British Army in Portugal, Lord Beresford, was responsible, led to loud protests and intensified anti-British tendencies in Portugal, having the Porto Revolution and the fall of Beresford in 1820 as a consequence. Under this aspect Gomes Freire de Andrade could be regarded as the first great martyr of Portugal.

Prancha do Irmão E.·. C.·. da Loja Hippokrates, aqui publicada por

Rui Bandeira

24 fevereiro 2010

Visita à Loja Hippokrates


Uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues, na qual se incluíram o JPSetúbal e eu próprio, efetuou, na passada semana, uma visita à Loja Hippokrates, da Grande Loja da Áustria, que reúne ao Oriente de Viena.

A Loja Hippokrates foi fundada em 1993. Como o seu nome indica, o seu grupo fundador tinha uma grande prevalência de médicos. Hoje, está diluída essa prevalência. Uma parte dos seus membros são médicos, mas a Loja tem, presentemente, maçons exercendo as mais variadas profissões, ostentando a diversidade que, em Maçonaria, é uma riqueza.

A Loja Mestre Affonso Domingues e a Loja Hippokrates geminaram-se em maio do ano passado e um dos pontos do convénio de geminação respeita precisamente à promoção de visitas mútuas entre os obreiros das duas Lojas.

A Loja Hippokrates trabalha o Rito de Schröder, um rito praticado essencialmente nos países de língua alemã, de que reconheci elementos dos ritos de York e Escocês Antigo e Aceite, mas que, essencialmente, é um rito muito prático, simplificado e de rápida execução. A eficiência germânica...

A Loja Hippokrates reúne semanalmente, às segundas-feiras. As suas reuniões são rápidas - cerca de uma hora de duração - e são seguidas de um ágape, servido numa sala reservada para o efeito no edifício-sede da Grande Loja da Áustria. Por regra, em todas as reuniões é apresentada uma prancha, que é seguidamente discutida no ágape.

Em face da nossa visita, os nossos anfitriões tiveram a cortesia de efetuar algumas alterações no seu procedimento habitual. Apenas a abertura e o encerramento dos trabalhos rituais decorreram em alemão. Todo o resto da reunião decorreu em inglês, de forma a facilitar a comunicação entre anfitriões e visitantes. Também no ágape a língua preferencial de comunicação foi o inglês.

O debate, no ágape, acabou por não incidir sobre a prancha apresentada pelo Irmão E. C., austríaco casado com uma portuguesa, dedicada ao tema das relações históricas entre a Áustria e Portugal. A curiosidade dos nossos Irmãos austríacos sobre a Maçonaria Regular em Portugal e a forma como trabalha sobrepôs-se e o debate no ágape acabou por revestir a forma de respostas dos visitantes a perguntas dos Irmãos austríacos, satisfazendo o legítimo interesse destes em conhecer melhor a forma como se trabalha por cá.

Foi uma agradável visita, em que fomos recebidos de forma inexcedível pelos nossos Irmãos da Loja Hippokrates.

Na próxima semana, publicarei aqui a prancha lida na ocasião pelo Irmão E. C..

Uma última nota, a propósito da interrogação deixada pelo JPSetúbal no seu último texto aqui no blogue: o "M" que, em terras de língua germânica, em tempos se colocava entre o esquadro e o compasso era a inicial de "Maurerei", ou seja, Maçonaria. Nestas coisas, os alemães, cultores da filosofia e com uma língua especialmente adequada para a especulação filosófica, não facilitam, nem suscitam dúvidas ou confusões... Assim, onde os anglo-saxónicos punham o "G" de Geometria (que, nos tempos da maçonaria operativa, era um termo sinónimo de Maçonaria, como tive oportunidade de referir nos comentários à Lenda do Ofício), os germanos foram diretamente ao assunto e colocaram o "M" e não se fala mais nisso... Nos dias de hoje, nos países de língua germânica, deixou de, por regra, se incluir qualquer letra no símbolo maçónico por excelência: ou simplesmente se representa o esquadro e o compasso, como se pode verificar no sítio na Internet da Grande Loja Unida da Alemanha, ou se coloca entre ambas as peças um fio de prumo, como se pode ver no símbolo do sítio da Grande Loja da Áustria.

Rui Bandeira

20 fevereiro 2010

“M” ?


Como anunciei no final do meu último post, naquela altura fui mesmo fazer a mala para uma visita aos nossos Irmãos vienenses.
Fomos e viemos (o Rui também, mas não só), com boas viagens embora cansativas (mais chatas que cansativas) por não serem voos diretos.
A temperatura máxima de 0 (ZERO, MÁXIMA...) graus que encontramos e o pouco tempo disponível não foram de molde a incentivar grandes devaneios turísticos pelo que nos tivemos de concentrar em meia dúzia de pontos centrais da Viena, e sendo assim uma visita compreensivelmente inevitável seria sempre a casa de Mozart.
Deixarei a história da visita à nossa Loja Irmã Hipokrates para o Rui, se ele entender que deve trazer para aqui detalhes dessa visita.
Eu limitar-me-ei a trazer duas imagens, históricas para a Maçonaria universal (os objetos representados, não as imagens !) que mostram paramentos que pertenceram a Mozart.
Chamou-nos particularmente a atenção o facto de haver um “M” no local onde sempre temos visto um “G”.
Se virem com atenção, no colar da 1ª foto consegue ver-se claramento o "M" no espaço entre o Compasso e o Esquadro e, que saibamos, Geometria não se escreve com "M".
Nem em "vianês"...
A razão, que tentàmos descobrir, acabou não ficando clara deixando a ideia que seria possivelmente uma demonstração de algum narcisismo mozartiano.

Este “M” é tipicamente um caso a tentar perceber a seguir.
Bom, não é um vídeo esta semana, mas são imagens que possivelmente nem todos conhecem e o que me interessa é a divulgação do que é interessante.
Bom fim de semana.
JPSetúbal






17 fevereiro 2010

Ansiedade


Um nosso leitor "brasileiro, nascido no Estado de São Paulo" contactou-me pedindo que escrevesse algo sobre o tema da ansiedade.

Não é propriamente um tema diretamente relacionado com a Maçonaria e só marginalmente poderá ser associado a ela - abaixo procurarei mostrar como.. Mas o pedido foi formulado de forma tão simpática e tão eloquentemente fundamentado, que não posso deixar de a ele corresponder.

Vejamos então o que a um maçom se oferece escrever sobre a ansiedade...

A ansiedade não é um defeito - é um estado de espírito que a todos pode acometer - e seguramente que a todos já acometeu. Em bom rigor, tal como o medo é uma arma que a natureza nos confere em prol da nossa preservação e segurança, a ansiedade é uma munição posta à nossa disposição para aguçar o nosso espírito, prepararmo-nos para o que aguardamos que venha aí. Em si mesma, a ansiedade não é boa, nem má - é um facto da vida.

Porém, a ansiedade excessiva ou injustificada, essa sim, é um problema que devemos aprender a ultrapassar e a dominar.

Muitas vezes confunde-se ansiedade com impaciência. São semelhantes - mas diferentes. A impaciência desespera da espera. A ansiedade não decorre propriamente da espera, mas do desejo - ou temor - do que se aguarda que aí venha. Passa por cima da espera para se fixar diretamente no que se aguarda esteja para além dela.

Salvo quando patológica ou injustificada, a ansiedade é natural e boa: prepara-nos para o que aí vem. Sabendo-se que algo de novo (agradável, desagradável, ou simplesmente desconhecido) vai surgir, a ansiedade ajuda-nos a prepararmo-nos. Antevemos o momento feliz ou temido. Imaginamos e antecipamos como podemos reagir.

Muitas vezes também a ansiedade se enlaça e se confunde com o temor do desconhecido. Não se sabe se o que aí vem é bom ou mau, se nos fará felizes ou infelizes, se melhorará as nossas condições ou nos dificultará a vida. Mas uma e outro, ainda que possam coexistir, são diferentes: a ansiedade prepara-nos, alerta-nos; o temor do desconhecido apenas nos paralisa...

Na vida, temos muitas vezes que fazer opções sem que tenhamos todos os dados disponíveis. Temos que assumir riscos. Que, por muito calculados que sejam, continuam a ser riscos... Ainda que as probabilidades de uma opção ter um resultado favorável sejam de 99 %, isso não é propriamente um grande conforto para aquele que acaba por se deparar com a ocorrência do 1 % restante...

Aquele que experiencia alguma ansiedade pelo resultado da sua opção, se for só isso e se for na medida certa, utiliza esse seu estado para se preparar para aproveitar o que de bom ocorra ou para minimizar o que de indesejado suceda. Aquele que se queda pelo temor, pela indecisão, pela paralisia, enquanto não vê o resultado da sua opção, nada está a influenciar no seu destino: limita-se a suportar o que a sorte ou as circunstâncias lhe vierem a colocar no seu caminho.

Também por vezes erradamente se designa por ansiedade o estado em que a pessoa se encontra quando tem de escolher entre duas opções, dois caminhos, duas ações. Isso não é ansiedade - é indecisão. E a indecisão ultrapassa-se... decidindo! Decidindo o melhor possível, em face dos elementos disponíveis. E, uma vez lançados os dados (alea jacta est, frase célebre atribuída a Júlio César), então, sim, pode-se ficar ansioso e porventura será bom que se fique ansioso: a opção foi feita, cumpre-nos prepararmo-nos o melhor possível para a consequência - boa ou má - que resultar da nossa escolha.

Em Maçonaria, aprendemos a gerir e a não confundir a positiva, desde que equilibrada, ansiedade, com a impaciência nem com a indecisão, nem com o temor do desconhecido. E o maçom aprende a fazê-lo... mesmo antes de o ser: o candidato à iniciação tem de aguardar algum tempo, por vezes bastante, outras vezes muito, algumas outras muitíssimo, até saber a decisão sobre a sua candidatura.

Tomada a decisão de pedir a iniciação, já não é a indecisão que o assalta. Não deve ser a impaciência a aguilhoar o seu espírito: não ganha nada com isso, não depende dele... Também não se justifica qualquer temor, embora desconheça o que aí vem - é-lhe garantido que nada do que aí vier porá em causa a sua segurança ou dignidade ou convicções. No entanto, durante todo o tempo de espera, a ansiedade está lá - e é bom que esteja: alerta-o para melhor viver o que virá a viver, desperta-o para melhor aprender o que virá a aprender, prepara-o para melhor fruir o que virá a fruir.

Na Maçonaria, como na vida, a ansiedade não é para ser evitada, nem lamentada: é para ser dominada e aproveitada!

Rui Bandeira

13 fevereiro 2010

Dançar, dançar, dançar...

A vontade de exercer uma atividade, qualquer que seja, se for realmente forte é meio caminho andado para obtenção de exito no exercício dessa mesma atividade.
Nunca tive a mais ténue habilidade para a dança, arte que considero destinada a raros privilegiados da condição humana, mas não perco a visão de uma boa dança sempre que possível.
Sempre me intrigou a capacidade de, através de movimentos do corpo, se ser capaz de contar uma história, ainda que simples.
E algumas não são simples.
É uma maneira superior de transmitir os sentimentos, só acessível realmente, a eleitos.
Este é um pequeníssimo e modestíssimo introito ao videozinho de hoje.
A força interior, o querer, o gostar muito (mas mesmo muito) são capazes de fazer milagres e aqui vai um belo exemplo disso mesmo.



Pronto, tenho que ir fechar a mala para a visita que faremos este fim de semana prolongado aos nossos Irmãos Vienenses (Respeitável Loja Hipokrates)

Bom fim de semana para todos.

JPSetúbal

10 fevereiro 2010

Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198

A Augusta e Respeitável Loja Simbólica Duque de Caxias IX, n.º 2198, ao Oriente de Belém do Pará, filiada no Grande Oriente do Estado do Pará, integrado no Grande Oriente do Brasil, e que trabalha o Rito de York, iniciou, em 23 de julho de 2009, o seu blogue.

Proclamava o seu primeiro texto, à guisa de declaração de princípios:

O nosso blog inicia em fase experimental, de aprendizagem total, na qual esperamos contar com a participação e colaboração efetiva dos valorosos Irmãos do quadro de Obreiros da Loja, bem como, de todos os ilustres Irmãos iniciados na Sublime Ordem, através do e-mail: duque2198@gmail.com.
Assumimos a iniciativa e o desafio de criá-lo com o objetivo de disponibilizar um espaço destinado a divulgação das atividades realizadas em nossa Oficina e para proporcionar a socialização de assuntos voltados ao estudo e a pesquisa da infinita Sabedoria Maçônica, por meio da apresentação de postagens, além da discussão fraterna e do bom debate sobre assuntos relevantes da Maçonaria Universal, sempre com o compromisso de fortalecermos as Colunas e lutarmos pelo engrandecimento da Nação Brasileira, respeitando a legislação Maçônica vigente.


Desde então, mais de ano e meio decorrido, podem os Irmãos daquela ARLS estar tranquilos: o seu blogue atinge em pleno os objetivos pretendidos - e com distinção!

Mais de trezentos textos, informativos, divulgadores, de discussão, de análise, de aprofundamento, ilustram o sucesso do projeto.

Particularmente interessante e informativo é o conjunto de sete textos "Perguntas e respostas da Maçonaria. Esclarecedor - para maçons e para profanos!

Mas não só! Se se consultar, nos marcadores, a entrada "Artigos", somos direcionados para - na data em que escrevo - 28 textos muito interessantes e merecedores de reflexão.

Agrupados sob o título de "Minuto Maçônico", encontramos - para já - 67 textos curtos esclarecendo ou definindo vários conceitos ou termos maçónicos. Só para referir os últimos, ali se fica a saber um pouco mais sobre a régua, o compasso, o cinzel, o que é "a coberto" ou "estar a coberto".

No Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198, parte-se pedra com qualidade e apresenta-se uma bela pedra polida.

Nós, aqui no nosso A Partir Pedra, aprendemos com os nossos Irmãos desta Loja e deste blogue e - procuramos não ser egoístas... - aqui divulgamos, assinalamos e recomendamos mais um blogue maçónico, que merece estar incluído na lista dos favoritos de quem se interessa por esta temática.

Rui Bandeira

06 fevereiro 2010

exemplo (?) EXEMPLO (!!!)

Ora meus queridos Irmãos, Amigos e outros (os outros são poucos) volto à cena depois de umas semanas de retiro trabalhoso, que continua, mas este bocadinho hoje ninguém me tira.

Desde há algum tempo (alguns meses) tenho contactado na minha outra vida, a profana, com um "artista" cá da minha praça, que tem muito o hábito de utilizar a expressão:


- é preciso fazer um desenho ?


Compreende-se que é uma expressão bem desagradável, a entrar no grosseiro com a força toda e representando uma arrogância que não se atura.

Vem esta conversa a propósito de alguns dos escritos que por aqui vão aparecendo de quando em vez, que me parece que nem com desenho lá chegam.

Dei com um "desenho" que vos passo, e se por esta via ajudar os que não entendem de outra forma, fico contente.

A minha opinião é a de que, muitas vezes, um exemplo prático pode substituir uma biblioteca inteira de ciência teórica.


Ágape... não ? Bom, t'á certo.
Ritual... não ? Ok, fora.
Escola... também não ? Pronto, não há azar.


Como sabem fiz há poucos meses 69 anos (o Rui é muito seletivo nos seus segredos...).

Não é mau !
Mas... mas já o meu avô dizia que "a tropa é qu'induca e a bola é qu'instrói..."


Deixemos a tropa sossegada, mas vejamos a bola.
Façamos então esta tentativa.




Meus Amigões, uma abração a todos. Bom fim de semana.

JPSetúbal

03 fevereiro 2010

A escola


Uma Loja maçónica deve ser também uma escola. Uma escola diferente. Não propriamente um local onde se ensina matéria única para alunos múltiplos. Antes um meio de proporcionar a cada elemento, que é ÚNICO, porque diferente de todos os outros, os meios, o ambiente, a vontade, a orientação, para que ele apreenda (mais do que simplesmente aprenda...) os múltiplos ensinamentos éticos e morais que a vida nos ilustra e exige que um homem verdadeiramente de bem pratique.

A Loja maçónica é uma escola que não ensina. Pelo menos, nada ensina de novo. Ou nada que não possa ser aprendido noutros locais, noutras escolas, em livros, publicações, etc.. No entanto, é um lugar onde se aprende.

Aprende-se porque não se limita a ouvir uma palestra ou lição. Aprende-se porque se vivem as situações que demonstram ou sugerem os princípios ou ensinamentos éticos ou morais que se tornam patentes até perante os olhos mais distraídos.

Aprende-se porque não é exibido ou induzido um pensamento único, uma formatação, antes se facultam painéis de onde cada um retira elementos para que seja a sua própria inteligência, a sua própria vivência, a sua própria personalidade a formular o conceito, a integrar o pensamento.

Aprende-se - sempre! Mesmo quando se "ensina". Sobretudo então. Porque, ao apontar ao Aprendiz um símbolo, ao fornecer-lhe pistas para que ele o interprete, ao executar o ritual para evidenciar um dado ensinamento ético ou moral, o Mestre está, por sua vez, ele próprio a aprender.

Aprende-se com o auxílio dos Mestres. Mas estes também aprendem com o auxílio dos Aprendizes e Companheiros. Não há alunos e professores. Há iguais descobrindo em conjunto como cada um pode ser melhor.

Aprende-se, aprende-se mesmo, coisas novas, porque a maçonaria procura pôr em prática o ideal iluminista em relação ao conhecimento. E, portanto, todos sabem que, por muito que saibam, muito mais desconhecem e podem aprender. Cada um contribui com a sua área de conhecimento para ilustração dos demais. E assim todos podem aprender um pouco de (quase) tudo. E quanto mais diversificada for a Loja, mais se pode aprender.

Por isso, em Loja tanto valor tem o Professor Doutor como o operário ou o indiferenciado. Aquele proporciona ensinamentos a estes - mas também destes recolhe ensinamentos, que complementam a sua profunda formação.

Em Loja, cada um põe em comum o que sabe e retira do bolo comum o que precisa de saber, da forma como lhe dá jeito retirar, ao ritmo a que lhe é possível retirar. Por isso em Loja não há ideologias incensadas ou proscritas ou recomendadas, não há conceitos únicos ou favorecidos ou aconselhados. Há um meio, um espaço e um tempo para cada um se melhorar a si próprio, aprendendo com os demais o que tiver de aprender, seguindo os exemplos que entender dever seguir.

Em Loja, homens livres e de bons costumes cultivam a Liberdade e, em espírito de Igualdade, Fraternalmente cooperam, no sentido de todos e cada um, permanecerem livres, em si mesmos e de preconceitos e de vícios, e sejam cada vez de melhores costumes.

Na escola que é a Loja maçónica, aprende-se e ajuda-se os outros a aprender. Mas - sobretudo! - vive-se!

Rui Bandeira

27 janeiro 2010

O ágape


Este tema já foi objeto de um texto aqui no blogue, nos idos de setembro de 2006. A estrutura de um blogue tem a desvantagem de sepultar nas profundezas dos índices os textos que vão ficando antigos - e, na voracidade do tempo que é apanágio da Sociedade de Informação, o mês passado já é tempo antigo, o ano transato já cheira a antiguidade remota... Pouco terei a acrescentar ao texto atrás referido, mas parece-me valer a pena retomar o tema e relembrar para que serve e o que significa, para os maçons, o ágape.

O ágape é a refeição que os maçons partilham logo após (de preferência) ou imediatamente antes (se assim tiver de ser) de uma reunião de Loja. É considerado a extensão dos trabalhos da Loja. Destina-se a aprofundar os laços de amizade e fraternidade entre os elementos que compõem a Loja e a debater assuntos de interesse comum, num ambiente mais descontraído e informal do que os trabalhos rituais.

Em termos de formalismo, o ágape pode ser ritual, formal com libações ou informal.

O ágape ritual processa-se com a execução de um ritual próprio, similar ao ritual dos trabalhos em Loja, com abertura, encerramento e outros momentos próprios do trabalho em Loja.

Este tipo de ágape só ocasionalmente ocorre. As condições logísticas, temporais e anímicas necessárias para um ágape deste tipo são estritas e de difícil verificação. Para garantir a sua simultânea existência, é necessário que a Loja antecipadamente deseje, programe e organize um ágape desse género. É necessário garantir um espaço adequado, exclusivamente destinado aos intervenientes no ágape. Estes terão, obrigatoriamente, de ser maçons, não sendo admitida a presença, ainda que ocasional ou por curto período, de profanos. Isto implica que o ágape decorra, ou nas instalações da Loja, ou em local cedido para acesso reservado exclusivamente para os maçons participantes. Implica também que os mantimentos a consumir sejam preparados pelos próprios maçons, na hora ou pouco antes, ou que sejam encomendados e recebidos já preparados antes de se iniciar o ágape. Implica a disponibilidade de todo o equipamento necessário para uma refeição de um considerável número de comensais: mesa de tamanho adequado, cadeiras, toalhas, pratos, copos, talheres, guardanapos, etc.. Implica prévia organização de como decorre o repasto: quem faz o quê, quando e como. Enfim, é um tipo de ágape que não é prático nem fácil organizar rotineiramente - e que, portanto, só ocorre extraordinariamente, seja para celebrar algo, seja para permitir aos seus participantes a experiência de um ágape inteiramente ritual.

Acresce ainda que, saídos de uma reunião com ritual, não apetece propriamente passar a uma refeição... igualmente ritual, com óbvia proscrição da informalidade e diminuição da descontração...

O Antigo Grão-Mestre e Grão-Mestre ad vitam da G.·. L.·. L.·. P.·./G.·. L.·. R.·. P.·. Luís Nandin de Carvalho elaborou, em 2002, adaptado de vários rituais de tradição oral, portugueses e franceses, um ritual de ágape que, segundo creio, nunca chegou a ser formalmente adotado pela Obediência, mas que é detido por várias Lojas, que o poderão, quando desejarem, executar.

O ágape formal com libações não é ritualizado, exceto quanto a estas, mas seguem-se tradicionalmente algumas regras, designadamente quanto à posição na mesa do Venerável Mestre (e, quando possível, também dos Vigilantes), quanto à invocação inicial e mais um ou outro aspeto, variável de Loja para Loja. As libações, isto é, os brindes, são obrigatoriamente no mínimo de sete e ocorrem segundo uma ordem determinada. Este tipo de ágape pode ocorrer apenas com a presença de maçons ou também como ágape branco, isto é, com a presença de profanos.

Finalmente, o ágape absolutamente informal destina-se essencialmente ao convívio. Não ocorrem libações. É o ágape possível quando apenas se tem disponível um local público, não exclusivamente utilizado pelos maçons presentes.

Havendo condições para tal (local e tempo), pode e deve providenciar-se para que, integrado no ágape, ocorra um debate sobre qualquer tema, maçónico ou profano, ou a apresentação de uma prancha, igualmente de cariz maçónico ou profano. Obviamente que o debate ou apresentação de tema de cariz maçónico só ocorre em ágapes em que estão exclusivamente presentes maçons. Já os debates ou apresentações de temas profanos podem ocorrer em ágapes de maçons ou ágapes brancos.

Podem ser convidados profanos a proferir uma comunicação ou a intervir num debate, em ágape branco, em regra sobre temas profanos da especialidade do convidado. Pode também ocorrer que esse convidado, profano, conferencie sobre um tema de interesse maçónico - do ponto de vista do profano.

As intervenções nos ágapes são abertas a todos - isto é, não vigora no ágape a regra do silêncio de Aprendizes e Companheiros. O ágape funciona, assim, como meio importante da integração dos Aprendizes na Loja e reforço dessa integração, quanto aos Companheiros.

Rui Bandeira

20 janeiro 2010

Amigos como os de infância


O grupo de maçons conversava descontraidamente. A reunião formal terminara, a refeição que se lhe seguira também já fora apreciada por todos. A conversa fluía com naturalidade. Embora partindo do tema que iniciara o debate, cada um ia-se afastando dele, ao sabor do curso dos seus pensamentos. Era um grupo de amigos que conversava. Como qualquer outro grupo de amigos. Talvez a mais notável diferença fosse que não havia ruído de fundo de conversas cruzadas. Mesmo em descontração, aquele grupo de maçons praticava a regra de que falava um de cada vez, para todo o grupo, e cada um aguardava a sua vez de dar a sua opinião.

Rapidamente a conversa derivou para o significado que aquele grupo, a Loja, tinha para cada um. O que cada um esperava. Do que cada um pretendia que fosse, que fizesse.

Cada intervenção era diferente da anterior. Mesmo quando concordando com o que já fora dito, acrescentava-se sempre algo de novo, alguma subtileza, uma nuance, um elemento, que tornava diferente o que se declarava similar. Nada de extraordinário naquele grupo. Há muito que era assim e assim se forjara a sua identidade. Os novos que se juntavam aos que já estavam depressa aprendiam como o grupo funcionava. Era através da apresentação sucessiva de opiniões, posições, sugestões, nunca completamente coincidentes, às vezes diversas e aparentemente inconciliáveis, que, lentamente, naturalmente, sem esforço, emergia a síntese que todos acabavam por adotar como a posição comum, por todos aceite e respeitada. Às vezes não era fácil. Às vezes durava mais tempo. Às vezes implicava duas, três, quatro, as conversas que fossem necessárias. Mas, mais tarde ou mais cedo, sempre a tal posição comummente adotada acabava por emergir.

A conversa espraiou-se por um tema que não era novo. Os mais antigos no grupo sabiam que era ciclicamente abordado e renovado. Era natural. O grupo alterava-se, renovava-se, havia sempre novos elementos que nunca tinham abordado a questão. O tema era o que fazer com o grupo. E, como sempre, derivava-se sempre para as expectativas de cada um...

Um preferia o convívio. Outro apreciava mais o ritual. Um terceiro dava muita importância à beneficência. Outro ainda gostava mesmo era da apresentação de trabalhos. Houve mesmo outro que declarou, enfaticamente, que o que buscava era que fossem contraditadas as suas ideias feitas, de forma a poder continuamente testar o seu pensamento e, assim, verificar quando devia mudar de opinião. Um outro ainda, não menos enfaticamente, esclarecia que considerava uma maçada as reuniões em que não aprendia nada novo. Mas, no entanto, logo acrescentava que, mesmo quando sabia que havia reuniões em que não aprendia nada de novo, e que ele ia achar uma maçada, ainda assim gostava de ir e... não sabia como, também essas acabavam por lhe ser úteis.

E assim iam conversando, como alguns deles e outros assim mesmo tinham conversado antes, e outros antes deles... Nada de especialmente novo, pensava o velho maçom, sabendo, esperando que, como sempre, algo de diferente acabasse por surgir, como frequentemente acabava por suceder.

Foi então que um deles, pessoa de palavras não muito complicadas, mais de fazer do que de falar, chegada a sua vez, disse que o que ia dizer tinha-o ouvido a outro membro do grupo, naquele dia não presente, mas que era isso mesmo o que sentia.

E disse então: a Loja é aquele sítio onde podemos ter amigos como os de infância.

O velho maçom recostou-se na cadeira em que se sentava e sorriu interiormente: a síntese daquela noite fora encontrada!

Tinha e tem toda a razão aquele maçom não especialmente dotado para a palavra, mas que expressou a ideia melhor que os melhores oradores. É precisamente isso que é uma Loja maçónica que se preza de o ser: um local onde podemos encontrar amigos como os da infância, um bem precioso de que a vida e as preocupações da idade adulta geralmente nos privam de ir renovando. Amigos como os da infância normalmente só na infância se fazem - e essa é uma das razões por que esse período da vida é recordado frequentemente com nostalgia... Passada a infância, podem fazer-se amigos, fazem-se amigos, mas, em bom rigor, essas novas amizades dificilmente têm a mesma pureza, o mesmo desinteresse, a mesma naturalidade, das amizades de infância.

Mas, lembrou-o com acerto aquele maçom, e já o tinha notado o outro maçom que ele citara, ali, na Loja, descobria-se um local onde, afinal, se podia ter amigos como os de infância.

E esta é parte importante e imprescindível da essência da Maçonaria.

A próxima vez que um profano me perguntar o que faz afinal um grupo de homens adultos reunir-se frequentemente, tirando tempo à sua família, aos seus afazeres, ao seu descanso, já sei finalmente como lhe posso responder, para que entenda: reunimo-nos em Loja, gostamos de o fazer, porque aquele é um local onde podemos ter amigos como os de infância - e isso é raro, muito raro, e precioso!

Rui Bandeira

16 janeiro 2010

Entrar bem o ano

Porque Vocês merecem... Magnífico este slogan.

Ainda por cima verdadeiro, neste caso !

Pois porque Vocês merecem aqui Vos deixo mais um "boneco" da Cristina Sampaio que ela quiz ter a simpatia de me mandar... com os votos de um bom Ano Novo.

A Cristina, como todos os que seguem a sua arte bem sabem (no Expresso e no Público é raro falhar um exemplar), tem uma visão muito crítica da sociedade e não esconde, bem pelo contrário, nos desenhos que faz.

Este é só mais um acerca do qual não vou tecer qualquer comentário, mais ainda porque correria o risco de adulterar o espírito que queremos que se mantenha neste espaço de formação e informação.
Assim fiquem simplesmente com este "polvinho" assaz atrapalhado para cumprir o ritual.


E tenham um bom fim de semana, sem copos excessivos e com os pés (todos os possiveis) bem assentes no chão.
JPSetúbal

13 janeiro 2010

O décimo oitavo Venerável Mestre


O décimo oitavo Venerável Mestre exerceu funções entre o segundo sábado de setembro de 2007 e idêntico dia de 2008. Dispensa aqui apresentações, pois é bem conhecido dos leitores deste blogue, de que é fundador. O décimo oitavo Venerável Mestre foi o nosso bem conhecido, e atual "animador" de fim de semana do blogue, JPSetúbal.

JPSetúbal é - e já era, na altura em que exerceu o ofício de Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues - o reformado mais ocupado que conheço. Ele são os netos, ele são as instituições de solidariedade que apoia, ele são as reparações de material informático, ele é o sítio de informação regional, ele é a televisão de informação regional (agora já são duas), ele é o tempo que dedica aos amigos, conhecidos, companheiros, colegas e ex-colegas, ele é o tempo que dedica à família (sempre pouco, no dizer da sua permanentemente insatisfeita cara-metade.... como a minha diz de mim... são feitios...), enfim, ele fica com pouco tempo até para se coçar...

Mas, como todas as pessoas atarefadas, o JPSetúbal lá arranjou ainda tempo para encaixar na sua vida mais uma responsabilidade: dirigir, durante um ano, a Loja Mestre Affonso Domingues. Recebeu a Loja organizada, como referi no texto sobre o seu antecessor, e iniciou o seu mandato com evidente entusiasmo, logo apresentando o seu Quadro de Oficiais e o seu plano das atividades previstas (hábitos de gestor, que não se perdem com a reforma...).

A Loja recebeu o seu décimo oitavo Venerável Mestre com indisfarçada expectativa e esperança de mais um ano bonançoso. O JPSetúbal era, e é, um obreiro muito querido e considerado da Loja Mestre Affonso Domingues. A sua bem disposta bonomia, a sua serena competência, o seu estilo calmo, ponderado e conciliador, enfim, o seu ar de "confortável avô", cativam todos os demais e predispõem para que todos correspondam aos seus pedidos e se enquadrem no cumprimento das tarefas por si organizadas.

E o ano foi, efetivamente, bonançoso... até certo ponto - que os imponderáveis espreitam sempre atrás da porta...

O JPSetúbal não propôs, nem preparou, nem organizou, nem executou, nenhuma grandiosa iniciativa. nem era isso que se propunha fazer - ou que tinha cabimento que fizesse. O JPSetúbal fez precisamente aquilo que dele se esperava que fizesse: a gestão calma, serena e normal de uma Loja maçónica em velocidade de cruzeiro, sem especiais problemas nem visíveis desequilíbrios relevantes, tomando o leme que o seu antecessor deixou entregue ao seu cuidado e conduzindo a Loja no seu normal caminho até chegar a altura de passar a direção da barca ao seu sucessor.

Assim, programou e executou o que, para a Loja Mestre Affonso Domingues, já é, felizmente, o trivial e sem história particular: as iniciações dos candidatos - que, na Loja Mestre Affonso Domingues, nunca faltam e, até, têm de ficar em "lista de espera", pois procuramos não exceder a nossa capacidade de acompanhamento e enquadramento de Aprendizes -, as passagens de grau dos que cumpriram com êxito a primeira parte do seu trabalho e da sua integração, as elevações dos que concluíram a sua fase de formação e estão prontos para a futura assunção de responsabilidades na Loja, as pranchas, a atividade administrativa e de representação da Loja, enfim, repito, o trivial...

Para além desse trivial, lembro-me que foi o JPSetúbal quem diligenciou a fabricação e obtenção do segundo exemplar do estandarte da Loja (já que o exemplar original foi objeto de uma apropriação privada por parte de um anónimo, externo e obviamente desconhecido colecionador - não sei se me faço entender...), quem organizou e dirigiu a participação na Loja Mestre Affonso Domingues na homenagem a Aristides de Sousa Mendes, organizada pela Loja que ostenta o seu nome, quem organizou e dirigiu mais uma sessão de dação de sangue (esta, afinal, está mal colocada: façam o favor de a considerar enfileirada no "trivial" - para nós, já o é), levou a cabo a formalização da geminação com a Respeitável Loja Rigor, ao Oriente de Bragança, teve o encargo e responsabilidade de realizar a intervenção de saudação ao Grão-Mestre e a todas as Lojas na sessão de Grande Loja do equinócio da primavera de 2008 - algo que, uma vez que só há quatro sessões de Grande Lojas por ano e porque tal compete por rotatividade entre as Lojas, não voltará a ocorrer senão daqui a muitos anos, se é que volte a suceder! - e programou, organizou e participou na visita da Loja gémea Fraternidade Atlântica à outra Loja gémea, a Rigor. Deixou preparada e pronta para execução a receção dos Irmãos da Fraternidade Atlântica em Lisboa.

Foi neste ponto do seu mandato que o imponderável exterior fez a sua aparição e condicionou fortemente a atividade do JPSetúbal. Precisamente quando se encontrava em Bragança, no encontro com a Fraternidade Atlântica e a Rigor, a sua cônjuge adoeceu, súbita e inesperadamente, com alguma gravidade. Teve de ser submetida a duas intervenções cirúrgicas em Bragança e de ali permanecer durante algum tempo. Obviamente que o JPSetúbal teve de fazer o que era simultaneamente seu dever e sua vontade: ficou em Bragança todo o tempo necessário, em ajuda e companhia da sua cônjuge.

Praticamente toda a parte útil restante do seu mandato teve de ser assegurada à distância. O que, obviamente, comprometeu os seus projetos para a parte final do seu mandato. Mas o que tem de ser tem muita força. E, pelo menos, resta a consolação de que o trabalho feito até que surgiu o impedimento foi profícuo e relevante. E que a Loja reagiu com naturalidade e sem problemas a mais esta, para si inédita, experiência, de ficar, durante um tempo não negligenciável, a ser dirigida à distância, em óbvios "serviços mínimos", sendo a ausência física do seu líder suprida pelos elementos que, nestes casos, têm de suprir essa ausência.

O previsível ano bonançoso teve, na sua parte final, esta pequena tormenta. Que serviu para a Loja testar e executar a sua capacidade de prosseguir o seu caminho normal, apesar da inesperada dificuldade, suprida pela forma como está estabelecido que seja suprida, sem problemas de maior. Enfim, mais uma experiência bem sucedida!

Fora da Loja Mestre Affonso Domingues não se deu pela ocorrência desta anormalidade. O que demonstra a preparação da Loja para lidar com estes imponderáveis que - aprendemo-lo à nossa custa! - podem surgir a qualquer tempo e sem pré-aviso.

Contas feitas, o mandato do JPSetúbal foi, afinal, um bom ano para a Loja. Apesar do imponderável surgido, JPSetúbal entregou ao seu sucessor uma Loja um pouco melhor, seguramente um pouco mais adulta, do que a que recebeu do seu antecessor. Essa maturidade acrescida veio a ser útil mais tarde...

Rui Bandeira

08 janeiro 2010

Máquina infernal...

Só pode mesmo ser uma máquina infernal, destinada a enlouquecer qualquer pobre afinador que tenha o arrojo de se meter a afinar esta... coisa.

Mais uma vez um amigão quis partilhar comigo, e eu convosco, uma curiosidade.

Desta vez trata-se de um objeto inqualificável para mim, mistura de instrumento musical, robot, realejo, número de circo, ... que alguém (não me disseram nada sobre a autoria da invenção) imaginou e realizou e que alguém (outro ou o mesmo) resolveu transmitir para a net.

Agora, mistério, mistério, então não é que toca música... mesmo ?

Para começar o ano com animação e imaginação.

A propósito desse tema ("começar o ano") tão espremido durante estes dias passados, apetece-me reafirmar que o estado do mundo em que vivemos e de que tanto todos se queixam, está dependente, exclusivamente, daquilo que os homens quiserem dele.

E até podemos pegar no exemplo do "instrumento" acima.

Porque razão havemos de ser tão complicados ?

Como diria o do anúncio, "se fosse mais simples também tocava, mas não seria a mesma coisa..."

Os homens e o seu mundo (quem se lembra do "D.Camilo e o seu pequeno mundo" ?) se fossem mais simples também existiriam... mas não seria a mesma coisa !

Pois claro. Seria bem melhor.

JPSetúbal

06 janeiro 2010

Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal


Basta consultar os textos do marcador "Blogues outros" para se verificar que aqui se está atento à "concorrência" e que, quando se encontra um blogue que entendemos que o justifica, o divulgamos através de um texto aqui no A Partir Pedra.

Hoje, é com indisfarçada satisfação que referencio aqui o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal (endereço: http://joaogoncalveszarco.blogspot.com/), que, de alguma forma, se inspira no A Partir Pedra mas que, certamente, fará o seu próprio caminho, diferente - porventura melhor... - que o nosso.

A R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues deu uma ajuda para o alçamento de colunas da R.·. L.·. João Gonçalves Zarco, ao Oriente do Funchal, acolhendo e preparando obreiros que iriam integrar esta Loja, aliás presentemente liderada por um antigo obreiro da R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues.

Não admira, assim, que alguns dos projetos iniciais desta nóvel - e visivelmente dinâmica - Loja se inspirem no que a R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues vem desenvolvendo - e, a partir dessa inspiração, desenvolvendo os seus próprios caminhos, buscando aperfeiçoar o modelo, expurgá-lo do que de menos bom tem, melhorá-lo.

Nesse sentido, enquanto o A Partir Pedra se anuncia a si próprio como o Blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal declara que Este blogue é feito pelos obreiros da R:. L:. João Gonçalves Zarco, n.º 71 da Grande Loja Legal de Portugal - GLRP, a Oriente do Funchal.

Um dos colaboradores do Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal é T.:. P.:., que, sob o pseudónimo por extenso de Templuum Petrus, já publicou alguns textos aqui.

Apontadas as semelhanças, anotem-se as diferenças. Desde logo, de imagem, tendo o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal optado pelo tradicional fundo negro de muitos dos blogues de temática maçónica. Mas, para além da "cosmética", é já possível notar-se, apesar da juventude do blogue (teve os primeiros textos publicados em 12 de novembro último) e do ainda reduzido (mas significativo, para menos de dois meses de publicação) número de textos (19, até ao final do ano de 2009), uma assinalável diferença - para melhor, frise-se - em relação ao nosso blogue: a participação de elementos daquela Respeitável Loja. Em 19 textos, descortinamos, pelo menos, seis autores (Zarco, Nadir, T.:. P.:., tes.:o.dias, RF e H:. T:.), o que é quase o mesmo número de autores de textos dos mais de mil já publicados aqui e, comparativamente à dimensão das respetivas Lojas, denota uma muito maior proporção de participação no Funchal do que em Lisboa...

No Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal publicam-se, segundo julgo perceber, pranchas ou sinopses de pranchas dos obreiros daquela Loja, ao contrário do que, com as inevitáveis exceções, tem sucedido aqui.

Estes dois aspetos - maior proporção de obreiros da Loja a participarem no blogue e publicação nele das pranchas ou sinopses de pranchas apresentadas em Loja - afiguram-se-me exemplos de dois caminhos diversos do que este blogue vem seguindo, com vantagem para os nossos Irmãos madeirenses.

Seguir o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal é uma maneira fácil de seguir e apreciar o trabalho dos maçons da, por enquanto única, Loja Regular na Madeira. Eu, por mim, já me inscrevi como seguidor...

E, claro!, este blogue passa a integrar a nossa lista de atalhos!

Assim a Maçonaria Regular portuguesa vai crescendo na blogosfera. Já vamos em três blogues, oriundos de localizações tão díspares como Lisboa, Madeira e Macau...

Rui Bandeira

30 dezembro 2009

E chega...


Encadeada com a festa do solstício de dezembro, o Hanukkah, o Natal, a Festa da Família, segue-se o período da comemoração do Ano Novo.

A necessidade de compartimentação do tempo, desde tempos imemoriais sentida pelos humanos, levou à criação dos calendários. A compartimentação do tempo não se fez ao acaso, antes seguiu e reproduziu o ciclo da vida na natureza, nos países temperados. Desde cedo que o bicho-homem se apercebeu que a natureza se repetia ciclicamente, que ao frio sucedia o calor, que o brotar das plantas, o seu florir, era seguido pelo crescimento dos frutos, que à colheita se seguia o tempo de pousio, em que nada crescia e a natureza parecia reservar um tempo para ganhar forças e tudo recomeçar.

Desde cedo que o bicho-homem se apercebeu do ciclo natural e da sua repetição. Um ano corresponde, assim, ao desenrolar dos processos desde o repouso da Natureza até novo repouso - ou, conforme as culturas, desde um florescer a outro, ou desde uma época de colheita a outra.

No calendário gregoriano que atualmente utilizamos, poucos dias após o solstício de dezembro, inverno no hemisfério norte, tem lugar o início do novo ciclo. O Sol reinicia o seu ciclo e, poucos dias depois, a Natureza começa a reemergir do Nada para a Vida, as plantas germinam, a seu tempo brotarão e crescerão, os animais preparam e efetuam o acasalamento, as crias nascerão e crescerão. Enfim, do Nada aparente a Vida brota e cresce, até ao seu declínio - e novo renascimento.

O Ano Novo simboliza para nós, humanos, o Recomeço. Um novo período que se inicia, que será genericamente semelhante ao que terminou, mas, como novo início que é, que cada um de nós espera "formatar" ao seu gosto, corrigindo o que de mal fez no período anterior, alterando o que mau resultado deu. Um novo começo, uma nova oportunidade! Uma nova corrida, uma nova viagem, dentro da Grande Viagem da nossa Vida.

No fundo, o que nós celebramos em cada Ano Novo é esta oportunidade de Recomeço, é a Esperança de que faremos ou conseguiremos mais e melhor neste novo período que se inicia, do que conseguimos no que termina.

Afinal, o que celebramos em cada Ano Novo é a nossa capacidade de nos reinventarmos, de sonhar, de construir e reconstruir, enfim, de fazermos o nosso próprio progresso e de corrigirmos os nossos erros e infelicidades.

Ao celebrarmos o Ano Novo, celebramos a nossa capacidade de FAZER, de CONSTRUIR, de PERSEVERAR.

No fim de contas, o que celebramos em cada Ano Novo é a Vida e a nossa capacidade de nela influirmos e de recuperarmos das nossas desilusões e fracassos, alçando os olhos para novos desafios e objetivos.

Celebremos, pois, o Novo Ano, enquanto indivíduos e enquanto espécie!

A todos desejo um próspero 2010!

Rui Bandeira

27 dezembro 2009

O BONECO

Meus Caros, o funcionário de serviço ao fim de semana chegou atrasado, culpa de um "gripalhado" (junção dos genes da gripe com o "atrapalhado") que me deixou um tanto às avessas durante dois dias.

E depois não sei como passariam o fim de semana completo sem esta intervenção sempre tão oportuna e valiosa... (digo eu... claro)
Certamente que poderiam passar o fim de semana sem mim... mas não seria a mesma coisa !
O Rui conta tudo direitinho quanto ao período que estamos a atravessar.
E neste período aquilo que mais se ouve falar é em auxílio, fraternidade, solidariedade, companhia, combate à solidão e não sei mais quantas coisas boas.

É bom que esta época festiva sirva para isso, já que passando este período tudo regressará invariavelmente ao isolamento cada vez maior em que cada ser humano se vai distanciando dos outros, num movimento que, se bem entendo o sentido de preservação da existência, é completamente contraditório.
Mas de facto aquilo que sinto é um egoísmo mesquinho, crescente, que nos isola e nos faz mandar às urtigas tudo o que significar "chatice".
Seria bom, seria desejável, que desta época ficassem sementes.
Isso significaria a esperança de que um dia pudessem germinar e trazer aos humanos um pouco de capacidade de aceitação das diferenças, porque é aí que bate o ponto.

Estou pessimista !

Entretanto a minha querida amiga Cristina Sampaio fez-me a surpresa de me enviar (e autorizar a publicar) um boneco daqueles...
A Cristina é uma renomadissíma caricaturista (cartonista como dizem os americanos) com vários prémios nacionais e internacionais ganhos com os magníficos traços que "rabisca" e nos quais consegue definir uma história completa em meia dúzia de traços.

Julgo que já trouxe ao blog um boneco dela quando ganhou o 1º prémio do World Press Cartoon em 2007.
Pois este ano a Cristina enviou-me mais um boneco "super" que passo a partilhar convosco... porque vocês merecem !
Sobre este desenho de "meia dúzia de traços" (repito) poder-se-ão escrever manuais inteiros sobre o comportamento humano e em particular dos portugueses.
A Cristina, sabe dizer isso tudo assim.
Um lápis e meio bico... não precisa de mais.

Desejo que tenham tido esta época com a alegria que é suposto ter e com a Paz que é desejável para todos.

Boas Festas e Excelente 2010.

JPSetúbal