30 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Euclides

Euclides

Chegados ao Egito, a Lenda do Ofício apresenta uma história tão desenvolvida e pormenorizada que bem merece uma autonomização como a Lenda de Euclides. Relembremo-la, tendo em consideração que imediatamente antes da passagem ora transcrita, se introduziu Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais:

E no seu tempo, sucedeu que o senhor e os nobres do reino tinham tido muitos filhos, alguns das suas mulheres, outros de outras senhoras do reino; porque aquela terra é uma terra quente e propícia a gerar. E eles não tinham encontrado modos de vida satisfatórios para os seus filhos, de que muito gostavam, e então o rei do país convocou um grande Conselho e Parlamento para decidir como poderiam encontrar um modo de vida honesto para os nobres seus filhos, e não conseguiram encontrar boa maneira. E então anunciaram por todo o reino que se houvesse algum homem que os informasse, então deveria comparecer perante eles e seria recompensado pelo seu trabalho, de forma a deixá-lo satisfeito.
Depois que este pregão foi feito, veio então o valoroso Euclides e disse para o rei e todos os seus nobres: "Se me entregarem os vossos filhos para que eu os governe e lhes ensine uma das sete ciências, de forma que eles possam viver honestamente como nobres, deverão dar-me a mim e a eles uma carta-patente, de que eu tenho o poder de lhes determinar o modo como essa ciência deve ser regulada." E o rei e o seu Conselho concederam-lhe isso e selaram a sua carta-patente. Então o valoroso Doutor levou consigo os filhos dos nobres e ensinou-lhes a ciência da aplicação da Geometria ao trabalho de construção em pedra de igrejas, templos, castelos e palácios; e deu-lhes Deveres da seguinte forma.
O primeiro era que deviam ser verdadeiros para o Rei e para o Senhor de quem dependiam. E que deveriam gostar de estar juntos, ser verdadeiros uns com os outros. E que deviam chamar-se uns aos outros Companheiro ou Irmão, não por servo, ou escravo, ou outros nomes tolos. E que deveriam merecer o salário pago pelo Senhor ou pelo Mestre que servissem. E que deveriam designar o mais sábio deles para Mestre do trabalho e não deixar que essa designação fosse afetada por linhagem, riqueza ou favor, pois então o senhor seria mal servido e eles desonrados. E também que deveriam tratar o responsável pelo trabalho por Mestre, durante o tempo em que trabalhassem com ele. E muitos mais deveres de conduta que seria longo contar. E a todos estes Deveres fez jurar um grande juramento que naquele tempo se usava; e determinou que deveriam receber salários razoáveis, com os quais pudessem viver honestamente. E também que deveriam reunir-se anualmente, para discutir como poderiam trabalhar melhor e melhor servir o seu senhor, para ganho dele e deles próprios; e para corrigirem no seu próprio seio aquele que tivesse errado contra a ciência. E assim ali foi implantada a ciência; e o valoroso senhor Euclides deu-lhe o nome de Geometria. E agora é chamada em toda esta terra por Maçonaria.

Euclides viveu entre 360 e 295 antes de Cristo. Terá sido educado em Atenas e frequentado a academia de Platão. Foi convidado por Ptolomeu para integrar o quadro de professores da recém-fundada Academia de Alexandria, a segunda maior cidade egípcia, tornou-se o mais importante autor de matemática da Antiguidade greco-romana e talvez de todos os tempos, com seu monumental Stoichia (Os elementos), uma obra em treze volumes, sendo cinco sobre geometria plana, três sobre números, um sobre a teoria das proporções, um sobre incomensuráveis e os três últimos sobre geometria no espaço. Escrita em grego, a obra cobria toda a aritmética, a álgebra e a geometria conhecidas até então no mundo grego e sistematizava todo o conhecimento geométrico dos antigos. Intercalava os teoremas já conhecidos então com a demonstração de muitos outros, que completavam lacunas e davam coerência e encadeamento lógico ao sistema por ele criado. Após sua primeira edição foi copiado e recopiado inúmeras vezes e, traduzido para o árabe, tornou-se um influente texto científico. Depois da queda do Império Romano, os seus livros foram recuperados para a sociedade europeia pelos estudiosos muçulmanos da Península Ibérica. Escreveu ainda sobre a ótica da visão e sobre astrologia, astronomia, música e mecânica, além de outros livros sobre matemática.

Como se vê desta resenha, a Lenda do Ofício de novo se apropria de um personagem histórico comprovadamente existente, mas coloca-o em tempo e circunstâncias diferentes dos que efetivamente foram os seus. Embora residindo e ensinando no Egito, na academia de Alexandria, Euclides não foi propriamente um mestre da cultura egípcia, antes um produto da cultura helenística.

Também a sua introdução como personagem da Lenda sofre de um duplo anacronismo: por um lado, coloca-o como contemporâneo de Abraão, que o antecedeu em dois milénios; por outro, coloca-o em tempo anterior à edificação do Templo de Salomão, quando viveu em tempo bem posterior, cerca de seiscentos e cinquenta anos depois de tal edificação, e até cerca de dois séculos depois da destruição do dito Templo por Nabucodonosor, em 586 a. C..

Este enxerto da obviamente fantasiosa Lenda de Euclides na Lenda do Ofício ter-se-á devido essencialmente a dois fatores: por um lado, a óbvia importância enquanto Mestre de Geometria de Euclides, bem conhecida na Idade Média, época de criação da Lenda; por outro, o reconhecimento da existência de algumas semelhanças entre o método de ensino existente entre os maçons operativos e o método esotérico de ensino seguido pelos sacerdotes do Antigo Egito.

Assim, mais do que um relato factual historicamente consistente, devemos interpretar esta passagem da Lenda do Ofício como o repositório amalgamado de crenças realmente tidas pelos maçons operativos da Idade Média:

- Que a Geometria é a base da Maçonaria;

- Que Euclides foi o maior dos Mestres de Geometria;

- Que os sacerdotes do Antigo Egito utilizavam um método esotérico de transmissão de conhecimentos similar ao método utilizado pelos maçons operativos.

Neste aspeto, a Lenda simboliza o bem conhecido facto de que, no Antigo Egito, existia uma íntima conexão entre a ciência da Geometria e o sistema religioso daquela sociedade, que esse sistema religioso incluía também a transmissão de instrução científica, de forma secreta e apenas após uma iniciação.

Esta analogia entre o sistema religiosa do Antigo Egito e a maçonaria operativa da Idade Média, mais do que esta enviesada referência na Lenda do Ofício, acabou por, já na fase da Maçonaria especulativa, dar origem a ritos de inspiração egípcia e teorias - a meu ver, fantásticas e inconsequentes - que colocam a origem da Maçonaria nos Antigos Mistérios Egípcios.

Como se vê, os rudes e menos incultos do que se poderia pensar trabalhadores da construção em pedra medievais não eram tão diferentes assim dos seus cultos e conhecedores de história e filosofia sucessores dos séculos XVIII, XIX e XX...

Fontes:

Wikipedia:
Euclides: http://pt.wikipedia.org/wiki/Euclides
Alexandria: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

26 setembro 2009

Uma prenda em período de reflexão

Em fim de semana de reflexão resolvi pôr o correio em dia, passando por todas as mensagens, e são muitas, que o dia a dia me vai obrigando a deixar... para o momento seguinte.
E nesta tarefa salta-me uma historinha preciosa, qual coelho da cartola.

Oferta do meu querido PR (não é "Presidente da República" !) a quem agradeço e que me serve aqui para vos servir um bombom em fim de semana especial.


O carro de um vendedor que viajava pelo interior avariou e conversando com um fazendeiro local eles descobrem que são Irmãos.'.
O vendedor está preocupado porque tem um compromisso importante numa cidade próxima.

- "Não se preocupe, diz o fazendeiro, você pode usar o meu carro. Vou chamar um mecânico amigo e pedir-lhe que conserte o carro enquanto vai ao seu compromisso."

E lá foi o vendedor. Umas duas horas mais tarde ele voltou, mas infelizmente o carro precisava de uma peça que só chegará no dia seguinte.

- "Sem problemas, diz o fazendeiro, use o meu telefone e reprograme o seu primeiro compromisso de amanhã, fique hoje connosco e providenciaremos para que o carro esteja pronto logo cedo!"

A esposa do fazendeiro preparou um jantar maravilhoso e puderam tomar um malte puro no meio de uma conversa agradável.
O vendedor dormiu profundamente e quando acordou lá estava o seu carro, consertado e pronto para seguir.
Após um excelente café da manhã o vendedor agradeceu a ambos a hospitalidade.

Quando seguiam para o carro, o vendedor voltou-se e perguntou:

- "Meu irmão, muito obrigado, mas preciso perguntar-lhe, você ajudou-me porque sou Maçom?"

- "Não, foi a resposta, Eu ajudei-o porque EU sou maçom."


Aqui fica. Talvez esclareça algumas das mentes "cheias de nevoeiro" que andam por aqui.

JPSetúbal/PR

Quem tudo quer...

Queridos Acompanhantes deste espaço num "fim de semana de introspeção política", mesmo falhando a 6ªfeira não deixo passar o voto de um bom fim de semana para todos com um "boneco " que pode servir, também ele, para nos passar a mensagem do "Tio Patinhas", ou simplificando para português corrente "quem tudo quer... tudo perde".

Cada vez mais é preciso poupar, mas como sempre tudo o que é exagerado é... exagero, pois claro !

Divirtam-se e arranjem um cofre grande, sem buracos...



E amanhã votem ! É o vosso dever.

JPSetúbal

23 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Abraão

O Sacrifício de Abraão
Capela Palatina do Palazzo dei Normanni, em Palermo

Depois de ter referido o estabelecimento da Maçonaria na Caldeia, a Lenda do Ofício efetua uma rápida transição para a sua introdução no Egito. Fá-lo através da invocação de um personagem que a Bíblia efetivamente regista ter estado no Egito, Abraão, mas, como se verá, com a exteriorização de mais um evidente anacronismo. Recorde-se o texto desta passagem da Lenda do Ofício:

Mais tarde, quando Abraão e Sara, sua mulher, foram para o Egito, ali ele ensinou as sete ciências aos egípcios; e teve um valioso discípulo, chamado Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais.

A Bíblia refere Abraão, designadamente no Génesis, como pertencendo à nona geração de Sem, filho de Noé, e ser originário de Ur, cidade do Sul da Mesopotâmia. Relativamente à sua estada no Egito, a Bíblia refere que, tendo ocrrido uma seca e fome em Canaã, onde Abraão se havia estabelecido, este levantou o seu acampamento e rumou ao Egito. Aí, temendo ser morto, em virtude da grande beleza de sua esposa, Sara, combinou com esta que ela se dissesse sua irmã, e não sua cônjuge. O Faraó apaixonou-se pela beleza de Sara e levou-a para o seu palácio. Porém, Deus castigou o Faraó e este, bem mais prudente do que viria a ser o seu sucessor, no tempo de Moisés, mandou chamar Abraão e devolveu-lhe Sara, ordenando que ambos deixassem o país, com todos os seus bens.

Abraão não é referenciado na Bíblia pela sua sabedoria, antes pela sua piedade, crença, obediência a Deus. Exenplo maior disso é o episódio do Sacrifício de Abraão (melhor seria dizer sacrifício de Isaac...), ilustrado pela pintura que acompanha este texto.

Os autores da Lenda foram beber essa reputação de sapiência em Josephus e nas suas Antiguidades. Ali, Josephus escreveu que Abraão foi considerado pelos egípcios um homem muito sábio e que, para além de ter reformado os seus costumes, lhes ensinou aritmética e astronomia.

Esta passagem da Lenda é interessante precisamente por ilustrar diretamente duas das fontes de que os autores medievais da mesma se socorreram, em relação à Antiguidade: A Bíblia e as Antiguidades de Josephus. Outras fontes dos autores da Lenda, em relação à Antiguidade, terão sido também as Etimologias, de Santo Isidoro e o Polychonichon, de Ranulph Higden. Aliás, provavelmente, quer as Antiguidades , quer as Etimologias, terão sido conhecidas em segunda mão, através precisamente das transcrições delas feitas no Polychonichon.

A passagem hoje analisada contem um evidente anacronismo, a alegada contemporaneidade de Abraão e Euclides. Este, na realidade, viveu dois mil anos depois de Abraão!

O anacronismo só se resolve se considerarmos que a relação de Mestre-discípulo invocada pela Lenda não foi uma relação física e contemporânea, mas antes uma relação de influência. Isto é, Euclides, que não foi contemporâneo de Abraão, inspirou-se, recolheu, os ensinamentos deste e desenvolveu, a partir daí, os seus grandes conhecimentos na Ciência da Geometria.

Por este processo, a Lenda transfere, assim, a sua atenção da Caldeia para o Egito e, partindo do personagem bíblico de Abraão, associa-lhe o grande geómetra que foi Euclides e passa seguidamente a narrar a introdução lendária da Geometria, sinónimo de Maçonaria, no Egito.

Mas essa é já matéria para o próximo texto.

Fontes:

Wikipedia:
Abraão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Abra%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

18 setembro 2009

Os velhos são tramados !

Este fim de semana é especialmente dedicado aos queridos leitores velhotes, seja de idade seja da cabeça.

Corre aí à boca cheia que "a tradição já não é o que era".
Pois não ! Confirmo !!!
A tradição brindava os velhos com uma peúguitas de lã e uns chinelos, uma cadeirinha, tabaquito e, algumas vezes uma bagaceirazinha para "a sossega"...
Aos 60 anos era assim... para aqueles para quem era assim, porque para muitos nem peugas, nem pantufas, nem cadeirita, nem nada.


Na verdade não é que na maioria dos casos não continue a ser assim. Continua, mas vão surgindo exceções, cada vez em maior número, cada vez mais... radicais.
Os Velhos perderam o tino e o respeito aos anos que passaram.


Vocês que aos 40 já estão velhos e caducos, todos podres (só não cheiram mal porque o Lux vai disfarçando as coisas...) não se podem mexer porque os "rinzes" não deixam ou porque as "cruzes que têm ali na ilharga" não deixam que se mexam, andam de esguelha, chutam para canto e sei lá mais do que são capazes... ou incapazes !!!

Pois bem, ponham os olhos nestes exemplos e tratem-se... da cabeça, porque o Vosso mal, seus caducos, é a carola.

Agora vou -me sentar um bocadinho. É que o "costrol" dá-me cabo dos nervos !

E "prontes"... bom fim de semana, e "bué" d'alegria !!!!

JPSetúbal

16 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Nimrod

Nimrod

Depois da Torre de Babel, mas continando por terras entre o Tigre e o Eufrates, prossegue a Lenda do Ofício:

E o rei da Babilónia, que se chamava Nimrod, era ele próprio um maçon; e amava bem a ciência, e isto é dito pelos mestres em História. E quando a cidade de Nínive e outras cidades do Oriente foram construídas, Nimrod, o rei da Babilónia, enviou para lá três mil maçons a pedido do rei de Nínive, seu primo. E, quando os enviou, deu-lhes um Dever do modo seguinte: Que deveriam ser verdadeiros uns com os outros e que deviam gostar de estar uns com os outros e que deviam servir lealmente o seu senhor em troca do seu salário (...). E outros deveres de conduta lhes deu. E esta foi a primeira vez que aos Maçons foram impostos Deveres da sua ciência.

Nimrod é referido na Bíblia (Génesis, 10:8 e 1 Crónicas, 1:10) como o primeiro poderoso na Terra. É identificado como filho de Cush, neto de Cam, bisneto de Noé. O seu reino incluia as cidades de Babel, Arac, Acad e Calene, na Babilónia. Dominou também a Assíria e aí construu Nínive, Reobote-Ir, Calá e Resem.

O historiador da Antiguidade Josephus não o descreve de forma agradável. Declara-o um tirano e imputa-lhe a decisão da construção da Torre de Babel, como um desafio a Javeh, pois seria tão alta que nenhum novo Dilúvio a poderia inundar. O plano correu-lhe mal...

Seja como seja, o desafiador e rebelde Nimrod (escritos rabínicos defendem que o nome Nimrod deriva do verbo hebraico ma-rádh, que significa "rebelar"; Nimrod seria então aquele que se rebelou contra o Deus de Noé... e sobreviveu, mesmo derrotado no seu projeto) criou o primeiro império referenciado na Bíblia, unificando sob o seu domínio as terras da Babilónia e da Assíria.

A Lenda não lhe assaca, porém, faceta de conquistador. Pelo contrário, declara-o cooperante com o seu primo, rei de Nínive, na Assíria, enviando-lhe três mil trabalhadores (maçons) para o auxiiarem na construção desta e de outras cidades. Afasta-se a Lenda da fonte bíblica de que é tão manifestamente tributária? Nem por isso. A Bíblia não apoda Nimrod de conquistador, apenas refere que ele estendeu o seu domínio à Assíria e aí construiu Nínive e as outras cidades. Se aquele territóri foi conquistado ou povoado, é matéria omissa. Se o rei de Nínive era seu vassalo ou aliado, também nada nos esclarece.

Curiosamente, a Lenda acaba por ser mais esclarecedora - mantendo-se na esteira do que se registou na Bíblia.

A denominação de Assíria deriva de Assur. E quem foi Assur? Foi filho de Sem. E Sem foi filho de Noé, irmão de Cam. Assur e Nimrod foram então primos (Assur foi primo direito de Cush, pai de Nimrod e, logo, segundo primo deste).

Eis como o relato da Lenda confere com o ensinamento bíblico!

Que Nimrod terá sido um grande construtor (de várias cidades), confirma-o a Bíblia e o historiador da Antiguidade. Claro que não foi pessoalmente um trabalhador da construção. Foi quem ordenou, financiou, organizou, a construção das cidades. A referência da Lenda de que foi ele próprio um maçon não quer dizer que tivesse sido um construtor ou arquiteto, antes que foi o patrono, o patrão das construções. Teremos oportunidade de ver que mais vezes a Lenda atribui ao patrono de construções a designação de maçon. No fundo, maçon aceite, como, séculos mais tarde, veio a realmente suceder, originando a transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa...

Mas a Lenda vai bem mais longe. Nimrod não foi apenas quem decidiu construir, não foi apenas um maçon aceite. Foi efetivamente o primeiro Grão-Mestre! É que a Lenda expressamente refere que foi por ele que aos maçons foram pela primeira vez impostos Deveres da sua ciência. Ora, quem tem o Poder de impor deveres aos maçons é unicamente o Grão-Mestre...

A Lenda prossegue na sua senda de encarar - como era usual na época medieval da sua criação - a Bíblia como fonte histórica. E também realça algo que só a Ciência Histórica moderna veio a apurar: que a Ciência, enquanto tal, nasceu na Caldeia - a região que venho designando por Babilónia.

Continua a confirmar-se que a Lenda é lenda - mas tem mais pontos de contacto com a História do que se pensaria...

Fontes:

Wikipédia:
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

15 setembro 2009

Lançamento do livro "The Lost Symbol"


Hoje, 15 de Setembro de 2009, é a data do lançamento do novo livro de Dan Brown intitulado "The Lost Symbol".

Não sendo um livro maçónico, é um livro que envolve a Maçonaria, ou mais expecificamente o Rito Escocês Antigo e Aceite, na sua história ficcionada. Se houver perante este livro, uma reacção semelhante à que houve perante o Código de Da Vinci, então teremos mais uma situação em que a realidade e a ficção se confundirão.

Será de esperar também um aumentar do interesse pela Ordem Maçónica, tal como ocorreu em situações anteriores:

  • Após o lançamento do Código de Da Vinci, uma Loja Americana (Wasatch Lodge) promoveu um Dia Aberto, sem que tenha feito qualquer esforço para o divulgar - apareceram 600 pessoas.
  • A Capela de Rosslyn, na Escócia, costumava ter cerca de 30.000 visitantes por ano. Nos meses que se seguiram à publicação do Código de Da Vinci, chegou a ter 3.000 visitantes por dia.
Face a esta situação, a Maçonaria Americana começou já a preparar-se para lidar com toda a curiosidade que se irá gerar, tendo até sido disponibilizado um Website (http://www.freemasonlostsymbol.com) para o efeito.

14 setembro 2009

O Vigésimo

Não é um bilhete de lotaria, antes pelo contrário espera-se que seja tudo menos o acaso da Sorte.



É o 20º Veneravel Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues.



Rui de seu nome, mas não o Bandeira, foi o primeiro Vigilante o mandato passado, e em julho foi eleito por unanimidade.



Rui é um mestre muito antigo, mais antigo na maçonaria que os Marretas aqui do blog. Passou uns anos ausente, voltou e mostrou que vinha para trabalhar, para ajudar.



No sabado passado foi instalado na cadeira de Veneravel, dando inicio ao seu mandato.



Dele se espera que seja Veneravel, mas sobretudo que seja ele próprio e que nos brinde com a sua alegria de viver e de fazer coisas.



Para ele a nossa disposiçao de fazer mais coisas.


José Ruah

11 setembro 2009

Sorria... Você está a ser filmado !

Como de costume aproveito imagens que Amigos me fazem chegar para Vos deixar entretidos à sexta-feira.
Umas vezes mais pensantes outras certamente menos sérios. É essa a intenção.
Se a de hoje Vos deixa sérios ou sorridentes, será escolha Vossa.
Hoje ponho uma coleção de fotografias de um heroi, cuja história não conheço para além daquilo que possa ser imaginado a partir das imagens.
Mas HEROI, é com certeza !

Querem sorriso mais profundamente humano do que o deste miudo ?
Vejam só, e já agora comparem com as Vs. queixumes e desgostos...

Não tenho muito mais para escrever sobre o tema de hoje, porque de facto nem vale a pena, nem a minha imaginação dá para "literaturas" àcerca do caso.
As imagens dizem tudo. Não há nada para acrescentar.





























































E agora aproveitem bem o fim de semana.
Divirtam-se... e sorriam. Provavelmente têm menos razões do que julgam para se lamentarem.

JPSetúbal

09 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: A Torre de Babel

A Torre de Babel
Pieter Bruegel
Original no Museu Boijmans Van Beuningen
, Roterdão

No último texto, vimos como a Lenda do Ofício relata o achado por Hermes Trimegisto de um dos pilares contendo os ensinamentos de todas as ciências registados antes do Dilúvio e que este divulgou esses ensinamentos. Mas ainda estamos no domínio da teoria, da "ciência pura". Só subsequentemente a Lenda nos confronta pela primeira vez com a aplicação prática desses ensinamentos. E fá-lo em grande estilo: nada mais, nada menos do que trazendo à colação a Torre de Babel.

O fragmento da Lenda a que hoje me dedico é singularmente pequeno, uma singela frase:

E na construção da Torre de Babel se fez o primeiro uso da Maçonaria.

No entanto, esta frase de catorze palavras apela a um dos mitos mais arreigados da Bíblia: a fantástica construção do primeiro "arranha-céus", da Torre destinada a unir a Terra dos Homens ao domínio de Deus (ou dos deuses), a passagem do conhecido para o imaginado, a ligação entre o terreno material e o domínio do divino.

O mito bíblico da Torre de Babel culmina com o desagrado divino pela prosápia humana e com um castigo "exemplar": para além da destruição da construção, a quebra do entendimento universal entre os humanos, mediante a sua separação em várias línguas.

O mito é interessante, na medida em que mostra a busca de uma explicação para algo que, manifestamente, intrigou os nossos longínquos antepassados: como coadunar a sua similitude essencial (e a pretensa origem única, no casal do Éden) com a variegada confusão de línguas e dialetos que os nossos antepassados distantes verificaram existir? Da unidade primitiva à multifacetada diferença, o caminho terá parecido óbvio: os estouvados humanos já então davam mostras do génio criativo da espécie e, quais crianças insensatas, mais uma vez (a lição do Dilúvio foi rapidamente esquecida...) deram um passo maior que a perna e aspiraram para além do que deviam... E o Poder Divino, simultaneamente desagradado e temeroso (!), não se limitou a destruir o instrumento do atrevimento: tratou de minar o que, pelos vistos, seria uma ameaçadora força dos ex-símios, a sua capacidade de se entenderem e de cooperarem, condenando-os ao perpétuo desentendimento através de uma multitude de línguas. No fundo, dividir para reinar...

Esta perceção da relação do humano com o divino, embora reiterando o Poder do Inentendível, sofre do mesmo pecado que alegadamente teria sido punido e resolvido com a introdução da algaraviada de muitas línguas (sim, algaraviada, pois, embora os povos bíblicos desconhecessem ainda o Algarve, o seu Sol e praia e a mistura de línguas que por ali campeia no Verão, o Criador, omnisciente, dizem, já antecipava que lá por alturas dos séculos XX e XXI, a confusão multilingue, associada ao dialeto autóctone da região, originaria um substantivo que na perfeição ilustrava o resultado da sua punição pelo atrevimento do alçamento da Torre de Babel). Com efeito, o mito bíblico reduz o alegadamente Omnipotente ao (humilhante?) papel de se sentir ameaçado pela união humana e... ter necessidade de tomar providências!

O mito bíblico é, claramente, o resultado de uma tradição oral em que a Divindade é criada e descrita à luz da capacidade de entendimento humana, em que Deus, mais que Criador, é criatura criada pelas criaturas que terá criado, com as limitações e defeitos que a limitada inteligência das criaturas não pôde evitar...

Este mito porventura ter-se-á baseado numa difusa, desconhecida e limitada realidade, a construção de uma torre de tamanho nunca visto e o fracasso do projeto, por incapacidade técnica de o levar até à pretendida conclusão, quiçá com o recurso a mão-de-obra de diferentes paragens, tornando visível e aparente a diversidade de linguagens e o potencial de desentendimento que daí advinha, que impressionou um povo que, unilingue, manifestamente não teria sido ainda seriamente confrontado com a diversidade linguística e os problemas daí decorrentes.

Note-se que o mito bíblico não é único, em termos de narrativa com contornos similares. Conforme se lê na Wikipédia em português, e cito, com pequenas alterações, na mitologia suméria, a rivalidade entre dois deuses, Enki e Elil, acaba por resultar, como que em subproduto das suas lutas, na confusão da Humanidade em diversas línguas. Também o Alcorão descreve uma história similar, mas alegadamente ocorrida no Egito de Moisés, em que o Faraó pede a Haman para lhe construir uma torre de barro para que ele possa subir até ao céu e confrontar o Deus de Moisés. Outra história, em Sura 2:96, menciona o nome de Babil, mas dá poucos detalhes adicionais sobre isso. Contudo, o conto aparece mais completo em escritos Islâmicos de Yaqut e de Lisan el-Arab , mas sem a torre: os povos foram varridos por ventos até à planície que foi depois chamada "Babil", onde lhes foram designadas as suas línguas separadas por Alá, e foram depois espalhados da mesma forma. Na História dos Profetas e Reis, pelo historiador muçulmano Tabari, do século XIX, é dada uma versão mais completa: Nimrod faz a torre ser construída em Babil, Alá destrói-a, e a língua da humanidade, previamente o siríaco, é então confundida em 72 linguagens. Abu Al-Fida, outro historiador Muçulmano do século XIII, relata a mesma história, adicionando que o patriarca Éber (um antepassado de Abraão) tinha sido autorizado a manter a língua original, neste caso o Hebraico, porque ele não participava na construção.

Lê-se ainda no mesmo artigo da Wikipédia - e continuo a citar com pequenas alterações - que várias tradições similares à da Torre de Babel são encontradas na América Central. Uma diz que Xelhua, um dos sete gigantes salvos do dilúvio, construiu a Grande Pirâmide de Cholula para desafiar o Céu. Os deuses destruíram-no com fogo e confundiram a linguagem dos construtores. Outra lenda, atribuída pelo historiador nativo Don Ferdinand d'Alva aos antigos Toltecas, diz que depois dos homens se terem multiplicado após um grande dilúvio, eles erigiram um alto zacuali ou torre, para se preservarem no caso de um segundo dilúvio. Contudo, as suas línguas foram confundidas e eles foram para diferentes partes da terra. Outra lenda ainda, atribuída aos Índios Tohono O'odham ou Papago, afirma que Montezuma escapou a uma grande inundação, depois tornou-se mau e tentou construir uma casa que chegasse ao céu, mas o Grande Espírito destruiu-a com relâmpagos. Rastos de uma história um pouco parecida também têm sido citados entre os Tarus do Nepal e do Norte da Índia; e, de acordo com David Livingstone, os africanos que ele conhecera e que viviam junto ao Lago Gnami, em 1879 tinham uma tradição assim, mas com as cabeças dos construtores a serem partidas pela queda da construção. Finalmente, o mito estónio do "Cozinhado das Línguas" também tem sido comparado com o mito bíblico, assim como a lenda australiana da origem da diversidade das falas. Enfim, como referi na introdução a esta análise crítica, "sucessos existem que estão marcados nas culturas de vários povos de muitos lugares. Os mitos primitivos, com algumas variantes, mais ou menos acentuadas, são comuns, na sua essência às culturas ocidentais como orientais, mediterrânicas como nórdicas, africanas, asiáticas ou europeias. Mesmo em alguns mitos dos povos primitivos do continente americano podemos reconhecer traços comuns com mitos do resto do globo."

Mas este mito, do ponto de vista dos construtores, tinha ainda uma insuspeitada virtualidade: era a primeira referência "histórica" (recordemos que, para a mentalidade da Idade Média, a Bíblia era um documento histórico) a algo de grandioso construído em pedra. Empreendimento que não podia deixar de ter apelado ao uso dos conhecimentos da Geometria aplicados à Arquitetura e à Construção. Isto é: era a visível primeira aplicação da Maçonaria!

Não poderia, obviamente, a corporação medieval de construtores em pedra deixar de sublinhar tão insigne facto, referenciando-o na sua Lenda do Ofício!

Que a referência se tenha limitado a uma singela linha e menos de duas dezenas de palavras, não é, apesar de tudo, de admirar. Tenhamos em mente que a Torre de Babel, apesar de projeto ambicioso, revelou-se um fracasso... E, por outro lado, os mais auspiciosos inícios merecem ser recordados com a singeleza da simplicidade!

Mas importa reter que, nas insondáveis voltas do espírito medieval, duas certezas avultam: o episódio da Torre de Babel era considerado realidade histórica - e, mais uma vez, a Lenda do Ofício, continua, segundo a mentalidade e conhecimentos da época da sua criação, a basear-se em factos históricos; e exprime-se a difusa, mas acertada, noção medieval de que a ciência aplicada nasce em terras de Babilónia (Babel), no berço de civilização que, entre os rios Tigre e Eufrates, foi denominada por Mesopotâmia - e hoje denominadas por Iraque. Voltas que a História dá!

Fontes:

Wikipedia: Torre de Babel ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Babel#Modelo_proposto_pela_Hist.C3.B3ria )
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

04 setembro 2009

Make peace, not war...

Vamos tendo tantos seguidores que os conteúdos que trago para aqui às 6ª.feiras são, certamente, do conhecimento de muitos dos nossos leitores.
Na sua grande maioria são textos/vídeos que Amigos me fazem chegar e que eu entendo dever partilhar com outros.
Hoje trata-se de um pequeníssimo texto, todo ficção...
Áh... será mesmo ficção ? Será que não é apenas a miniaturização de uma tristíssima realidade, monstruosa realidade, responsável por milhões de mortos e por incontáveis estropiados ?
Como começam as guerras ?
Por que razão começam as guerras ?
Aqui fica, um pequeno relato, ficcionado.

Entretanto aconselho a que não lhe juntem água, porque se estiver liofilizado irá crescer, aumentar e podem perder-lhe o controlo.
Este conselho aplica-se igualmente no caso de se tratar, apenas..., de uma relação de facto e objetivamente a 2, sem qualquer outra intenção nem subjetivismo !

Oito da noite, numa avenida movimentada.
O casal já está atrasado para jantar na casa de uns amigos.
O endereço é novo, bem como o caminho que ela consultou no mapa antes de sair.
Ele conduz o carro.
Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda.
Ele tem certeza de que é à direita... Discutem.
Percebendo que além de atrasados poderão ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida.
Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado.
Embora com dificuldade admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno.
Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados.
Ele questiona:
- Se tinhas tanta certeza de que eu estava indo pelo caminho errado, por que não insististe um pouco mais?
Ela diz:
- Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz!!! Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!

MORAL DA HISTÓRIA:

Esta pequena história foi contada por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente, de tê-la ou não.

Desde que ouvi esta história, tenho-me perguntado com mais frequência:
-'Quero ser feliz ou ter razão?'

Outro pensamento parecido, diz o seguinte:
-'Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam'.

Ora aqui fica como pensamento de fim de semana.
Como complemento junto um "boneco" do tipo "made in China".
É uma daquelas artes em que eles parecem imbatíveis.

Cá vai também como entretenimento para os dois dias que seguem.



E como de costume... "façam o favor ser felizes" (Raul Solnado)

JPSetúbal

02 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Hermes


Prosseguindo a análise crítica da Lenda do Ofício e da sua compatibilidade com a História, deparamos, após a referência aos filhos de Lamech e aos pilares por eles construídos, com a seguinte passagem.

O nosso propósito é contar-vos com verdade como e de que maneira foram encontradas as pedras em que estas ciências estavam escritas. O grande Hermarynes, que foi filho de Cuby, o qual foi filho de Sem, que foi filho de Noé, mais tarde chamado de Hermes, o patrono dos homens sábios, encontrou um dos dois pilares de pedra e encontrou a ciência nele escrita e ensinou-a a outros homens.

O Hermes aqui referido não é o deus da mitologia grega com o mesmo nome, correspondente ao Mercúrio da mitologia romana. Trata-se aqui de uma divindade de segunda ordem egípcia, também referido por Hermes Trimegisto, o nome dado pelos neoplatónicos, místicos e alquimistas ao deus Thot que, tal como o Hermes grego, era o deus da escrita e da magia. Thot simbolizava a lógica do universo, era o deus da palavra e da sabedoria. Os egípcios atribuíam-lhe a autoria de um conjunto de livros sagrados (provavelmente na realidade escritos por diversos autores, ao longo de muitas gerações...), contendo ensinamentos sobre artes, ciências, religião e filosofia. Era, na cultura egípcia da antiguidade, considerado o depositário do Conhecimento.

Albert Mackey refere que, nos tempos medievais, Hermes Trimegisto era considerado generalizadamente o inventor de todas as ciências e, de entre elas, evidentemente, a Geometria e a sua aplicação prática na construção, a Arquitetura.

Mais uma vez, a corporação de construtores em pedra constroi a Lenda do seu ofício com base num mito, mas um mito histórico, isto é, aquilo que era, na época, considerado verdade histórica.

Nesta passagem da Lenda do Ofício perpassa também o que são algumas das suas características mais evidentes, o anacronismo e o sincretismo. É assim que Hermes é dado como bisneto de Noé e enxerta-se no mito do Dilúvio um personagem advindo da cultura egípcia, obviamente diversa e muito posterior.

Na Lenda, o papel atribuído a Hermes é apenas o de transmissor. Encontrou um dos pilares - não refere a Lenda qual - e os ensinamentos nele gravados e transmitiu-os a outros homens.

Obviamente que o que transmitiu foi a Geometria, conjuntamente com as outras ciências.

Não deixa de ser de alguma forma irónico que esta medieval apropriação de um re-humanizado deus de segunda ordem egípcio por parte dos maçons operativos venha, muito mais tarde, nos séculos XVIII e XIX a ter uma nova versão nos delírios dos ocultistas, neo-alquimistas e demais esotérico-birutas que pululavam por essa época.

A variante da ligação da Maçonaria ao Ocultismo, Hermetismo, Alquimia e quejandas correntes foi uma moda com alguma expressão no século XIX, que deixou alguns resquícios, aqui e ali, em segmentos rituais de alguns dos Altos Graus, mas que sobretudo deixou uma nefasta herança de um não negligenciável conjunto de escritos do Mago disto e do Cavaleiro daquilo, espuriamente ligados a uma determinada conceção, que então floresceu, da Maçonaria como integrante do Conhecimento dito Hermético e Oculto. Herança nefasta, na medida em que, quer o profano, quer mesmo aquele que ainda pouco progrediu no seu trabalho de aperfeiçoamento pessoal pelo método maçónico, têm os seus esforços de obtenção de material publicado de consulta e estudo sobre Maçonaria dificultados por um poluidor acervo de escritos e publicações esotérico-birutas, que só complicam a vida de quem busca conhecer e entender o que é a Maçonaria e o seu método de aprendizagem e evolução.

Os maçons operativos medievais "desgraduaram" um deus menor egípcio em homem. Os intelectuais românticos, embalados nas suas ilusões e crendices, "elevaram" homens a "magos"... Ironias da vida...

Por mim, confesso que, entre uns e outros, prefiro os simples construtores medievais. Ao menos esses construíram a sua Lenda do Ofício com base no que na época se pensava ser verdade histórica, enquanto que os "magos", ocultistas e outros cultores de esotérico-birutices pretenderam elevar os meros produtos da sua imaginação à categoria de verdade...

Fontes:

Wikipedia: Hermes ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes )
Wikipedia: Hermes Trimegisto ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes_Trismegisto )
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

29 agosto 2009

Animação para fim de férias

Vamos lá ver...
Esta 6ªfeira, que por acaso esta semana até calhou ao Sábado, em fase final de férias (!) e na fase final da "crise" (?) resolvi dar uma ajudinha à banca, esses nossos amigões com quem podemos contar sempre que tivermos dinheiro disponível.
O vídeo que Vos deixo hoje pertence a uma campanha de marketing de um banco, só que não é um anúncio qualquer.
Primeiro por estar bem feito, depois por estar completamente construido sobre o movimento de corpos humanos.
São pessoas que constroem as imagens, dando corpo à mensagem que se pretende fazer passar.
É um videozinho de fim de férias.
Fica só como curiosidade.

JPSetúbal

26 agosto 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: antes do Dilúvio

Lamech, as suas duas mulheres e Tubalcain, trabalhando metal

Tendo presente os limites e condicionalismos que apontei no texto anterior, vamos então tentar proceder a uma análise crítica do início da Lenda do Ofício.

Para que estejamos identificados, recordemos, então, o que nessa Lenda reza quanto aos tempos antediluvianos:

Vou contar-vos como estas valiosas ciências apareceram. Antes do Dilúvio de Noé, havia um homem, chamado Lamech, tal como está escrito na Bíblia, no quarto capítulo do Génesis; e este Lamech tinha duas mulheres, uma chamada Ada e outra chamada Sella; da sua primeira mulher, Ada, teve dois filhos, Jabell e Tuball e da sua outra mulher, Sella, teve um filho e uma filha. E estes seus quatro filhos criaram o princípio de todas as ciências no mundo. O seu filho mais velho, Jabell, fundou a ciência da Geometria. (...) E o seu irmão Tuball fundou a ciência da música (...). E o terceiro irmão, Tuball Cain, fundou a ciência de trabalhar ouro, prata, cobre, ferro e aço (...). Esses filhos sabiam bem que Deus iria tirar vingança dos pecados, ou pelo fogo, ou pela água; portanto, escreveram as suas ciências em dois pilares de pedra, que pudessem ser encontrados após o Dilúvio de Noé. E uma das pedras era mármore, pois essa não arderia com o fogo; e a outra pedra era argila cozida em tijolos e não afundaria na água de Noé.

Obviamente que nenhum documento histórico suporta esta parte da Lenda. O único elemento em que se baseia é a Bíblia, no Livro do Génesis.

No Génesis, existe a referência a dois personagens com o nome de Lamech. Um era descendente em sexta geração de Caim, filho de Methusael e a primeira referência a um polígamo na Bíblia, com duas mulheres, Ada e Tselah (na Lenda, Sella). O outro era descendente de oitava geração de Seth (Abel), filho de Methuselah, e foi o pai de Noé.

Alguns estudiosos consideram que estes dois personagens corresponderão a um único ser, apontando a semelhança dos nomes dos respetivos progenitores e, sobretudo notando que, na coletânea rabínica Genesis Rabba, refere-se que Na'amah, a filha de Tselah e Lamech, filho de Methushael (Methusael), foi a mulher de Noé, alegadamente o filho do outro Lamech, filho de Methuselah.

Seja como seja, a Lenda do Ofício não se perde em rabínicas subtilezas e toma como personagem Lamech, o primeiro polígamo referenciado na Bíblia, descendente em sexta geração de Caim.

A Lenda do Ofício parte, portanto, do mito bíblico, acrescentando-lhe os elementos da fundação das ciências pelos filhos de Lamech e a premonição de que o castigador e vingativo Jehovah do Antigo Testamento iria punir duramente os pecados humanos, fosse pela água, fosse pelo fogo - os dois grandes elementos com capacidade destruidora da Antiguidade Primitiva. E, anacronicamente - pois a escrita ainda não tinha sido inventada - relata a escrita do registo de todas as ciências em dois pilares, concebidos para resistir à água, um, e ao fogo, o outro.

Mito, evidentemente! Lenda, obviamente! No entanto, que deduções ou ilações de natureza histórica (melhor dito: proto-histórica) podemos tirar desta parte da Lenda?

Albert Mackey, na sua História da Maçonaria, informa-nos que esta história, na parte não bíblica, deriva de um registo de Josephus (historiador romano do Povo Judeu da Antiguidade, autor das Antiguidades dos Judeus), que conta a história do fabrico dos dois pilares como tendo ocorrido com descendentes de Seth (Abel).

Não sendo de presumir que os autores medievais da Lenda estivessem familiarizados com os textos rabínicos e fossem dados às subtilezas dos estudiosos que defendem serem os "dois" Lamech um único personagem, verifica-se que a Lenda parte da história relatada por Josephus, mas alterando os personagens.

Segundo Mackey, tal ter-se-á devido a uma adulteração do texto de Josephus ocorrida numa obra intitulada Polychronicon, da autoria de um monge beneditino, Ranulph Higden, que viveu no século XIV.

Portanto - e não esqueçamos que a Lenda do Ofício se estruturou na época medieval - esta parte da Lenda do Ofício radica num relato de um historiador, adulterado por outro. Mas resulta do que, na época da sua construção, era tido como um facto histórico. Esta parte da Lenda do Ofício terá, assim, sido incluída na mesma não antes do século XIV - altura da adulteração, no Polychronicon, do que Josephus escrevera. E corresponde ao que, na época, era tido como um facto histórico.

Fontes:

Wikipedia - Lamech
Wikipedia - Josephus
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

25 agosto 2009

O Acordo Ortográfico segundo Millôr Fernandes


Já anteriormente dei conta do meu apreço especial por Millôr Fernandes.

Não vale a pena fazer qualquer apresentação de quem é, desde há 70 anos (nasceu em 1923) um símbolo da irreverência e um pregador da liberdade.

Sou admirador do Millôr e é sempre um gozo a leitura dos seus textos aos quais nem a provecta idade do autor tira veneno crítico, concorde-se ou não com ele.

E não pede licença a ninguém para utilizar o "vernáculo" mais puro.

Dei com uma entrevista no "DN Artes" (http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1342820) na qual Millôr Fernandes define à sua maneira o acordo ortográfico luso-brasileiro.

O Rui na sua santa paciência estudou e aprofundou o texto do acordo e trouxe-nos para aqui uma série de lições inestimáveis, dando de imediato o exemplo com a utilização corrente dos termos desse "novo" entendimento.

Sendo o Rui também um confessado admirador de Millôr Fernandes quis trazer para o blog esta pérola sob a forma de entrevista, como contraponto ou complemento do trabalho do Rui.

Aqui fica para apreciação dos "A-Partir-Pedrenses"...


"O acordo ortográfico é uma merda"
por S.B.M.Hoje

Homenageou Raul Solnado na Veja com um texto de 1984. Agora, o que diria sobre ele?
Minha opinião é a de antes, e agora será de sempre. Grande amigo, grande profissional, uma estima envolvida no meu carinho por Portugal.
É mais fácil ou mais difícil fazer humor actualmente? Por um lado, o Brasil apresenta muita matéria-prima, mas, por outro, há o politicamente correcto e ainda a constante ameaça da indemnização por dano moral...
O humorismo, o meu, pelo menos, nasce do indivíduo mais as circunstâncias. Não é fácil em mim, como não seria no Solnado. É inevitável.

Tem algum plano em relação a Portugal: visita, peça para mostrar, comentário ou algo assim?
Não tenho planos de vida. Vivo. Portugal, porém, está sempre em mim.
Considero Lisboa a cidade mais amável do mundo.

Acha que o acordo ortográfico vai colar ou não? Foi justo ou uma imposição das Academias de Letras?
O acordo ortográfico é uma merda. A Academia é uma excrescência de velhos tempos.

Por falar em Academia, você costumava dizer que poderia entrar para a Academia Brasileira de Letras na cadeira de José Sarney. Mantém a ideia?
É a cadeira de número 38. Torço pra que ele dure muito. Pois se morre, serei um mentiroso nacional. Como ele, alías.

Como vê o Brasil de hoje?
Extraordinário. Não me pergunte em que sentido.

Como vê a área de comunicação, com twitter, internet, mensagem por telemóvel etc?
Quanto mais meios de comunicação se criam, mais longe fica a comunicação. No twitter ainda não entrei, mas alguém pôs um twitter com meu nome e neste momento, olho, já tem 49.780 entradas. Cada vez mais me levam a essa suprema vulgaridade: ser popular.

A propósito de acordo ortográfico...
"e prontes, cá fica uma intervenção bué da gira do cota !"

JPSetúbal

22 agosto 2009

Hoje é dia do Maçom (referência a dia 20 de Agosto)

Midia News é um sítio noticiosos em publicação desde há 10 anos no estado do Mato Grosso (Brasil), http://www.midianews.com.br

De lá retiramos este texto assinado por OTACÍLIO PERON, advogado da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Cuiabá e da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso (FCDL/MT).

Só hoje o trazemos ao Blog porque o aniversário do Rui é "sagrado" e merece obviamente ser referido sem qualquer concorrência aniversariante, ainda que não coincidente na data.

Hoje é dia do Maçom

Hoje, dia 20 de Agosto, comemora-se o Dia do Maçom. Várias homenagens estarão sendo prestadas neste dia, inclusive o Senado Federal, que estará realizando uma Sessão Especial para reverenciar a Maçonaria Brasileira. A meu sentir, uma justa homenagem, pois, não existe história do Brasil sem a história da Ordem Maçônica neste pais. Muitos desconhecem, mas a maçonaria teve participação intensa nos principais acontecimentos políticos e sociais do Brasil.
A independência do nosso país teve a participação efetiva da maçonaria capitaniada por Dom Pedro I, então Grão - Mestre do GOB. Dois outros fatos históricos relevantes merecem destaques os quais tiveram a participação marcante da ordem maçônica, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República.
A história brasileira nos deixou não só um legado de fatos, mas de grandes homens como José Bonifácio de Andrade e Silva, Gonçalves Ledo, Dom Pedro I, Deodoro da Fonseca, Beijamin Constant, Castro Alves, Rui Barbosa e Quintino Bocaiúva.
É notório o crescimento da maçonaria brasileira, e atualmente o GOB é uma das maiores potencias da América Latina, tendo como lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Hoje, tantos outros maçons ilustres, contribuem para o engrandecimento do Brasil, quase sempre no anonimato, como a Ação Paramaçonica Juvenil, Maçonaria Contra as Drogas, e mais recentemente a defesa da Amazônia, contando sempre com a Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul.
Não podemos deixar de lembrar as ações de combate à miséria, a luta contra a degeneração de caráter e a corrupção de valores, enaltecendo sempre a probidade e o amor à Pátria.
Mato Grosso faz parte integrante da história maçônica brasileira, e os feitos dos maçons de hoje farão parte das páginas da história futura.
Por isso, nossas homenagens a todos os Obreiros da Arte Real no Dia do Maçom.


São alguns dados históricos importantes e vê-se o orgulho que é ser Maçon no Brasil.
Daqui vai um Abraço Fraterno e festivo a todos os nossos Irmãos.

JPSetúbal

21 agosto 2009

E Como acontece a cada

dia 21 de Agosto






PARABÉNS RUI
São os votos cá da malta que te estima e te quer bem.
Cumpras muitos com a felicidade da tua familia por perto, e já agora que nós vejamos.
Um grande abraço
A.Jorge, JPSetubal, Jose Ruah

19 agosto 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Introdução

Uma análise do ponto de vista histórico da Lenda do Ofício deve ser feita segundo as regras da Ciência da História. E regra básica desta ciência é que a História é constituída por FACTOS - não lendas, nem mitos, nem hipóteses, nem probabilidades. Factos! Este o alimento da História e os factos são estabelecidos por DOCUMENTOS. Traços ou registos inequívocos de que algo sucedeu mesmo. O documento pode ser um registo de um facto ou um relato sério e credível. Tanto mais sério quanto maior crédito merecer o seu autor. Tanto mais credível quanto mais contemporâneo for o seu narrador.

Este princípio ou regra da Ciência Histórica coloca um problema sério, quiçá insolúvel, quanto a um grande período de sucessos da Humanidade Primitiva. Tudo o que sucedeu antes de haver escrita não está registado. Daí que se chame ao (imenso) período anterior à invenção da escrita Pré-História.

Em relação à Pré-História, por força da natureza das coisas, a fixação de factos não se faz mediante a sua comprovação documental, mas em face de indícios credíveis. Daí que sejam importantes todas as descobertas arqueológicas, que permitem analisar "livros não escritos" que indiciam como era a vida dos nossos longínquos antepassados dessas primitivas eras.

Mas se os indícios arqueológicos nos permitem deduzir as condições de vida genéricas de um determinado período, não nos possibilitam estabelecer um dado facto concreto - à míngua de registo contemporâneo, ou próximo disso.

No entanto, sucessos existem que estão marcados nas culturas de vários povos de muitos lugares. Os mitos primitivos, com algumas variantes, mais ou menos acentuadas, são comuns, na sua essência às culturas ocidentais como orientais, mediterrânicas como nórdicas, africanas, asiáticas ou europeias. Mesmo em alguns mitos dos povos primitivos do continente americano podemos reconhecer traços comuns com mitos do resto do globo.

A ciência dos nossos dias estabeleceu que o homem terá deixado de ser símio em África. Daí ter-se-á espalhado para a Ásia, desta para a América e a Europa, em movimentos diversos e momentos distintos e autónomos. O conjunto de mitos primitivos dos vários ramos de distribuição geográfica do bicho que se tornou Homem é, quando dotado de similitudes essenciais, significativo. Corresponde, pensa-se com foros de lógica, a memórias de factos relevantes efetivamente ocorridos, memórias passadas oralmente de geração em geração, alteradas quer por virtude do decurso do tempo, quer em face das diferentes condições geográficas e evoluções culturais dos diversos povos ou tribos.

Os relatos míticos de sucessos ocorridos milhares de anos antes da sua fixação escrita são, obviamente, inaceitáveis enquanto fonte histórica. Mas são significativos de uma dada tradição cultural - e tanto mais significativos e merecedores de atenção quanto comuns a diversas tradições.

Os Livros Sagrados de todas as religiões não terão sido ditados ou dados diretamente pela Divindade ou Divindades. Mas esses Livros Sagrados, enquanto repositórios de tradições, de contos, de lendas, de lembranças alteradas e adulteradas pelo decurso do tempo e do acrescentar de um ponto por quem conta um conto, são elementos indiciários de panos de fundo, de factos memoráveis ou extraordinários que, pela sua magnitude, importância, bizarria ou incapacidade de serem compreendidos, marcaram os imaginários primitivos.

O que de similar existe nas várias tradições das diferentes civilizações ou, simplesmente, povos primitivos é elemento fortemente indiciário de que algo dessa natureza comum efetivamente sucedeu. Não sabemos quando, nem onde, nem como, nem concretamente o quê (não há registos documentais...). Mas temos por indiciado que algo da natureza da essência dos diferentes mitos comuns terá sucedido e terá sido tão importante que impressionou, ao ponto de o seu relato ser transmitido e alterado e adulterado, de geração em geração, até ser fixado em escrita, milhares de anos depois da ocorrência.

Um desses sucessos é o que na Bíblia é descrito como Dilúvio. Não podemos saber se terão sido chuvas prolongadas e fortes, se alterações geológicas, se inundações fortes e inesperadas. Mas a existência de um mito primordial e comum a diversas civilizações de que existiu um alagamento, uma destruição de lugar ou civilização importante - tão importante que, no registo bíblico, é descrito como universal - é indício seguro de que algo cataclísmico relacionado com a água e a sua força destruidora ocorreu. Que muitos pereceram e só poucos sobreviveram. E que os poucos sobreviventes tiveram como que recomeçar de novo. A Bíblia chamou-lhe o Dilúvio. Outras tradições e mitos chamam-lhe, por exemplo, a destruição da mítica Atlântida...

Quanto mais recuados os tempos, menos provas existem, de menos indícios dispomos. Recuando aos primórdios do bicho feito Homem, muitas vezes, para além de ossadas aqui e ali descobertas - que de pouco, em termos factuais, servem - os únicos elementos que restam ao estudiosos são os relatos míticos dos ditos Livros Sagrados.

Os relatos dos Livros Sagrados, particularmente da Bíblia, não sendo fontes documentais históricas, assumem, à falta de melhor, o papel de registos de mitos correspondentes a sucessos muito antes ocorridos, seguramente adulterados, quiçá embelezados, porventura exagerados. Mas indiciam que algo do género ocorreu, algures nas profundezas do passado do primitivo bicho que se tornou Homem e se agrupou em tribos e se fixou aqui e acolá e construiu e viu destruído, e vagueou e lutou e algo fez e viu e viveu e achou memorável - e por isso passou de geração em geração, alterando, adulterando, acrescentando, embelezando, imaginando, relatando, contando, derivando, criando uma estória que não será História, mas que se baseia numa história efetivamente ocorrida.

Relativamente à Antiguidade profunda verdadeiramente antiga, tão antiga que já era antiga e imemorial nos primitivos tempos em que os textos bíblicos - e outros textos sagrados - foram escritos, apesar dos pesares o registo bíblico é um indício de que algo do género, parecido, tendencialmente da mesma natureza, ocorreu, repito, não se sabe quando, nem onde, nem exatamente o quê e como.

A Lenda do Ofício inicia-se nessas profundezas do tempo que foi a Antiguidade da Antiguidade, o tempo que os Primitivos, se deles tivessem consciência, considerariam primitivo. O relato bíblico não é - longe disso! - elemento histórico. Mas é o menos longínquo que possuímos para deduzir o que terá acontecido nessa infância da Humanidade.

Por aí - com todas as limitações para que neste texto alerto - começarei a minha análise crítica da Lenda do Ofício.

Rui Bandeira

14 agosto 2009

Mexigal... ou Portuguéxico ?

Hoje o monstro bloguista ataca de outro lado !
Ainda se lembram do monstro das bolachas ? Pois aqui é o monstro dos blogues que ataca de novo...

Mantenho este vídeo há muito tempo na esperança de que algo aconteça que faça com que eu possa apenas lamentar a situação mexicana.
Infelizmente não prevejo a breve prazo essa possibilidade.
Convém dizer que gostei do México as vezes que lá fui, e fui por razões diversas e a locais bem diferentes.
Gostei da maior Praça de Touros do mundo (impressionante, e eu não gosto de touradas !), gozei com a estátua do "pajarito" e do que ela representa (um touro que salto para as bancadas e marrou em tudo quanto era gente...), diverti-me com os mariachis e com a minha amiga Lupita (cantora mexicana de bela voz, mesmo com o prazo de validade a acabar...) e muito, muito mais que tive a oportunidade de ver, ouvir e... andar, andar, andar... porque tudo aquilo é muito grande e as piramides são altas e...
Bom, percebem que gostei do México !
Uma ressalva para a maior favela do mundo, que essa não tem graça nenhuma !
Mas num País onde tudo é o maior do mundo (segundo eles, claro) até o buraco do ozono é o maior do mundo.

Aqui acabam as diferenças com Portugal e os portugueses !!!
Não somos os maiores do mundo, não temos nada de maior do mundo, para o bem e para o mal somos assim.
De facto não é bem verdade que assim seja, porque no mar, acredito que fomos e podemos continuar a ser os maiores do mundo. Pelo menos isso, embora a situação portuguesa esteja em conversão na área do saber aplicado, coisa que nos faltava por completo mas que na última década tem mostrado que existe e em progresso bem animador.

Agora, calmamente, vejam, ouçam e comparem (mais ou menos como o "pare, escute e olhe"... da CP).
Comparem connosco, traduzam do "castelhanês" para português, ponham os nomes com as adaptações convenientes... e façam o que puderem em frente ao espelho.

Bom fim de semana e como diria um amigo meu... "Sorte, Saúde e dinheiro para gastos" !

JPSetúbal

12 agosto 2009

A Lenda do Ofício - 2.ª parte: a Idade Média

Rei Athelstan ou Athelstone

Continuo a divulgação, em tradução livre minha, da Lenda do Ofício, a lenda da origem da Maçonaria, tal como consta no manuscrito Downland, um manuscrito da maçonaria operativa, que se considera datar de cerca do ano 1.500. Relembro que, ao tempo, e conforme se verifica de vários manuscritos da maçonaria operativa que foram descobertos e estudados, as palavras Maçonaria e Geometria eram consideradas sinónimos entre os maçons operativos, os construtores em pedra reunidos em associações profissionais, que preservavam e transmitiam aos mais novos os segredos da construção, nomeadamente as regras geométricas que lhes permitiam facilmente determinar com acerto ângulos retos, alinhar paredes na vertical, etc..

No texto anterior, a Lenda evolui desde os primórdios da Humanidade, na era pré-diluviana, até à época do rei Salomão. O texto que segue prossegue a partir daí.

Homens da Fraternidade curiosos viajaram por diversos países, uns para aprenderem mais da arte de construir e aparelhar, outros para ensinar aqueles que tinham poucos conhecimentos. E assim sucedeu que houve um curioso Maçon, chamado Maymus Grecus, que esteve na construção do Templo de Salomão e que veio para França e aí ensinou a ciência da Maçonaria aos homens de França. E houve um, da linhagem real de França, chamado Carlos Martel; e ele era um homem que gostava muito desta ciência e aproximou-se deste Maymus Grecus, acima referido, e aprendeu com ele a ciência e obteve através dele os Deveres e as Regras; e mais tarde, pela graça de Deus, foi escolhido para ser Rei de França. E quando ele estava nessa função, contratou Maçons e ajudou a fazer Maçons de homens que não eram nada; e pô-los a trabalhar e deu-lhes os Deveres e as Regras e bom salário, tal como tinha aprendido de outros Maçons; e confirmou-lhes uma determinação de se reunirem anualmente; e acarinhou-os muito; e assim chegou esta ciência a França.
A Inglaterra em todo este tempo manteve-se alheia, quanto a qualquer assunto de Maçonaria, até ao tempo de Santo Albano. E nos dias deste o rei de Inglaterra, que era pagão, edificou as muralhas da cidade que agora se chama Saint Alban. E Santo Albano era um valoroso cavaleiro e nobre da corte do Rei e tinha a direção dos assuntos do reino e também da edificação das muralhas da cidade; e gostava dos Maçons e acarinhava-os muito. E fixou o seu salário bem, de acordo com os padrões do reino; pois deu-lhes dois xelins e seis dinheiros por semana e três dinheiros para as suas refeições. E antes desse tempo, por toda esta terra, um Maçon recebia apenas um dinheiro por dia e a sua refeição, até que Santo Albano emendou isso e deu-lhes uma carta-patente do Rei e do seu Conselho para reunirem em conselho geral e deu-lhe o nome de Assembleia; e, a partir daí, ele próprio ajudou a fazer Maçons e deu-lhes Deveres, tal como ouvirão mais tarde.
Pouco tempo depois da morte de Santo Albano, houve diversas guerras no reino de Inglaterra entre diversas nações, pelo que a boa regra da Maçonaria foi destruída até ao tempo dos dias do Rei Athelstone, que foi um valoroso Rei de Inglaterra e trouxe a esta terra descanso e paz; e construiu muitas grandes obras de Abadias e Torres e muitos outros tipos de edifícios; e gostava muito dos Maçons. E ele tinha um filho chamado Edwin, que gostava dos Maçons muito mais do que o seu pai. E era um grande praticante da Geometria; e dedicou-se muito a falar e a confraternizar com Maçons e a aprender a sua ciência; e depois, pelo amor que dedicava aos Maçons e à ciência, ele foi feito Maçon e obteve do rei seu pai uma carta-patente para realizar todos os anos uma assembleia, onde lhes conviesse, no reino de Inglaterra; e para corrigirem os erros uns dos outros e os atropelos que fossem feitos dentro da ciência. E realizou ele próprio uma Assembleia em York, e estes fez maçons e deu-lhes Deveres e ensinou-lhes as regras e ordenou que esta norma seria seguida para todo o sempre, e guardou então a carta-patente para a conservar e deu ordem para que fosse renovada de rei para rei.
E quando a Assembleia estava reunida, anunciou que todos os Maçons, velhos e novos, que tivessem alguma notícia ou conhecimento dos Deveres ou das regras que foram feitos antes nesta terra, ou em qualquer outra, deveriam deles dar conhecimento. E quando assim se fez, foram encontrados alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas; e o seu propósito foi de reunir todos num único. E fez um livro deles e de como a ciência foi fundada. E ele próprio proclamou e determinou que deveria ser lido ou contado sempre que um Maçon fosse feito, para lhe dar a conhecer os seus Deveres. E desde esse dia até agora as regras dos Maçons mantiveram-se dessa forma, tanto quanto os homens as podem executar. E a partir daí diversas Assembleias tiveram lugar e ordenaram certos Deveres, segundo o melhor juízo dos Mestres e Obreiros.

Por natureza, uma lenda não é realidade histórica. Nesta Lenda da Ordem é fácil, por exemplo, detetar anacronismos evidentes: Abraão contemporâneo de Euclides, um obreiro do Templo de Salomão contemporâneo de Carlos Martel.

Outros anacronismos não serão tão evidentes a quem não conheder profiundamente História e a História de Inglaterra, mas estão lá. Mas, anacronismos à parte, imprecisões expectáveis de uma estória que passa de geração em geração por tradição oral, se analisarmos bem a Lenda tendo sempre presente que Maçonaria é palavra utilizada como sinónimo de Geometria e que maçon é palavra utilizada tanto para significar o trabalhador de construção em pedra, como o estudioso de Geometria, como aquele que aplica noções de Geometria à arte de construir, como ainda aquele que se insere numa corporação organizada de construtores em pedra, poderemos verificar que esta Lenda tem mais correspondência com factos históricos do que, à primeira vista, se poderá supor.

Faço notar que, embora em inglês moderno se faça a distinção entre "mason" e "freemason", significando o primeiro termo "pedreiro" ou "construtor em pedra" e o segundo o que hoje se designa por maçon, aquele que se integra na Maçonaria especulativa, tal como existe desde o século XVIII, tal distinção inexistia, obviamente na época da maçonaria operativa, em que os termos "mason" e "freemason" eram indistintamente usados. Nesta tradução livre, optei por utilizar sempre indistintamente o termo maçon. Numas passagens do texto, significará o oficial do ofício da construção, noutras o cultor da ciência da geometria, noutras ainda o membro da corporação de construtores, e também porventura nalgumas delas assumirá simultaneamente dois ou mais destes significados.

Procurarei distinguir os vários significados do uso do termo, ao longo da análise crítica da Lenda do Ofício que me proponho levar a cabo. Sempre seguindo de perto os ensinamentos de Mackey, essa análise crítica será o objeto da série de textos que se seguirá.

Fonte: The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira