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09 dezembro 2014

Juramento e compromisso maçónicos...

                                                                                                                (imagem proveniente de Google Images)

Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de tipo esotérico-iniciática tal como a Maçonaria se define, é habitual o novo membro efetuar um juramento no momento da sua admissão ou durante a execução de uma cerimónia de cariz iniciático, no qual se assume um determinado compromisso. E somente após a realização desse juramento é que o neófito é recebido e integrado no seio da respetiva Ordem. 
No caso que irei abordar e que será sobre a Maçonaria, é natural quando se fala em compromisso maçónico também se abordar simbióticamente o juramento maçónico. Tanto um como o outro são indissociáveis, porque um obriga ao outro e o mesmo, reciprocamente.

Durante o desenrolar de uma Iniciação Maçónica, no seu “ponto alto”, o neófito concorda em submeter-se a um juramento onde assume como compromisso de honra, aceitar e respeitar as Regras, Usos e Costumes da Maçonaria bem como as regras e leis do país onde se encontra sediada a Obediência Maçónica e a respetiva Loja da qual irá fazer parte. Nomeadamente e de entre os vários princípios maçónicos que se aceitam cumprir, os mais conhecidos pelo mundo profano são a Fraternidade entre todos os Irmãos, a prossecução do espírito da  Liberdade na Sociedade Civil e o sentimento de Igualdade entre todos.
Assim, assumir-se um compromisso com a Ordem Maçónica é assumir-se um compromisso pela Ordem e a bem da OrdemIsto é que é o tão  propalado estar à Ordem.
 E estar-se é mais do que o ser-se! E digo isto porque qualquer um pode “o ser, mas “estar apenas se encontra ao alcance de poucos… 
Estar implica sacrifício, comprometimento, trabalho, prática e estudo, e isto de forma incansável e perene. 
Por isto é que assumir um compromisso deste género e com a relevância que este tem, nunca deverá ser feito de forma leviana; o mesmo se passa com os outros compromissos que se assumem durante a nossa vida profana e que também não devem ser assumidos se não estivermos capacitados para os cumprir. 
-Há que se ter a noção daquilo a que nos propomos a fazer-. 
 Por isso é que o compromisso maçónico é feito com a nossa Palavra e sobre a nossa HonraDesvirtuar estas duas qualidades, é desvirtuar a própria Maçonaria. 
Da mesma forma que, se não respeitarmos a nossa palavra e não mantivermos a nossa dignidade na sociedade civil, também não somos dignos de nela estarmos integrados e sofreremos as consequências ou punições que forem legitimadas pelas leis do país. 
De certa maneira, a Maçonaria atua e se assemelha com a sociedade profana, com as suas leis e os seus costumes, competindo aos maçons respeitar a sua aplicação e observar o seu cumprimento. É mais que um dever ou obrigação tal. É a assumpção que assim o deve ser e nada mais! 
Porque assim tem funcionado há quase três séculos e o deverá continuar a ser noutros tantos…

Aliás, ainda na Maçonaria contemporânea se encontra algo que dificilmente se encontra na profanidade atualmente, ou seja, o valor da palavra sobre a escrita. O que não deixa de ser curioso dados os tempos que correm. 
Nesta Augusta Ordem, ainda hoje aquilo que um maçom afirma tem um valor tal, que se poderá assumir que não necessitará de ser escrito para que o seja considerado; basta se dizer, que assim o será. 
O tal “contrato verbal” na Maçonaria ainda hoje tem lugar. E somente pessoas de bons costumes o usam fazer, pois a sua honra e a sua conduta serão sempre os seus melhores avalistas.

Não obstante, o compromisso maçónico ao ser albergado por um juramento, obriga a que quem se submete a ele, o faça de forma permanente. Não se jura somente aquilo que gostamos ou somente aquilo que nos dá jeito cumprir. 
Quando entramos para a Maçonaria sabemos que, tal como noutra associação ou organização qualquer, existem regras e deveres para cumprir; pelo que o cooptado compromete-se em respeitar integralmente todas as regras e deveres que existem na sua Obediência. E quem age assim, fá-lo porque decidiu livremente que o quer fazer e não porque alguém a tal o obriga.

E uma vez que a adesão à Maçonaria se faz por vontade própria, aborrece-me bastante (para não ser mais acutilante ainda…) assistir ou ter conhecimento de casos em que este juramento foi atraiçoado e em que os compromissos assumidos perante todos, foram deliberadamente e conscientemente esquecidos.

Será que quem age desta forma, poderá ser  reconhecido como um verdadeiro maçom? 
Ou será apenas gente que simplesmente enverga um avental e um par de luvas brancas nas sessões da sua Loja? 
Em alguns casos destes, creio que foram pessoas que entraram na Maçonaria, mas que por sua vez, a Maçonaria certamente não entrou neles…

Algumas vezes, infelizmente, isto pode acontecer porque quem vem para a Maçonaria vem “desavisado”, isto é, pouco conhece ou percebe o que é a Maçonaria e o que ela representa, “vem ao escuro” por assim dizer, e caberá a quem apadrinha uma candidatura maçónica, informar ou retirar algumas dúvidas que se ponham ao seu futuro afilhado e consequente irmão. Em última instância, devem os responsáveis pelas inquirições que decorrem no âmbito de um processo de candidatura maçónica, no momento das entrevistas aos candidatos, terem a sensibilidade para se aperceberem do desconhecimento do entrevistado sobre os princípios e causas que movem os maçons e sobre a Ordem da qual este manifesta a vontade de vir a fazer parte, e nesse caso, serem os próprios inquiridores nessas alturas em concreto, a efetuar o trabalho que deveria ter sido feito anteriormente pelo proponente da referida candidatura, no que toca a esclarecer o profano e a fornecer-lhe as informações que lhe sejam necessárias para que esta (possível) adesão possa decorrer sem sobressaltos, nem que esta admissão venha a causar problemas (previsíveis!) no futuro, seja para a respetiva Loja ou até mesmo para a Obediência que porventura o vier a acolher.

Todavia, normalmente no momento do juramento maçónico, o neófito fá-lo sem saber/compreender o que estará a jurar e para o que estará a jurar, pois o véu que o cobre  na sua Iniciação é de tal densidade que  muitas vezes somente passado algum tempo é possível se perceber o juramento que se fez e o compromisso que se tomou, e que por vezes pode ser diferente daquilo que são as crenças pessoais e respetiva forma de estar de cada um ou até mesmo porque se acreditava que se “vinha para uma coisa e afinal se encontrou outra”…
E o trabalho que um padrinho deve desenvolver com o seu afilhado durante a formação deste tanto como a responsabilidade que assumiu perante o afilhado e a Ordem ao subscrever a candidatura dele, serão fulcrais neste tipo de situação concreta. O padrinho (pelo dever moral) e a Loja em si (porque é um dever da loja acompanhar e tentar integrar corretamente os Irmãos nos valores maçónicos) devem tentar perceber o motivo pelo qual alguém se “distancia” da Maçonaria. E apenas ulteriormente, se for caso disso, devem aconselhar a um possível adormecimento desse irmão por não ser do seu intento continuar a pertencer a algo com o qual não se identifique mais. 
Pelo que desta forma se prevenirão certos casos e eventuais “lavagens de roupa suja” ou fugas de informação que poderão surgir, as quais na sua maioria nem sequer são informações plausíveis nem verídicas sequer, pelo que apenas posso especular que estas ocorrências se devem a  paixões e vícios mal combatidos e nem sequer evitados… E como se costuma dizer, “o mal corta-se pela raiz”, pelo que “as desculpas devem evitar-se”…

E quem entra na Maçonaria deve ter a noção que as suas atitudes já não lhe dirão respeito apenas a si, mas a todos os integrantes desta Augusta Ordem, a conduta de um maçom estará sempre sob um fino crivo pela sociedade e sempre debaixo do escrutínio de todos, seja de fora ou internamente. - Porque um, pode sempre e a qualquer momento, “por em xeque” os demais -. E ter esta noção e assumir esta responsabilidade é algo que deve ser intrínseco desde os primeiros momentos de vida maçónicos. 
Já não é o Nuno, o X ou o Y  que fazem isto ou aquilo, serão os maçons Nuno, X ou Y que o fazem… Logo é a Maçonaria na sua generalidade que será atentada com a má conduta que os seus membros possam ter, para além da Ordem poder vir a ser acusada de cumplicidade pelos atos efetuados pelos seus membros.

 Assumir que a nossa forma de estar e agir condiciona e se reflete na Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons poderão tomar. Tanto que o dever de honrar a nossa Obediência, a nossa Loja e a Maçonaria em geral, deve permanentemente se encontrar  na mente de todos os maçons. 
Um juramento implica obrigações, e jurar ser-se maçom, mas fundamentalmente ser-se reconhecido maçom pelos nossos iguais,  implica que sejamos maçons a “tempo inteiro” e não apenas às segundas-feiras ou quintas-feiras de manhã ou à noite, ou quando nos dará mais jeito, é sempre! 
Sermos maçons, não é quando visitamos a loja e usamos os respetivos paramentos. Não basta envergarmos um avental, calçar umas luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos”, é muito mais que isso! É cumprir preceitos, rituais e trabalhar em prol da Ordem. 
E se não estivermos prontos para tal, de nada valerão os juramentos que fizermos, porque nunca nos iremos comprometer com nada na realidade e em último caso, nem sequer  reconhecidos como tal seremos. 
E a palavra persisitirá perdida

09 julho 2014

Dar e receber


Ingressar na maçonaria, juntar-se a uma Loja maçónica não é um ato destinado à obtenção de quaisquer vantagens materiais ou sociais. O ingresso na Maçonaria, a permanência numa Loja maçónica traz benefícios de ordem espiritual, moral, de aperfeiçoamento pessoal, de preenchimento do sentido da vida e plenitude na vivência do tempo que a cada um cabe neste plano da existência.

Dito de outro modo: o ingresso na maçonaria não se destina à obtenção de vantagens materiais ou sociais, prossegue o objetivo de nos ajudar a ser melhores e mais felizes

A vivência numa Loja maçónica é um contínuo e inesgotável ciclo de troca, de dar e receber. Cada um dá à Loja o que tem de útil para lhe dar e dela recebe aquilo de que ela dispõe, o que recebeu de todos, para fruição e aperfeiçoamento de cada um.

É dando a nossa quota-parte que criamos as condições para recebermos o nosso quinhão. Desengane-se quem porventura julga que o que interessa é "entrar" e depois basta aguardar que aquilo que esperamos e o que nos é inesperado nos caia nos braços! A Maçonaria tem uma curiosa caraterística: tudo proporciona, mas nada dá. 

Trocando por miúdos: a Maçonaria proporciona um meio, um ambiente, um método, uma cultura, um grupo, tudo disponível para que cada um de nós utilize em prol do seu aperfeiçoamento, do seu crescimento, da sua evolução. Mas faz só isso - e muito é! Cabe a cada um fazer pela sua vida e mergulhar no meio, viver o ambiente, utilizar o método, apreender a cultura, inserir-se no grupo, e com isso lograr melhorar, desenvolver-se, crescer, viver melhor, em suma, ser melhor.

O trabalho, o esforço, a vontade, são sempre individuais. O auxílio, a orientação, a envolvência, esses sim, advêm da Instituição, da Loja, do grupo.

Assim, a entrada na Maçonaria, a iniciação numa Loja, não é mais do que um prelúdio, um momento - marcante, sem dúvida! -, uma condição necessária, mas não suficiente para que o objetivo do desejado aperfeiçoamento seja obtido. Esse ato marca apenas o começo do trabalho, o início da caminhada, o plano de partida. O maçom, a partir dessa base, primeiro amparado pelos seus Irmãos, que decidiram acolhê-lo no seu grupo, depois guiado e orientado por eles, finalmente por si só, fará depois o trabalho que entender, seguirá o caminho que escolher, chegará ao plano a que conseguir chegar. Nada, a não ser condições e conselho, lhe é dado. Tudo o que cada um obtém resulta do seu esforço, do seu trabalho.

A maçonaria e a vivência em Loja têm ainda uma outra interessante caraterística: é dando que se recebe e quanto mais se dá, mais se obtém.

Porque sempre que o maçom dá um pouco do seu esforço, efetua uma investigação, organiza algo, executa uma tarefa, ajuda um Irmão, está a aprender algo, a aprimorar-se nalgum aspeto. Finda qualquer tarefa, ultimado qualquer projeto, não é só o que se fez que ficou feito; quem o fez também ficou melhor, seja porque aprendeu, seja porque exercitou, seja pelo que relacionou ou relacionará e lhe permitirá ir mais adiante, ou aprofundar algo mais, em si, no que sabe ou no que investiga ou busca.

O resultado do trabalho de um maçom é por ele disponibilizado ao grupo, à Loja, e todos com isso beneficiam, ao menos conhecimento ou uma nova visão ou conceção do que já conhecem. Mas o maior beneficiário é quem fez o trabalho, que no final dele será sempre, um pouquinho que seja, melhor, mais ilustrado, mais conhecedor, mais preparado, mais capaz, do que estava antes de iniciar a tarefa.

Quem frequente uma Loja apenas para ver o que acontece, o que lá se passa, o que é dito e apresentado, muito pouco rendimento tira do seu tempo. Quem participa, colabora, auxilia, sugere, pensa, toma a iniciativa de propor ou de fazer, esse, sim, ao fim de cada ano sente que é diferente, melhor, mais capaz, do que era no ano anterior. E entende que, prosseguindo nessa linha, certamente é, no momento, pior do que será no ano seguinte.

O maçom ativo aprende que dar, trabalhar, fazer, tomar a iniciativa, ajudar, cooperar, são tudo atos do mais inteligente dos egoísmos, pois tudo, bem vistas as coisas, redunda no seu próprio benefício.

Claro que isto não é compreendido por quem vive (ou sobrevive) apenas para o dinheiro, os bens materiais, a passageira consideração social. Por isso a Maçonaria não é para todos. Mas isso não é nenhum segredo...

Rui Bandeira 

25 janeiro 2014

O Mundo quadrado!

(Fonte: Desconhecida, pesquisa em Google Imagens)

Por vezes esta é a forma como vejo o espaço onde vivemos!
Por vezes esta é a forma como me sinto envolvido pela iMundice em que diariaMente chafurdamos!

Por vezes, algumas vezes, de vez em quando!

Será que o Mundo podia ser menos Quadrado, se fosse gerido e liderado por aqueles, que se dizem, “Eu estou preparado”?
Será que seria melhor se tudo fosse mais Redondo e menos Quadrado?

Será?
Por vezes?
Quadrado?
Redondo?

Será que não estamos a ser Quadrados ao tentar arRedondar aquilo que na verdade deve de ser Quadrado?

Pois é, tantas questões e tão poucas ou nenhumas respostas, e logo num espaço onde se escreve sobre a Maçonaria Universal de uma forma tão brilhante e transparente.

Não deve ser a Maçonaria um espaço de crescimento, aprendizagem e de construção de homens melhores e assim serem capazes de a todo e qualquer instante dar respostas para tudo e mais alguma coisa?

- Se sim e se este é um espaço escrito por Maçons, como pode este Maçon ter tantas questões e tão poucas, ou nenhumas respostas?

Por isso mesmo!

- Exactamente por isso mesmo é que o Maçon não se considera um Homem perfeito, o Maçon é um Homem que trabalha diariamente no caminho da perfeição!

- Exactamente por isso mesmo é que existem tantas e tantas outras questões, sem uma resposta concreta e definida, porque o Maçon sabe que é através deste processo de se questionar, que vai ser levado a encontrar as respostas a todas as suas e mais algumas questões!

- Exactamente por isso mesmo é que o Maçon é, e afirma-se ser, um Homem Livre e de Bons Costumes, porque quando se questiona e busca respostas, fá-lo no uso total da Liberdade de Pensamento e em Plena Consciência, nunca no entanto quebrando a regra, de o fazer, de acordo com os Bons e Antigos Usos e Costumes!

-Exactamente por isso mesmo é que o Maçon não se afirma como Maçon mas é-o Reconhecido como tal, pelos seus iguais (Irmãos)!

- Exactamente por isso mesmo é que hoje vos deixo com todas estas questões e sem respostas, para que, se assim o entenderem, possam também procurar, um pouco mais, por vós próprios sobre o que é ser Maçon!

Exactamente por isso mesmo, hoje, termino este meu texto!
Disse!

Alexandre T.

03 janeiro 2013

Pelos olhos dos meus irmãos



Os três rapazes olhavam alternadamente, de soslaio, uns para os outros, depois para os próprios sapatos, para os dedos das mãos, e para as paredes do quarto, sem saber o que dizer mais. Todos estudantes, partilhavam um apartamento próximo da faculdade que frequentavam - os três, e mais o Sandro. Este último não estava presente - e era dele que se falava, sem se chegar a nenhuma conclusão pois, se todos sabiam o que quereriam dizer-lhe, não faziam ideia de como dizê-lo. 

O Sandro, sempre despistado, parecia viver noutro mundo, sempre ruminando um cigarro de enrolar - quantas vezes apagado. Desleixado consigo mesmo, fazia a barba de quando em quando, para logo a deixar crescer - não por ato de vontade, mas por inércia ou desleixo. Mas o pior era o cheiro: quer ele quer o seu quarto empestavam todo o apartamento com um misto de suor e tabaco frios com roupa de cama usada semanas a fio, tudo agravado pela absoluta ausência de desodorizante.

Se o Sandro fosse um pulha, um inútil, um egoísta, seria fácil dizer-lhe cara a cara que deixasse de ser porco, ou que o queriam dali para fora. Mas não era assim. Excelente aluno - apesar de sempre distraído, parecia que sorvia o conhecimento do ar - era-lhe reconhecida a enorme disponibilidade - e mesmo entusiasmo - para explicar, a qualquer colega que lho pedisse, os pontos mais densos da matéria, e isto até que este de facto a apreendesse. Por tudo isto, e por muito mais, todos tinham o Sandro por um tipo às direitas a quem nenhum deles queria melindrar. Mas a "tal questão" tinha, forçosamente, que ser abordada.

As indiretas não pareciam fazer efeito: "Então, Sandro, que te aconteceu? Estás todo transpirado! Toma um duche, que te ficas a sentir melhor..." "Deixa estar, estou a apanhar aqui um ventinho à janela e já seca..." Chegaram a fazer um "regulamento" do apartamento, referindo que os quartos tinham que estar limpos; o Sandro apanhou as coisas que tinha espalhadas pelo chão, enfiou tudo dentro do guarda-fatos - sapatos, roupa suja, livros, enfim... - aspirou sumariamente, despejou os cinzeiros, e apareceu, todo sorridente, a dizer que do quarto dele não havia nada a apontar! Foi depois disto que se reuniram os três, sem saber o que fazer ou o que dizer, e acabaram por ficar de pensar como abordar o assunto.

O Chico lá ganhou coragem e, apanhando-se sozinho com o Sandro, foi direto à questão: que  o odor do quarto dele incomodava todos os restantes ocupantes do apartamento, e que para resolver o problema ele precisava de passar a lavar a roupa com mais regularidade, bem como de tomar banho e usar desodorizante diariamente. O Sandro ficou branco; nunca se apercebera de nada. Pouco habituado a gerir essas questões - em casa dos pais era sempre a mãe quem tratava da roupa e o mandava tomar banho quando entendia que estava a precisar - não se apercebia, sequer, do próprio odor corporal. "Eu... eu não costumo usar desodorizante... e no banho passo-me só por água e uso um pouco de sabonete... e não tenho roupa suficiente para estar a usar roupa limpa todos os dias... nem tenho onde a lavar cá... só quando vou a casa, e muitos fins de semana tenho que ficar cá..."

Foi a vez do Chico ficar atrapalhado, mas por pouco tempo. Prometendo manter a questão entre os dois, colocou à disposição do Sandro o seu champô e uma lata de desodorizante, emprestou-lhe toalhas lavadas e uma muda de roupa, passou a levar para casa dos seus próprios pais a roupa do Sandro sempre que este não podia ir a casa dos seus. Além disso, assim como quem não quer a coisa, foi-lhe deixando de uma vez umas cuecas ("ficam-me apertadas mas na loja não aceitam trocas de roupa interior"), de outra umas camisolas interiores ("a minha avó mandou-me tantas que não me cabem na gaveta") e ia zelando por que nunca faltassem os produtos de higiene pessoal.

A vergonha inicial (de um e de outro...) fora difícil de superar mas, tendo tomado consciência do problema, o Sandro endereçou-o o melhor que sabia. O quarto - se bem que desarrumado - já não cheirava a nada de diferente dos restantes, pois até passara a fumar na varanda. Fez algumas economias, e comprou roupa em quantidade suficiente para que nunca lhe faltasse uma muda de roupa limpa, e deixou de precisar de recorrer à boa vontade do amigo. Ao fim de umas semanas parecia outra pessoa, para grande estupefação dos outros dois, que não perceberam de onde tinha vindo a mudança. O Chico, satisfeito com os resultados, nunca mais tocou no assunto, e o Sandro ficou-lhe para sempre reconhecido - por isso, e por todo o resto.

//

Não há homens perfeitos, e os que se esforçam por ser melhores e se aperfeiçoar só conseguem fazê-lo sozinhos até certo ponto. É certo que o caminho é o de cada um, e o paradigma de perfeição aquele que cada um tenha estipulado para si mesmo. Cada homem é senhor do seu destino, pelo que não é legítimo que um imponha a outro os seus próprios padrões de perfeição interior. Isso não significa, contudo, que não haja mérito na interação com os demais. Pelo contrário. É que, se há limitação que nos caracteriza a esse nível,  é a impossibilidade de nos vermos a nós mesmos como os outros nos vêem; incapazes de apreciar, quantas vezes, os nossos próprios defeitos, não nos apercebemos da sua natureza, da sua dimensão, ou até da sua mera existência.

Poder contar com alguém que, fraternalmente, no-los faça notar - especialmente quando se trate de questões íntimas, melindrosas, ou de difícil abordagem - é, nestas circunstâncias, de enorme valia. Ter a certeza de que essa ajuda é desinteressada, construtiva e bem intencionada é essencial para que seja tida na devida conta. E é assim entre os maçons: cada um procurando tornar-se melhor sabendo que esse aperfeiçoamento é um trabalho individual cujos parâmetros cabe a cada um definir, mas ao mesmo tempo disponível para ajudar os irmãos e para aceitar a sua ajuda naquilo que não é capaz de atingir por si mesmo.

Já a sabedoria para discernir em que circunstâncias se deve oferecer a mão, e em que circunstâncias se deve guardar silêncio em respeito por uma opção diferente da nossa, é algo que só se vai aprendendo com o passar do tempo...

Paulo M.

23 abril 2009

Crónicas da Polónia

Secret, discret ou ... paranoïaque? (ou la Franc-maçonnerie en Pologne)


Je me réfère, bien entendu, au Maçon, à sa condition de membre d’une Obédience, quelle qu’elle soit, et à sa manière de vivre la Maçonnerie dans le pays où il réside.

Pour moi, il existe principalement 4 situations distinctes :
- Les pays de tradition maçonniques, où l’on pratique les Rites mais sans ostentation particulière (France, Portugal, Suisse, Brésil, ...) ;
- Les pays anglo-saxons où la maçonnerie fait partie de la vie quotidienne (Grande Bretagne, USA, Australie, Nouvelle Zélande ...) ;
- Les pays gouvernés par des régimes totalitaires (ou autoritaires), avec qui la Franc-maçonnerie n’a jamais fait bon ménage (Chine, Russie, Egypte, Iran, ...) ;
- Enfin, les pays dominés par une religion d’Etat, et peu importe laquelle.

Parfois, deux situations cohabitent dans le même pays comme, par exemple, au Canada où, à l’entrée de la plupart des municipalités, un grand panneau affiche les logos de tous les organismes caritatifs de la ville et où l’on y voit, entre Lions et Rotary, l’Equerre et le Compas des Shriners. Vous me direz, aux Etats-Unis également mais, où j’en veux en venir avec le Canada, c’est qu’il y a une exception : le Québec. En effet, l’influence du clergé catholique est encore primordiale dans cette province et il serait préjudiciable de s’y faire reconnaître comme Maçon, au contraire du Canada anglo-saxon.

Pourquoi donc le clergé ? Revenons donc aux religions en général et à la mienne, le catholicisme, en particulier.

Même si notre Volume de la Loi sacrée est celui des grandes religions monothéistes, même si nous prêtons serment sur l’évangile de Jean, même si grand nombre d’ecclésiastiques ont appartenu, et appartiennent encore aujourd’hui, à la Franc-maçonnerie régulière, nous ne sommes pas en odeur de sainteté au Vatican.

Le grand reproche de l’Eglise catholique est qu’elle considère que la Maçonnerie propage le relativisme en matière religieuse, héritage du Siècle des Lumières, c'est-à-dire l'idée selon laquelle aucune religion ne serait supérieure à toutes les autres. D’où l’anathème lancé par Pie VII, en 1821, sur les Francs-maçons.

Je prends l’exemple de la Pologne, où je réside depuis plusieurs années. L’église catholique, sans être officiellement religion d’état ... l’est quasiment. Ne croyez pas que Karol Wojtyla est devenu Jean-Paul II para hasard. Ça a été la reconnaissance, par le conclave des Cardinaux, d’une église puissante qui, depuis des décennies, est présente dans les structures politiques et l’espace publique de l’état polonais à tel point que les associations laïques comparent la situation actuelle à la période de domination stalinienne.

Et c’est la présence permanente de l’église catholique dans tous les compartiments de la société qui fait que la maçonnerie est ce qu’elle est au pays de Frédéric Chopin.

La première loge a été créée en Pologne en 1730 (à une époque où la carrière des armes n’avait pas un caractère strictement national mais faisait que les soldats se mettaient au service de princes étrangers) sous la forme d'une association de gentilshommes et d'officiers polonais et pas seulement polonais.

Il convient de noter que, dès ses origines, la maçonnerie polonaise fut très ouverte, accueillit en son sein une majorité de maçons étrangers, intellectuels, notables ou militaires, et les travaux en Loge furent immédiatement organisés en langue française (ça, c’est pour mon ego)

En 1769, Varsovie devint la cinquième obédience indépendante après Paris (1728), Berlin (1744), la Haye (1756) et Stockholm (1760).

De cette époque à nos jours, les activités maçonniques en Pologne ont été secouées par les soubresauts dus aux multiples agressions qu’a dû subir l’intégrité de son territoire :

- Fin du XVIIIe siècle, la Pologne est rayée de la carte et totalement partagée par la Russie, l'Autriche et la Prusse. Seule la Prusse, qui occupe la région de Varsovie, tolère la maçonnerie. L'Autriche et la Russie prononcent son interdiction. ;

- Début du XIXe siècle, le Tsar Nicolas 1er, hostile à la Franc-maçonnerie, occupe militairement la Pologne ;

- Tout au long du XIXe siècle, la Pologne vit écartelée, une fois encore partagée entre la Russie, la Prusse (puis l'Allemagne) et l'Autriche. Durant cette période vont se radicaliser les milieux catholiques contre les Maçons à la suite de la publication de la Bulle papale Ecclesiam Jesus Christi, condamnant la maçonnerie ;

- À la fin de la première guerre mondiale, la Pologne recouvre sa souveraineté et, au bout de quelques années, 18 Loges regroupent environ quatre cents maçons actifs;

- Après le coup de force de 1930 contre les députés de l'opposition, un projet de Loi très répressif contre les francs-maçons est déposé. L'intention du pouvoir d'interdire la maçonnerie en Pologne culminera le 22 novembre 1938 : le décret d'interdiction est publié, les maçons poursuivis et interdits d'exercer dans la fonction publique ;

- L'invasion allemande du 1er septembre 1939 déclenche la Seconde Guerre mondiale. La Pologne est à nouveau partagée entre l'Allemagne nazie et son alliée de circonstance, l'Union Soviétique ;

- Après 1945, Le décret portant interdiction de la Franc-maçonnerie en Pologne, promulgué en 1938, n'a bien évidemment pas été abrogé lors de l'accession des communistes au pouvoir en Pologne et la Maçonnerie a été totalement mise en sommeil jusqu’en 1989 et la chute du mur de Berlin.

Lorsque je suis arrivé pour la première fois en Pologne, en 1997, j’ai pris contact avec la Maçonnerie locale et intégré la Loge La France. Si mes informations sont bonnes, environ 200 frères travaillaient à cette époque au sein de la Grande Loge Nationale de Pologne.

Remarquez qu’en 1924, le nombre de maçons était évalué à 400, donc la moitié moins, 75 ans plus tard.

Aujourd’hui, en avril 2009, et si mes informations sont toujours exactes, nous ne serions qu’un peu moins de 130 à appartenir à la GLNP, ce qui est vraiment peu pour un pays qui compte presque 40 millions d’habitants et, surtout, qui a une histoire maçonnique vieille de presque 3 siècles.

Pourquoi cette défection ? A cela, plusieurs raisons.

- Historiquement située au carrefour de plusieurs mondes, et dépourvue de frontières naturelles, la Pologne a toujours été extrêmement exposée aux invasions. Il suffit de constater ce qu’il s’est passé depuis la naissance de la maçonnerie, par exemple, pour s’apercevoir que la Pologne, entre 1772 et nos jours, n’a été réellement un pays souverain qu’une soixantaine d’années. Les réflexes d’auto-défense vis-à-vis d’un pouvoir, légitime ou non, sont toujours bien ancrés dans la mentalité polonaise ;

De plus, il existe une spécificité polonaise depuis le milieu du XVIIe siècle, lorsque la Pologne et la Lituanie formaient la République des Deux Nations, qui est le « Liberum Veto », j’interdis librement en latin. C’était un outil parlementaire qui autorisait n'importe quel député de la Diète polonaise à forcer un arrêt immédiat de la session en cours et annuler toutes décisions qui avaient été prises.

Si ce droit de veto a disparu avec l’annexion de la Pologne par la Russie, cette possibilité qu’auraient les Polonais de dire non est restée dans les mœurs. Plutôt qu’écouter fraternellement l’autre dans un esprit de dialogue, plutôt que de chercher à nourrir sa réflexion par la réflexion de l’autre, ou bien d’accepter avec une certaine humilité la complémentarité parfois de la réflexion de l’autre ou encore le bien fait de la remise en question d’une réflexion contraire, on dit : non ! Ce qui est la négation de la tolérance.

- Socialement, il faut savoir qu’un mot comme « bénévolat » n’existe pas dans la langue polonaise, on emploiera le mot «volontarius », dans le sens large « désigné volontaire d’office ». Le Polonais n’aime pas s’exposer. Il fuit les réunions, les rassemblements, les banquets, même les pique-niques ne trouvent pas grâce à leurs yeux. Alors, les assemblées de Maçons ... Même les agapes sont systématiquement ignorées, alors que l’ont sait l’importance fondamentale de recréer notre chaîne d’union à l’extérieur du Temple.

Une anecdote : une des premières planches tracée, après le réveil de la Maçonnerie en Pologne, avait comme sujet : si nos Frères Anglo-saxons ont le tablier noué sous leur veste, pourquoi pas nous ? Une manière comme une autre de dissimuler un peu plus l’appartenance à l’Ordre, même en Tenue de Loge ?

- Religieusement, l’Eglise Catholique a la main mise sur le pays. Et c’est une église radicale, pour ne pas dire fondamentaliste, dans la ligne pure et dure du Vatican. Pas la moindre concession, pas la moindre ouverture sur les sujets sensibles qui font débat. Et, en plus, complètement noyautée par l’Opus Dei. Pour ceux qui ne le savent pas, en 1982, c’est Jean-Paul II qui donne à l’Opus Dei son statut juridique définitif en l’érigeant en prélature personnelle. Cet état de fait renforce, bien entendu, un sentiment antimaçonnique déjà présent dans les sphères du pouvoir et, par voie de conséquence, un sentiment d’insécurité chez nos frères.

Paranoïa ou non ?

Un exemple parmi tant d’autres, lors de la campagne présidentielle en 2005, la station intégriste catholique et antisémite Radio Maryja - qui supportait le candidat Lech Kaczynski (qui fut élu) - avait traité un concurrent de "franc-maçon" (sic)

Et pourquoi cette référence à la Franc-maçonnerie ? Tout simplement parce que la radicalisation de l’Eglise catholique en Pologne a permis l’éclosion de partis d’extrème-droite comme le parti « neo-pilsudkiste » national KPN ou le parti national-chrétien fondamentaliste, qui s’est mué en Ligue des Familles Polonaises à la fin des années 90, et qui n’a jamais caché son soutien aux groupuscules, ligues et autres « Jeunesses Pan-polonaises » dans leurs bruyantes manifestations contre les « pédés, les communistes et les féministes ».

Et quoi de plus naturel que de reprendre à leur compte la fumeuse théorie du « complot judéo-maçonnique » cher au National Socialisme allemand et au régime de Vichy.

Inquiétant, non ?

Ce que je vais écrire maintenant est pure vérité. Un de nos Frères, étranger travaillant dans une entreprise étrangère à Varsovie, n’a jamais communiqué le numéro de son portable, ni son adresse électronique. Pourquoi ?

Parce qu’il sait, et pour cause, que des logiciels performants ont été développés en Pologne, capables d’identifier des mots clefs comme maçon, loge, tenues, mais aussi communisme, avortement, homosexuel, etc, et qui permettent l’enregistrement automatique de conversations téléphoniques et/ou le copiage de courriels. Sans parler des « hackers » bien intentionnés, toujours prêts à s’immiscer dans des disques durs qui ne leurs appartiennent pas.

Qui a parlé de « chasse aux sorcières » ? Un rappel, nous sommes au XXIe siècle et la Pologne est membre de l’Union Européenne.

C’est pour tout cela que je suis persuadé que la Maçonnerie en Pologne restera ce qu’elle est aujourd’hui, marginale.

Bien sûr, il y aura toujours une poignée d’intellectuels, soutenus dans leurs efforts par la très grande diaspora polonaise que l'on retrouve principalement en France, aux États-Unis et en Grande Bretagne, qui auront à cœur de perpétrer les traditions de l’Art Royal, mais ce groupuscule de Frères aura les plus grandes difficultés a fédérer suffisamment de membres afin de donner au pays la Grande Loge que la Pologne pourrait mériter.

Tout est une question de mentalités.

Je tiens à préciser que ce texte ne reflète que ma propre vision de la Maçonnerie en Pologne et n’engage, bien entendu, que moi.
Jean-Pierre GRASSI

28 outubro 2008

A decisão


Duas dezenas de homens numa sala fechada. Ambiente de concentração. Decisões a tomar. O projeto, já anteriormente decidido, já estava em andamento. Mas havia que acertar as regras do seu funcionamento. Era altura de decidir sobre essas regras. O que tinha sido proposto já todos sabiam. Noventa por cento concordava com tudo ou, pelo menos, não tinha objeções essenciais em relação ao projeto que se ia discutir. Dez por cento concordava com noventa por cento do projeto. Mas esses dez por cento tinha discordâncias quanto aos restantes dez por cento da proposta...

Parecia que não seria difícil resolver. A esmagadora maioria concordava e mesmo os que tinham discordâncias era em relação a uma ínfima parte do que se discutia.

Mas aqueles homens eram todos homens que pensavam pela sua cabeça. Privilegiavam a razão. Sabiam que nem sempre ser o maior número implica ter-se razão. Apreciavam o debate, a discussão, o sopesar de argumentos.

O debate começou. Os argumentos foram apresentados. Depois reforçados. Seguidamente esgrimidos. Um que outro, aqui e ali, mostrava entusiasmo na defesa do seu pensamento. Entusiasmo para um lado, entusiasmo para o outro, aquecia o debate entre 90 % e 10 % em relação a 10 % de discordância no meio de 90 % de concordância. Como se afinal metade pensasse branco e a outra metade apontasse negro.

Quando tão poucos discordam de tantos em relação a tão pouco, a discordância pode confundir-se com teimosia, quiçá obstinação. Quando tantos veem tão poucos a discordar em tão pouco, pode surgir a tentação de usar a força do número, a imposição da maioria. Afinal, democracia também é isso, o seguir da opção da maioria...

Mas um dos discordantes fundamentava que a sua discordância era de princípio, que até concordava com a solução, não admitia era que fosse estipulado que era obrigatória. Se assim fosse, sentiria violada a sua liberdade. Os noventa por cento consideravam que era um preciosismo, um excesso de sensibilidade. Mas pensaram de novo. Se havia quem sentisse que algo intoleravelmente feria a sua liberdade, resolver o problema era o mínimo que tinham a fazer. E, conversa daqui, puxa dacolá, tesourada à esquerda, ponto e linha à direita, lá se achou maneira de deixar claro que a regra era fazer assim, mas quem em cada momento em concreto se opusesse podia exigir assado. Ficou a regra e ficou salvaguardada a liberdade de cada um.

Depois, outro dos discordantes mostrava o seu desconforto em relação a outro ponto, à forma como se apresentava algo. Parecia a muitos um excesso de zelo, um receio demasiado, uma prudência excessiva. Mas, bem vistas as coisas, para quê arrastar um para algo que lhe parecia uma imprudência? A quase todos parecia que era prudência excessiva. Mas para quê impor ao prudente o desconforto do que ele considerava imprudência? De novo, todos pensaram melhor. E concluíram que, se o prudente não devia travar todos os demais, também todos os demais deviam atender ao temor deste. Ficou assim decidido que se avançaria de determinada maneira, mas que, especificamente em relação a quem achasse melhor que se fizesse de mais cautelosa forma, assim se procederia. E assim nem ninguém era travado, nem ninguém seguia a velocidade que considerava louca...

Já só faltava um detalhe, quase que só uma palavra. Mas aí uns achavam que sim e outros que não. Aos que achavam que sim, parecia-lhes que avançar sem algo não valia a pena. Os que achavam que não, esses entendiam que o algo era mesmo para não avançar. Aqui parecia não haver consenso possível, saída airosa, exceção exequível. Era sim ou não. Noventa por cento discordava de dez por cento quanto a meio por cento. Mas esse meio por cento constituía uma discordância insanável.

O consenso busca-se, mas não é um princípio sagrado. Sempre que é possível, deve obter-se consenso, mas, quando não é, decide a maioria. Esta a ideia que bailava na cabeça de todos. A votação estava iminente. A discussão já cansava. Eis então que voz respeitada, até então silenciosa, lembra que as mudanças não são aceites por todos ao mesmo tempo, que os novos hábitos são seguidos com maior dificuldade por uns do que por outros. E sugere que se dê tempo ao tempo. Para que quem receia tenha tempo e possibilidade de se habituar. E quiçá dissipar os seus receios. E de novo todos pensam melhor. E concluem que não há mal nenhum em só tomar a definitiva decisão, em relação ao último ponto em que não havia consenso, tempos mais tarde. Que entretanto se praticaria uma versão limitada e experimental do que muitos queriam e alguns rejeitavam, para se ver os resultados. E depois, mais tarde, se veria se as objeções permaneciam.

E assim se decidiu. E todos os homens saíram da sala fechada. E foram recuperar do esforço de tanto debater e discutir tomando em conjunto uma refeição. E, assim fazendo, de mil coisas conversaram. Menos do que tinham debatido. Isso já não era preciso. E já não havia noventa por cento nem dez por cento nem meio por cento. Eram todos. Como sempre foram. Como há muito tinham aprendido a ser, em mútuo e inabalável respeito mútuo. Porque um é tão importante como todos e todos têm a importância que cada um ao conjunto dá.

Chamam a estes homens maçons. Os que estão de fora temem a sua união. Eles constroem-na, acarinham-na, fabricam-na, dia a dia, momento a momento. Também quando discordam. Sobretudo quando discordam!

Rui Bandeira

09 outubro 2008

Ser maçon é...

...conciliar o egoísmo com o altruísmo...

Conceitos aparentemente opostos e impossíveis de harmonicamente se justaporem e operarem em simultâneo! No entanto, a natural e intuitiva conciliação entre estes dois opostos integra a essência da condição de maçon.

O maçon deve prosseguir o egoísmo de se aperfeiçoar a si mesmo, como objetivo principal. Não aperfeiçoar os outros, a Sociedade, a Loja ou seus Irmãos. Aperfeiçoar-se a si mesmo: este o verdadeiro e essencial objetivo do maçon. Nesse processo, o maçon descobre que uma ferramenta de inestimável valor é a sua interação com seus Irmãos, com eles e através deles aprendendo, intuindo, tateando, tenteando, reconhecendo e percorrendo o caminho do seu aperfeiçoamento pessoal, aqui largo e prazenteiro, ali rude e pedregoso, acolá estreitamente demarcado, mais adiante dificilmente reconhecível em suas fronteiras. E, egoística mas indispensavelmente, aproveita tudo o que pode - tudo o que deve! - do que seus Irmãos, a sua Loja, a sua Obediência, lhe proporcionam e que se revele útil para o pretendido aperfeiçoamento: uma ideia aqui, um pensamento acolá, uma lição deste, um conselho daquele, desejavelmente o exemplo de muitos, se não todos. Tudo, desde o mais brilhante artefato, ao simples resquício de uma sombra de um leve conhecimento, deve ser avaramente guardado, diligentemente aproveitado, oportunamente utilizado na construção a que cada um incessantemente se deve dedicar: a construção dele próprio, do seu caráter, do espírito livre e puro e capaz de evoluir, de pairar, de avançar para desconhecidos limites até para além do Ilimitado. E assim cada dia vai um pouco mais longe, é um pouco melhor, é, afinal, maçon!

Mas o maçon depressa aprende que, tal como os seus Irmãos são inestimável ferramenta para sua melhoria, assim também ele próprio é, por sua vez, não desprezável ferramenta para a demanda efetuada por cada um de seus Irmãos. Logo intui que, ao tirar, também põe, e é tirando e melhorando que cada vez mais põe para que outros também tirem, e por sua vez melhorem, e reponham, e lhe permitam de novo algo mais retirar, num infindável e frutuoso círculo virtuoso.

Nenhum maçon é maçon sozinho. Só se é plenamente maçon no confronto com seus Irmãos, dando e recebendo e todos assim aproveitando. O todo é, cada vez e cada vez mais, sempre superior à soma das partes. Esta inata cooperação, em que cada um gostosamente contribui para o Outro é condição indispensável para que cada um retire o seu salário da Arca da Loja - e cada vez retire mais e melhor salário.

Portanto, o maçon é altruísta como meio de prosseguir o seu egoísta objetivo de aperfeiçoamento e coloca o resultado em cada momento egoisticamente obtido ao altruísta dispor dos demais.

... viver a vida plenamente e não temer a morte...

Na demanda do Graal de cada maçon, rapidamente cada um se apercebe de que é bem mais do que mera acumulação de ossos e sangue e carne e vísceras, matéria fremente e animada, que um dia se gastará e quedará inanimada. Logo questiona a origem e a razão da existência da Vida e do Universo. E busca o seu significado. E encontra suas respostas, tendo presente e reconhecida a noção do Grande Arquiteto do Universo - do SEU Grande Arquiteto do Universo, seja o que reconhece da religião que pratica, seja o que entrevê através da sua própria Razão, em pessoal teologia, tão válida como qualquer religião instituída. E assim percebe o seu lugar na Vida e no Universo - e alcança a Paz. Paz consigo mesmo, Paz com o sentido da Vida, Paz com a perpétua evolução.

Cada maçon aprende - desejavelmente aprende, mais cedo ou mais tarde! - que a vida física, material, é apenas parte da Vida com V maiúsculo. Que o invólucro que é o nosso corpo, com suas dores e cansaços e doenças e envelhecimento e inexorável fim, é apenas isso, a vasilha que transporta e contém e protege o verdadeiramente valioso conteúdo que cada um de nós realmente TEM (que digo eu? É!), tantas vezes sem o saber, sem sequer o intuir. Conteúdo a que uns chamam alma, outros espírito, outros ainda outra coisa qualquer e que eu gosto de designar pela Centelha Divina que existe em cada um de nós, que é a razão de ser de cada um de nós e que sobrevive para além da materialidade de cada um de nós.

Ao compreender isto, o maçon entende que a vida física é parte do conceito mais abrangente da Vida (com V maiúsculo), como fator indispensável à evolução dessa Vida, por isso que existe, pois, se o não fosse, não teria razão para existir - seja-se criacionista, seja-se evolucionista, é território aprazivelmente neutro e comum a conceção de que o que não tem razão para existir, papel para desempenhar...não existe ou se, por erro ou acaso, existiu, extingue-se... Mas, sendo a vida física apenas parte da Vida (com V maiúsculo), é apenas um episódio, certamente importante, mas só um episódio. E, ao compreender isto, pode viver plenamente e em Paz esse episódio, aquilo a que chamamos a nossa vida, o tempo que nos é concedido entre o nascimento e a morte.

E, assim compreendendo, está em condições de não temer a morte física, que pode entender como mais uma Iniciação, uma Passagem, uma Elevação a um novo estádio da Vida (com V maiúsculo).

Uma obra do género designado por ficção científica, cujo título há muito esqueci e cujo autor também há muito olvidei, postulava que existia na vida da Humanidade um terrível segredo. Segredo que, algum dia, alguém descobriu e que era que, afinal, toda a Humanidade via o filme ao contrário: aquilo que temos por nascimento é afinal a morte, a degradação para o plano físico de algo mais puro e perfeito, e que aquilo que se tinha por morte é então o verdadeiro nascimento para o próximo passo da evolução da nossa Essência. Essa esquecida obra de esquecido autor será porventura mera e imaginosa caricatura. Mas não vemos nós que em toda a caricatura está, quiçá de modo deformado, o traço da realidade?

Ao entender que vale muito mais do que o seu invólucro material, o maçon aprende a viver plenamente a vida e a não temer a morte.

... viver a Iniciação em todos os dias da sua vida...

O maçon, quando iniciado, recebe lição, noções, princípios, afinal ferramentas que - muitas delas - não entendeu plenamente nessa ocasião. De algumas porventura nem mesmo se apercebeu então. Só mais tarde, revivendo a Iniciação, participando na Iniciação de outros, a pouco e pouco tudo vai entendendo e encaixando. E, fazendo-o, se bem refletir, verá que o que viveu , o que ouviu, o que sentiu, as lições que recebeu naquela ocasião são um guião de vida que deve ter sempre presente.

Se o maçon se comportar sempre de acordo com o que simbolicamente viveu na sua Iniciação, com o que ouviu, com as lições que aí recebeu, será efetivamente um Homem Livre e de Bons Costumes. Se viver de forma conforme com a lição da sua Iniciação, viverá bem, será útil a si próprio, aos outros e à sociedade. Nada mais precisa de fazer. Nada mais lhe é exigível.

No fundo, uma das coisas que é agradável na Maçonaria é a sua desarmante simplicidade: não são precisas grandes invenções, não são necessários etéreos princípios. Para se ser Digno, Justo e, tanto quanto humanamente possível, Perfeito, para aliar a Sabedoria à Força e à Beleza, para viver em Liberdade e em Fraternidade segundo os princípios da Igualdade, só é necessário proceder segundo o que aprendeu na Iniciação. E, chegada a hora, poderá pousar as suas ferramentas em Paz e com a noção do dever cumprido.

... conhecer e praticar os sinais , palavras e toques...


Não há que inventar! Está num texto que o Aprendiz deve conhecer e não se deve nudar o que está bem:

Um maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

É afinal tão simples ser maçon!

... Ser, simplesmente e verdadeiramente Ser - não Parecer!

O maçon, beneficiando da absorção, na sua personalidade, no seu caráter, na sua prática de vida, dos princípios que recolhe na Loja e na Fraternidade - afinal, dito mais simplesmente, aperfeiçoando-se - só precisa de Ser. Ser como é. Ser aquilo em que se transforma. Fazendo-o, vale a pena ser maçon, o salário está ganho, o objetivo é atingido.

No fim como no princípio, a noção-chave é a de aperfeiçoamento individual. Que se obtém pelo trabalho, pelo esforço, pela dedicação. Que se pratica. Que não se consegue parecer que se obteve!

Inútil é tentar "parecer" maçon. Tarde ou cedo - mais cedo do que mais tarde! - os que efetivamente são maçons reconhecem que quem quer "parecer" sem "ser" não é efetivamente um maçon. Quando muito, poderá ser um profano que passou por uma iniciação, mas não foi verdadeiramente iniciado. E esse pode continuar a tentar "parecer" à vontade. Nenhum verdadeiro maçon se incomodará com isso. Mas nenhum verdadeiro maçon o reconhecerá como tal, até que deixe de tentar Parecer e tente começar a Ser.

Rui Bandeira

02 julho 2008

... e do resultado.

Respeitando o tempo, o modo e o lugar necessários para que o objectivo pretendido seja atingido, o maçon logrará atingir o resultado que busca. Que resultado é esse? Que busca o maçon? A que se destina a Maçonaria? Ao mais egoísta e, simultaneamente, altruísta, dos objectivos: o aperfeiçoamento pessoal!

A Maçonaria não respeita a melhorar o Mundo ou o outro. Respeita a melhorar a si mesmo. Cada um, para o fazer, precisa de tempo, precisa de achar o modo a si adequado para tal, precisa de trabalhar no lugar que lhe possibilite atingir seu objectivo.

Ser melhor enquanto pessoa, ser melhor em termos éticos. Mas não só. A interacção com seus Irmãos permite que o maçon seja melhor em aspectos muito práticos, na medida em que burila as suas deficiências.

O maçon deve estudar as artes e ciências - e assim melhora a sua cultura geral e a sua capacidade de agir social e profissionalmente. O maçon aprende, por exemplo, a falar em público - terror de muita gente! - e isso vai constituir porventura importante vantagem no seu desempenho profissional.

O maçon aprende a dar valor à perfeição, a esforçar-se por dela se aproximar tanto quanto possível. E habitua-se a assim agir no seu dia a dia. Consequentemente, faz melhor, é mais cuidadoso, mais pormenorizado, mais atento. Naturalmente que melhorará o seu desempenho.

O maçon aprende a ouvir e a respeitar quem fala. A argumentar segundo a valia dos argumentos e não segundo a pessoa com quem porventura se defronte. Melhora o seu sentido de lógica. E, portanto, está mais bem armado para obter vencimento sempre que necessita de argumentar.

O maçon habitua-se a trabalhar quando é para trabalhar e a confraternizar, quando é hora de confraternizar. Sabe, assim, frutuosamente integrar-se no seu meio social.

O maçon desperta para a Emoção e integra-a com a Razão. É, assim, um homem mais completo.

O maçon habitua-se a interpretar e a lidar com o sentido da Vida e da Morte, da Criação e do Criador, do Universo e do Detalhe. Elabora assim a sua concepção do Universo, da Vida e do seu sentido e do seu próprio lugar na Vida e no Mundo. E, com isso, fica em Paz!

O maçon, com tempo, trabalho a seu modo e no lugar adequado, logra atingir algo que é muito básico e de importância conhecida desde a Antiguidade. No entanto, pelos vistos tão difícil de atingir. Logra atingir um enorme tesouro. CONHECER-SE A SI MESMO. E, ao consegui-lo, tem - então e só então! - as portas do infinito conhecimento abertas de par em par diante de si. Se, como e em que direcção as franqueia, é consigo e só consigo.

O maçon julga sê-lo quando foi iniciado. Depois de muito tempo e trabalho a seu modo, executado no lugar correcto, conclui que só muito depois começa a sê-lo. E que só continua a sê-lo se persistir no trabalho, até à hora em que que for hora de pousar suas ferramentas.

O prémio do maçon é não ter prémio. E entender que dele não precisa. Porque está - estava! - dentro de si desde o início. Ele é que não sabia!

O resultado é - finalmente! - tão só ser verdadeiramente maçon.

Tão simples como isto! E não deve ser mau, já que tantos em tantos lugares persistem fazendo o mesmo por tanto tempo...

Rui Bandeira

01 julho 2008

... do lugar ...

Já falei do tempo e do modo como se faz um maçon. É agora altura de falar do lugar.

Parecerá óbvio dizer que, para um maçon se fazer e crescer, o lugar próprio e indispensável é a Loja. Só comparecendo em Loja, só participando nas reuniões desta, o maçon reúne o acervo de informações de que necessita. Note-se que - já muitas vezes aqui o referi - o processo de construção do maçon, do seu templo interior, não é passível de ser ensinado. Tem que ser apreendido pelo próprio e assim por ele aprendido. Através do contacto com seus Irmãos; mediante a execução e progressiva familiarização com o ritual e consequente aquisição, compreensão e interiorização das lições e princípios morais que o mesmo encerra; pela observação dos variados símbolos em que o espaço da Loja é fértil e progressiva compreensão do significado de cada um, individualmente adquirida; com a interiorização de tudo o que o impressiona e consequente transformação pela integração no seu eu do resultado dela; porque o processo de formação de um maçon, mais do que uma aprendizagem clássica, é o resultado de um acumular perceptivo, tão direccionado à Emoção como à Razão.

Mas será porventura menos óbvia a afirmação que inicia o parágrafo anterior, se se atentar que logo a frase seguinte aplica dois sentidos diferentes de Loja: Loja enquanto espaço físico de reunião de maçons, como sinónimo de Templo ou, talvez melhor, do local onde fisicamente as reuniões maçónicas se efectuam; Loja enquanto conjunto de maçons agrupados na unidade básica e essencial da Maçonaria. Direccionada a nossa atenção para esta dicotomia, será possível atentar, então, na menos evidente noção de que o lugar de formação de um maçon é tanto o lugar de reunião dos maçons como o acto de estar entre e com os seus Irmãos. Não apenas por com eles estar; não só por com eles conviver; mas por ser no meio deles e com eles que obtém e afina as ferramentas que moldarão e aperfeiçoarão o seu carácter, permitindo que venha a efectivamente construir-se maçon.

Por outro lado, deve-se ter ainda presente que a Loja espaço físico simboliza todo o Universo (um dia destes desenvolverei este conceito) e a Loja grupo de maçons simboliza a Sociedade que se pretende ideal. Então trabalhar no espaço físico da Loja deve ser tido como símbolo de trabalhar no espaço de todo o Universo. Ou seja, o maçon constrói-se no espaço físico da Loja mas, na medida em que esse espaço físico da Loja simboliza todo o Universo, o maçon em construção deve apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, deve ocorrer em todo e qualquer local onde se encontre. E, na medida em que a Loja grupo de maçons simboliza a ideal Sociedade em construção, o maçon constrói-se no contacto e mergulhado no grupo de seus Irmãos mas deve também apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, é um esforço e um acto e um desígnio que constantemente deve efectuar, realizar, prosseguir, esteja junto de quem esteja, maçon ou profano.

Concluindo: o trabalho de construção de um maçon começa e decorre necessariamente em Loja e com a Loja. Mas prossegue e afirma-se, também necessariamente, no local e junto de quem a Loja, em ambas as suas noções, simboliza, isto é, em todo e qualquer lugar onde se encontre o maçon, junto de toda e qualquer pessoa com quem o maçon interaja.

Do lugar restrito e a coberto dos profanos para todos os lugares; de entre seus Irmãos, assegurando-se que o são pelos modos de reconhecimento que são próprios dos maçons, para junto de toda e qualquer pessoa, maçon ou profano, justo ou pecador. Porque o lugar onde se faz um maçon é um ponto de partida e logo um percurso. Com um único lugar de chegada, definido por uma hora, a da sua meia-noite. Nesse lugar, do recôndito ao imenso, nesse percurso, o maçon deve prosseguir sempre e incansavelmente seu trabalho de se fazer maçon - sem direito a horas extraordinárias nem a subsídio de deslocação...

Rui Bandeira

25 junho 2008

... do modo, ...

Se o tempo é indispensável, o modo é variável. Cada um é como é. Cada um chega com vivências próprias e diferentes dos demais. Cada um tem a sua forma particular de reagir e de evoluir.

Este é um calmo observador, que pacatamente absorve o que se passa ao seu redor, processa-o no interior de si e, sem se dar por ele, sem que se lhe veja grande actividade - às vezes parecendo mesmo desinteressado -, um belo dia desabrocha e surpreende a todos. Aquele é hiper-activo, quer participar, fazer, misturar-se, aprender ontem, para experimentar hoje e aplicar amanhã, um furacão de ânsia e acção, que desperta nos mais antigos preocupações de desastre iminente. Mas procura, investiga, experimenta, fura, bate algumas vezes com a cabeça na parede, cai e levanta-se, erra e corrige e, no fim, compõe o aspecto e, com um sorriso cândido, mostra que está pronto. O outro parece falho de iniciativa, parece nada fazer por si mesmo, necessita de ser constantemente guiado, estimulado, que se lhe aponte o caminho e que, quando nele surge uma bifurcação, que se lhe indique qual a vereda mais aconselhável. Mas, a pouco e pouco, vai ganhando confiança e, a dado passo, mostra que já sabe andar sozinho. Outro ainda olha, extasia-se, procura, volta atrás, mira, remira, sai do caminho para ver o que está além, regressa para espreitar um pouco mais adiante, e pára de novo e vê, revê, admira e espanta-se, qual visitante em exposição barroca. Parece perdido e diletante. Um dia, quando todos já desesperam com suas idas e vindas, suas digressões, paragens, experiências e admirações, pára e anuncia que já viu como é o mapa e a sua orientação, afirma que o caminho é por ali e segue-o resoluto. Há aquele que quer fazer seu percurso sozinho e com o mínimo de perturbação e o que só avançará acompanhado. O que estuda e medita e o que brinca enquanto experimenta. Um aprecia particularmente o convívio, outro a introspecção. Um é pacato, outro é espalha-brasas. Este faz, aquele observa, aqueloutro constrói, adiante um outro abre o boneco para ver como é por dentro, um precisa de ver, o outro acredita se lhe disserem.

Em resumo, cada novo elemento que está a aprender a ser maçon é único e diferenciado dos demais. Tem, portanto, de ser entendido e aceite pelos que já estão na Loja como a individualidade única que é. Não há "planos quinquenais" para fazer maçons. Cada um é ele. Cada um tem direito - e incumbe à Loja e aos mais velhos assegurá-lo e respeitá-lo - ao seu "plano individual" de evolução. Não é fácil para quem está. Mas também sabemos que quem entra também está enfrentando dificuldades... Às vezes, um novo elemento lembra-nos um outro que, anos atrás, falhou a sua integração. E, preocupados, há quem duvide, quem alerte, quem queira intervir para evitar que seja seguido o mesmo caminho que levou a mau resultado. E há quem, embora alerta, embora atento, o deixe seguir o caminho que escolheu, limitando-se a avisar para o abismo que ao lado está, esperando que o avisado o evite e passe onde, antes dele, outros caíram.

A Maçonaria é um santuário de respeito pela individualidade e pelo indivíduo. Actua como e é uma Fraternidade, que trata os seus membros em plena Igualdade, mas reconhece-lhes inteira Liberdade. Nós não só aceitamos como prezamos a diferença. Porque é enriquecedora. Porque, quanto maior diversidade tiver o grupo, a Loja, mais forte e eficaz e adaptável ele é. Aquele cujas características durante algum tempo parecem pouco valiosas é o que, perante determinado escolho, conduz o grupo à sua ultrapassagem. Ninguém é indispensável nem insubstituível. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis - esta é uma das minhas frases preferidas. Mas também nenhum de nós pode ser dispensado, esquecido, deixado para para trás. É um dos nossos e ponto final! Se for preciso, carregamo-lo agora. Dia virá e que será ele que nos carregará a nós. É disto que se faz o cimento que une um grupo.

Portanto, o modo como cada um se faz maçon, como cada um evolui, como cada um cresce, é com cada um. Cabe ao grupo reconhecê-lo, respeitá-lo e ajudá-lo, sem o querer "formatar". Porque um maçon ou é informatável ou não é, de todo, maçon! E, se vai errar, a solução não é impedi-lo de errar. É, seguramente, avisá-lo que caminha para o erro. Mas, se persistir, temos o dever de o deixar fazer o seu caminho, mesmo que o pensemos errado, mesmo julgando que a sua velocidade é demasiada. Porque o que é errado para nós pode ser certo para ele. Porque o aviso feito pode ser útil para que, no momento asado, ele evite o desastre que tememos. Ou, simplesmente, porque todos temos direito a errar! Ponto é que saibamos assumir que errámos, sofrer as consequências do nosso erro e tirar as devidas conclusões! Afinal de contas, muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com mil lições... E, se o erro ocorrer, se o Irmão cair, o que temos de fazer é ajudá-lo a levantar-se. Cabe-lhe a ele lamber as feridas e ser capaz de prosseguir, desejavelmente com mais ponderação.

Concluindo: aquele que se junta a nós deve estar preparado e aceitar que necessita de respeitar e aproveitar o tempo, indispensável para a construção do seu Templo. E o grupo que o recebe deve ser inflexível na exigência do decurso do tempo necessário. Mas aquele que se junta a nós tem, como individualidade própria que é, o seu modo particular de aprender, de reagir, de crescer, de evoluir. Tem o direito ao seu modo. E cabe ao grupo descobrir que modo é esse, respeitá-lo e auxiliar na sua execução.

Ser maçon demora tempo, mas faz-se de muitos modos. Tantos quantos os maçons.

Rui Bandeira

24 junho 2008

Do tempo, ...

Já aqui o mencionei. Fui iniciado na Alemanha, no último ano da década de oitenta do século passado. Não residia na Alemanha. À míngua de existência, na época, de Maçonaria Regular em Portugal, e aguardando a sua institucionalização aqui, optei por seguir o conselho do meu padrinho, um alemão que, na altura se encontrava em Portugal, e buscar a Luz numa Loja de língua espanhola de Bona, a Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, minha Loja-mãe. Aí fui iniciado. Aí, cerca de um ano depois, fui passado a Companheiro. E foi como Companheiro que ingressei na Loja Mestre Affonso Domingues, pouco tempo depois da sua Consagração, em pleno período de reconhecimento internacional da emergente Maçonaria Regular em Portugal. Assim o decidi, assim o fiz. Mas paguei um preço. É esse preço que constitui o ponto de partida deste texto. Para que se entenda que todas as escolhas têm um preço. Também em Maçonaria. Talvez particularmente em Maçonaria.

O preço que eu paguei foi que não aprendi a ser maçon, o que era a Maçonaria, o que deveria ser e fazer e procurar, no tempo em que o deveria ter aprendido. O facto de ter sido iniciado na Alemanha e residir e trabalhar em Portugal e não poder deslocar-me regularmente à Alemanha, levou a que viesse a ser passado a Companheiro na terceira reunião da Loja em que participei. Leram bem: participei na sessão em que fui iniciado, participei numa outra, meses depois e, cerca de um ano depois da minha iniciação... interstício decorrido e ultrapassado, compareci a uma terceira sessão... para ser passado a Companheiro. Só em Portugal, e na Loja Mestre Affonso Domingues, vim a participar regular e assiduamente nos trabalhos da Loja.

O tempo de Aprendiz serve para isso mesmo: para aprender. Para aprender o que é ser maçon, o que é estar e integrar-se numa Loja, o simbolismo subjacente a tudo o que nos rodeia, o que se deve fazer, como se deve fazer, porque se deve fazer de uma maneira e não de outra. É um tempo de preparação e de início de mudança pessoal. Será complementado com o tempo e a actividade enquanto Companheiro. Para que, chegado a Mestre, se esteja habilitado a usar as ferramentas de beneficiação do nosso carácter que só devemos pousar quando a nossa meia-noite chegar.

Esse tempo não é apenas tempo. É trabalho. É presença em Loja. É observação. É meditação. É tentativa, erro e correcção. É um processo, quantas vezes não conscientemente notado, de mudança, de aperfeiçoamento.

Desse tempo, desse trabalho, não beneficiei. Não o utilizei um nem executei o outro. As circunstâncias foram o que foram. E eu aceitei-as. Mas paguei o preço. O preço que paguei foi que só considero que aprendi a ser maçon, a entender o que é e deve ser um maçon, a fazer o que deve ser feito, já era Mestre e bastante tempo depois de a tal grau ter sido elevado.

Isso teve uma única vantagem: aprendi naturalmente que o Mestre deve sempre continuar a ser e considerar-se um eterno Aprendiz, sem qualquer dificuldade, porque efectivamente fui um Aprendiz em avental de Mestre.

Mas esta opção que então fiz envolveu - compreendo-o hoje! - um enorme risco. O risco de nunca encontrar o caminho. De me perder e porventura levar a que outros se perdessem. O risco de não saber fazer, porque o fazer e, portanto, de nada de jeito aprender. Porque não estava preparado. Porque fazia coisas antes de tempo. Antes de realmente saber o seu significado. Não só com a cabeça. Também, e principalmente, com o coração e com o espírito.

A minha sorte terá porventura sido que, naquela época de organização e institucionalização da Maçonaria Regular em Portugal, tirando muito poucos, pouquíssimos, todos estavam a aprender. Em conjunto. Errando e tirando lições do erro. Não fui apenas eu. Outros foram - porque era imperioso que fossem! - Mestres antes do tempo. Temos hoje a consciência disso. Alguns - como eu - aprenderam e cresceram e evoluíram. Outros - mais do que nós gostaríamos que tivessem sido - ficaram pelo caminho. Nunca chegaram verdadeiramente a entender o que é ser maçon, por muitos aventais bonitos e graus e títulos que porventura tivessem ostentado. Esse foi um preço que teve que ser pago.

Mas esse é um preço que nós, os que tivemos a honra de ser pioneiros, não queremos que aqueles que agora se juntam a nós paguem. Porque não precisam. Porque eles têm tempo. O tempo que nós não tivemos e que, felizmente, os que conseguiram passar o cabo da "aprendizagem em movimento", trabalharam e trabalham para que os que agora se nos juntam tenham.

Por isso, a minha mais insistente recomendação aos Aprendizes da minha Loja é que não tenham pressa. Que dêem tempo ao tempo. Que trabalhem, que se integrem, que meditem, sempre sem pressa. A Maçonaria não é uma ciência. Nem uma filosofia. É um estilo de vida. Que, mais do que se aprender ou se seguir, se entranha no maçon. Quase que por osmose. O importante é estar, estar atento, estar disponível. Um dia, quase que sem darmos por isso, tudo começa a encaixar, tudo faz sentido. Então, entende-se que a Ética do maçon só poderia ser a que é. Que o nosso comportamento é o que deve ser. E não se faz esforço nenhum para se ser melhor. Naturalmente, tornamo-nos melhores. Como uma criança cresce, assim crescem os maçons. Porque ética e espiritualmente crescem. Como uma criança precisa de tempo para crescer, assim dele também os maçons necessitam.

Tempo. Talvez, bem vistas as coisas, o bem mais precioso de que dispomos. Não tenhamos pressa de o gastar. Não o vejamos como um empecilho. Que todos e cada um dos Aprendizes saibam aproveitar e usar o seu tempo enquanto tais. Demorará talvez muito até o compreender, mas um dia será possível entender que não foi um tempo desperdiçado.

Rui Bandeira

23 junho 2008

Como entrar na Maçonaria - II

Lancei aqui há uns tempos o tema “Como entrar na Maçonaria”. Iniciei com um post simples pedindo opiniões, que obtive.

Comecei então a passar “a papel – electrónico entenda-se” o texto a apresentar. De repente ainda não tinha escrito quase nada e já ia em 3 ou 4 páginas.

Decidi então dividir o Post em pelo menos 2 partes, primeira das quais publico hoje e a(s) seguinte(s) em dias futuros mas não distantes.



É a minha convicção, baseada em tudo o que li, que não existe um método absoluto, nem existe uma fórmula certa e outra errada, para se entrar na Maçonaria.

Existem tradições, usos e costumes, mais ou menos locais, mais ou menos universais, mais ou menos usados, mais ou menos torneados.

Usando o que as Obediências dizem, e um pouco do que penso vou tentar deixar ao leitor informação que lhe permita tirar as respectivas conclusões, porque na Maçonaria uma das coisas que se aprende é a que cada um deve saber tirar conclusões.

Assim passo a citar, qualificando-as com critério meu, as informações que se obtêm nos sites das obediências e nas respectivas linguas:


Os Opostos:

TO BE ONE YOU MUST ASK ONE!
In order to become a member of the Grand Lodge of Virginia you must have two Master Masons vouch for your character and recommend you into our Craft. You also have to be a man, 18 years old or older, of good character, and believe in a God that promotes peace, love, and harmony towards all mankind. These are some of the basic requirements for membership into our Fraternity.

Grand Lodge of Virginia - USA


"COMO SE FAZ PARA SER MAÇOM?
É preciso que o candidato seja indicado por um Mestre Maçom e tenha a sua iniciação aprovada pela Loja.
Ninguém se inscreve para ser maçom.
Por suas qualidades, ele é notado por um maçom que o indica para a sua Loja.”

Grande Loja do Estado do Rio de Janeiro


Os Omissos

"Typiquement quelqu’un devient Franc-maçon parce qu’il éprouve le besoin d’évoluer dans un esprit d’ouverture et qu’il a rencontré cet esprit d’ouverture auprès de personnes qui se sont fait connaître comme Francs-maçons.”
Grande Loje Suisse Alpina


Os Universais

“J'aimerais devenir Franc-Maçon. Que dois-je faire?
L'entrée en Franc-Maçonnerie procède selon deux voies très différentes.
Le plus souvent, le processus fonctionne de proche en proche : un ami, un voisin, un collègue vous demande un jour un entretien entre quatre yeux, il se dévoile et vous explique qu'il aurait grand bonheur à partager avec vous sa démarche. Alors commence un dialogue qui va construire une relation entre vous deux, bientôt partagée avec ses autres Frères en Franc-Maçonnerie.

Plus rarement, mais régulièrement, cette rencontre est attendue par l'impétrant, mais ne se matérialise pas. Dans ce cas, rien de plus simple : il suffit d'envoyer à l'attention du secrétariat de la Grande Loge Régulière de Belgique une lettre de candidature reprenant les éléments suivants :
votre curriculum vitae vos motivations personnelles profondes à vouloir être reçu en Franc-Maçonnerie

Grande Loje Reguliere de Belgique


Os Tradicionais

“Suggested Steps After reading the various booklets on this site, see 'All About Masonry' in the menu bar, and if you are still interested in becoming a Freemason, we advise that you first talk to a family member, friend or colleague whom you already know to be a member. They will be able to explain to you what they can about the fraternity and help you find a suitable Lodge. If you don't know anyone at all who is a member, then get in touch with a Masonic Office in your area. Write to that office, telling them a little bit about yourself and your reasons for wishing to join.”
United Grand Lodge of England


Os Torneados

We would welcome your involvement - but we won't be pushy”
Grande Loja do Sul da Austrália e Territórios do Norte


Temos aqui exemplos dos Estados Unidos, Brasil, Europa, Austrália e muitos mais podem ser encontrados, que nos demonstram inequivocamente que não há um padrão comum.

Comecemos pelo sistema Americano.

A premissa não se convida espera-se que o candidato apareça de livre e espontânea vontade não é também universal, em minha opinião, a todas as Grandes Lojas Americanas.

Algumas, embora dizendo que o candidato deve subscrever a petição de livre e espontânea vontade, juntam que tem também que ser apadrinhado por 2 Mestres Maçons que o avalizem, e logo o conheçam. Indicam também que será útil abordar algum Maçon que se conheça e perguntar-lhe como é que se faz, o que é a Maçonaria, etc.

O exemplo que ilustra esta situação é o seguinte:


"Qualifications for Membership

Application for membership is open to men who:
Have been an Ohio resident for at least one year
Are at least 19 years old
Have a belief in a Supreme Being
Live a good moral and social life
Do not advocate the overthrow of the government
Can read and write English
Are recommended by two members of the Lodge they wish to join. (If you do not know two members of a Lodge, the secretary of the Lodge to which you are applying can arrange a meeting with two members of the Lodge for you.)
"
Grand Lodge of Ohio - USA

Como se pode ver é necessária a recomendação de 2 Mestres da Loja onde se pretende entrar. E se não conhecer ninguém então a Loja organiza um encontro para conhecer o candidato.

O que se pode depreender daqui é que embora formalmente se mantenha o tradicional “2b1ask1” na verdade o sistema de apadrinhamento funciona.

Aliás, em minha opinião, as Obediências Americanas abandonaram há muito o conceito de não convidar, ao substitui-lo por agressiva presença na Internet e nos “média”. Desta maneira conseguem com que muita gente venha bater à porta, e isto é de tal maneira verdade que em muitas lojas a idade média dos membros tem vindo a baixar substancialmente pois os novos maçons vindos da Internet são pessoas mais jovens.

... Continua num próximo Post.

José Ruah

03 junho 2008

Como entrar na Maçonaria

Este é um tema recorrente nas mais variadas discussões internas.

as hipoteses são essencialmente duas:

Por autoproposta

Por escolha e proposta de Irmãos.

Antes de continuar ( aliás estou hoje com pouco tempo) gostaria de ter comentários com opiniões. Uma especie de sondagem.

Com base nos comentários ( assim os haja) e nas minhas pesquisas, continuarei o tema em post futuro

José Ruah

23 janeiro 2008

Os meus Irmãos reconhecem-me como tal

- Meu Irmão, de onde vens?

– De uma loja de S. João, Venerável Mestre.

– Que se faz lá?

– Exalta-se a virtude e combate-se o vício.

– Que vens aqui fazer?

– Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e realizar novos progressos na Maçonaria.

– Devo então presumir que és maçon?

- OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!

Logo na cerimónia de Iniciação o nóvel Maçon é instruído sobre a forma de reconhecer e de ser reconhecido Maçon.

Aprende assim um determinado SINAL, um específico TOQUE, que representa o pedido da PALAVRA SAGRADA, como responder a esse pedido e que palavra é essa.

Uma razoável memória permitirá que, a partir daí, saiba como proceder para que os seus Irmãos Maçons o reconheçam como tal.

Mas esta é a mais básica das básicas noções que o nóvel Maçon recebe então quanto a esta matéria. Com efeito, mui fraco Maçon seria aquele que se limitasse a confiar em tais actos externos para que o reconhecessem como tal. Atrevo-me mesmo a dizer que só quem se tivesse limitado a passar pela cerimónia de iniciação, e mesmo assim de forma desatenta, poderia admiti-lo.

Na verdade, todos sabemos que em Maçonaria tudo é simbolicamente transmitido, o que vale por dizer que através de um translúcido véu, para que quem o receba, entrevendo, medite e, meditando, conclua e, concluindo, aprenda.

Todos sabemos que, em bom rigor, em Maçonaria nada se ensina, apenas se coloca os ensinamentos à disposição, para que quem quer saber, observe, pense e aprenda. É por isso que costumo dizer, em iconoclasta simplificação, que a Maçonaria se aprende por osmose...

Assim, aquele que quer ser reconhecido como Maçon pelos Maçons não deve limitar-se ao que explicitamente lhe foi ensinado na instrução incluída na sua iniciação.

Melhor será que não esqueça que, recém-iniciado, ainda está aprendendo a aprender e só por isso lhe deram clara e directamente o que pomposamente quem desconhece a essência da Maçonaria considera “profundos segredos”.

Assim ficará, por breves momentos o nóvel Maçon convencido que ficou sabendo “excelso segredo” mas, aprendendo a aprender, em breve aprenderá que, como já há pouco exclamei, tal “excelso segredo” não passa de uma muito básica de entre as básicas noções que deverá apreender e que irá apreendendo.

Ao invés, o que deve um Maçon fazer para que seja reconhecido como tal pelos seus Irmãos, foi-lhe transmitido, sim, na sua iniciação, mas como tudo o resto que merece ser retido em Maçonaria, de forma encoberta, indirecta, para que, em devido tempo, medite e aprenda por si, bem melhor do que se lhe fosse directamente ensinado, pois dessa forma mais trabalhosa e difícil de aprender sempre resulta que não apenas se sabe ou memoriza, antes se interioriza e compreende e só aquilo que é adequadamente interiorizado e compreendido é digno de ser tido como vero Conhecimento.

Então, que aprendi eu sobre a forma de ser reconhecido Maçon pelos meus Irmãos?

Aprendi que, para me ser dado acesso ao Templo onde meus Irmãos estavam reunidos, necessário foi que alguém em quem todos confiavam, o Irmão Experto, a todos garantisse que eu era “livre e de bons costumes”.

Livre sou e livres somos sem grande mérito nosso, com muito mérito daqueles que nos antecederam , pois de há muito que a escravatura foi abolida em nossas terras.

Mas “de bons costumes” tive de ser para merecer entrada no Templo e consequentemente de bons costumes tenho de continuar sendo, se nele quero permanecer.

Primeira conclusão pude então tirar: para ser reconhecido como Maçon pelos meus Irmãos necessário é que permaneça de bons costumes, isto é, íntegro, honesto e de modo geral cumpridor das minhas obrigações perante Deus, eu próprio, a minha família e a sociedade.

Mas se tal é condição necessária para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos, não é, porém, condição suficiente – mesmo conhecendo eu o SINAL, o TOQUE e a PALAVRA SAGRADA...

Importa assim continuar buscando este pequeno Graal, pomposa forma de referir a busca do Conhecimento que vale a pena conhecer!

E recordo então que, a dado passo, ouvi mesmo alguém dizer-me que o que estava diante de meus olhos era o símbolo da cegueira em que se acha o homem dominado pelas paixões e mergulhado na ignorância.

Meditando, pude então a segunda conclusão chegar. Para além de ser livre e de bons costumes, para ser reconhecido como maçon pelos meus Irmãos haverei que dominar minhas paixões, e não por elas ser dominado, e procurar sair da profana ignorância, isto é, utilizar os instrumentos que a Maçonaria, a Loja, o Venerável Mestre, cada um dos meus Irmãos, me vão proporcionando, para ir aprendendo, conhecendo e, sobretudo, CONHECENDO-ME, nas minhas forças, sempre poucas, e fraquezas, sempre demais.

Mais um passo avancei, mas ainda não tenho a tarefa terminada, mais caminho tenho para caminhar!

Mais adiante, ouvi ser-me dito que o homem justo era corajoso e, tendo-me sido perguntado em quem depositava eu minha confiança me ter sido sussurrada a resposta de que essa era depositada em Deus.

Pensando, conclui então minha terceira conclusão: para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, e crente.

Mas, atenção!, ser justo não é ser justiceiro, ser corajoso não é ser temerário, ser crente não é ser beato. É necessário, como mais adiante ouvi ser-me dito, “o justo equilíbrio de força e sensibilidade que constitui a sabedoria, isto é, a ciência da própria vida”.

Finalmente, já reconhecido como maçon, foi-me chamada a atenção para os deveres de beneficência de um maçon, mais uma vez temperados pelo justo equilíbrio, pois “a caridade deixa de ser uma virtude quando é praticada em prejuízo dos deveres mais sagrados e mais prementes: uma família a sustentar, filhos para educar, pais velhos a manter, compromissos civis a preencher”.

Meditando sobre estas noções de fraternidade e solidariedade, pude assim chegar à quarta conclusão, que tive por final: para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, crente, fraternal e solidário.

E tendo chegado a esta putativamente definitiva conclusão, preparei-me, para, satisfeito, descansar. Porém, ocorreu-me então que, tendo Deus descansado apenas ao sétimo dia, grande prosápia minha seria pretender poder fazê-lo após apenas quatro conclusões!

E então pensei mais, e espero que melhor, e cheguei a mais outra conclusão (que será assim a quinta...), a de que estava cometendo o pecado do orgulho ao pensar que destas meditações alguma pólvora de particular valor descobrira, pois, afinal, mais bem escrito do que eu escrevera, mais simples do que eu arrazoara, tudo está no texto por onde começámos e por onde, completando o círculo e o ciclo da busca, é asado concluir (e esta será portanto a sexta e última conclusão, a que finalmente me habilitará a descansar, sem remorso superior ao que deriva da minha reincidente prosápia de, pela segunda vez em apenas dois parágrafos, ousar comparar-me ao Criador...).

– Devo, então, presumir que é Maçon?

– Os meus Irmãos reconhecem-me como tal.

– O que é um Maçon?

– É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.

– Que significa nascer livre?

– O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.

– Quais são os deveres de um Maçon?

- Evitar o vício e praticar a virtude.

– Como deve um Maçon praticar a virtude?

– Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

- Como poderei reconhecer que és Maçon?

– Pelos meus sinais, palavras e toques.

– Como interpretas essa resposta?

– Um Maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correcta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta para com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

Termino com a esperança de que os meus Irmãos não necessitem de se certificar que eu conheço os sinais, palavras e toques, para que me reconheçam como Maçon. Mas, se algum desejar interrogar-me sobre eles, que a minha memória me permita sempre responder satisfatoriamente. E, se porventura a memória me trair e eu falhar essa prova, que aquele Irmão que me interroga, em face do que conheça de mim ... apesar disso me reconheça como Maçon, pois que espero merecer sempre poder dizer que

OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!

Rui Bandeira