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16 outubro 2013

Os construtores da Utopia



Desde que, no século XVI, Thomas More inventou a palavra e dela fez título de uma das suas obras que se designa por Utopia a sociedade ideal, perfeita.

Em termos sociais, os maçons procuram contribuir para a construção dessa Utopia. Fazem-no desde logo procurando melhorar a qualidade dos materiais de que se fazem todas as sociedades: os homens, suas ideias e suas ações.

Nenhuma sociedade organizada, qualificada e funcionando com um exigível nível mínimo de organização, qualidade, liberdade e eficiência pode assentar em pessoas desqualificadas, seja em termos de conhecimentos e preparação, seja do ponto de vista da Moral e dos Valores inerentes a uma sã, agradável e produtiva vida em comum.

Não há Valores sociais que se fundem perenemente em homens de baixo caráter e inferiores qualificações pessoais e relacionais. Homens apenas primários, sem capacidade para ver e agir para além dos seus interesses pessoais egoísticos e imediatos não geram nem acalentam valores essenciais a qualquer sociedade eticamente relevante. 

As sociedades são compostas por pessoas. Quanto melhores forem estas, melhores podem ser as Sociedades, os seus valores, os seus níveis de organização e cooperação. Por isso, ao construir-se a si próprio, ao melhorar-se a si mesmo, cada maçom está também a contribuir para a melhoria da sociedade em que se insere, a favorecer um pequeno, quiçá quase insensível, mas sempre significante, avanço da sociedade em que se insere na construção da Utopia.

Mas a Utopia não se constrói apenas com os materiais, as pessoas. Essa construção necessita também de ferramentas, os valores. Neste campo, muito se avançou, na parte mais desenvolvida do Mundo: a Liberdade é reconhecida como indispensável à existência de uma Sociedade digna dos seus cidadãos; a Igualdade é uma aspiração que se busca concretizar mais e mais; a Fraternidade emerge como uma condição indispensável à coesão social; a Tolerância emerge cada vez mais como uma necessidade; a Justiça consolida-se como uma essencialidade; a Solidariedade aparece como um elemento indispensável à reação comum ao infortúnio, ao cataclismo ou simplesmente à adversidade. Paulatinamente, estes e outros essenciais valores adquirem o estatuto da naturalidade e ascendem ao patamar da indispensabilidade. Mas muito ainda há e haverá ainda a fazer, para que esses valores sejam efetivamente para todos tão naturais como o ato de respirar.

Porém, a construção social não se basta apenas com bons materiais e sólidas ferramentas. Há que limpar o espaço, que afastar tudo o que prejudique a edificação que se busca. Há, assim, que lutar com, afastar, remover, os preconceitos que tolhem o avanço comum - mas sem os substituir por novos preconceitos, quiçá de sinal contrário. Também neste campo muito se avançou. Também aqui muito mais há ainda a fazer. O racismo perdeu o estatuto de naturalidade que ainda há cerca de meio século (tão pouco tempo ainda; não mais de duas gerações...) detinha em sociedades tão importantes como, por exemplo, alguns Estados dos Estados Unidos. Mas subsiste teimosamente em muitas mentes e manifesta-se ainda insidiosamente em demasiadas situações e abertamente numas quantas delas! A igualdade entre sexos evoluiu notavelmente no último maio século, mas ainda é, manifestamente, um valor ainda frágil, que muitos afastam sem rebuço à menor dificuldade social (basta ver as diferentes taxas de desemprego e os não coincidentes níveis de remuneração entre os dois sexos). A Igualdade afirmou-se quase universalmente como princípio absoluto na teoria, mas é muito insuficientemente ainda na realidade concretizada na prática, continuando - infelizmente! - ainda a ser válida a frase de O Triunfo dos Porcos, de George Orwell, de que "Todos são iguais... mas há alguns mais iguais do que os outros". Os fundamentalismos existem, estão à vista de todos e não são extirpáveis por decreto.

 Muito se andou, mas muito caminho está ainda por percorrer, se se quiser ficar perto de ver ao longe uma Sociedade que possa aspirar a comparar-se levemente com a Utopia... E esse caminho tem de ser percorrido passo a passo, incansavelmente, inabalavelmente, persistentemente, por cada um que aspira à Utopia.

Ao dedicarem-se ao seu aperfeiçoamento, os maçons fazem esse caminho, dão o seu contributo à Sociedade para a evolução desta. O que cada um dá é ínfimo, quase imensurável, no contexto da imensidão do que é necessário. Mas o conjunto do que todos proporcionam possibilita o avanço, ajuda a que a evolução se torne visível.

Os maçons são, por natureza, construtores da Utopia. Não se afirmam, nem pretendem ser os únicos. Todos não são demais, que a tarefa é enorme e prolongada!

Rui Bandeira 

01 maio 2011

O café: motor do Iluminismo



"Forte é o rei que tudo destrói, mais forte a mulher que tudo obtém, e ainda mais forte o vinho que afoga a razão."
Humberto Eco, em "A Ilha do Dia Anterior"


Desde há séculos que o Homem consome bebidas alcoólicas. A análise química de recipientes de cerâmica encontrados em povoações do Neolítico na China indicam que o consumo de bebidas fermentadas (neste caso, uma bebida à base de arroz, mel e fruta) já é velho de pelo menos 9000 anos. Há receitas de bebidas alcoólicas em placas de barro, e a arte Mesopotâmica mostra-nos indivíduos a beber de grandes potes por palhinhas.

Textos sumérios e egípcios de há quatro mil anos descrevem as propriedades medicinais do álcool, e os textos Hindus ayurvédicos descrevem quer os benefícios das bebidas alcoólicas quer as consequências do seu abuso. Na Grécia Clássica consumia-se vinho ao pequeno-almoço, e este fazia parte da dieta da maioria dos cidadãos de Roma no século I antes da nossa era.

Na Europa medieval toda a família bebia cerveja - os homens uma cerveja mais forte, as crianças uma mais fraca, e as mulheres uma de graduação intermédia. Também se consumia cidra e vinho de bagaço, sendo o vinho de uva reservado às classes mais altas. Em suma: a humanidade alcoolizava-se havia milénios, e a Europa da Idade Média acordava ébria e deitava-se embriagada. O torpor do álcool, transversal a toda a sociedade, obnubilava mesmo as mentes mais brilhantes.

Mas do Islão veio o grande redentor, quando os Turcos, após o falhado cerco a Viena de 1529, deixaram para trás alguns sacos de café. Rapidamente as sua propriedades foram conhecidas: "seca os humores frios, dispersa os gases, fortalece o fígado, é o remédio soberano para hidropsia e sarna, restaura o coração, alivia dor de barriga. O seu vapor é, de facto, recomendado para fluxões dos olhos, zumbido nos ouvidos, catarro, reumatismo, ou nariz pesado."

Foi assim que o café substituiu, em certa medida, a cerveja e o vinho, nos hábitos alimentares europeus. O dia passou a começar com um estimulante de baixas calorias, em vez de um entorpecedor calórico, o que produziu um novo paradigma de Homem: os corpos rotundos e maciços que podemos ver nas pinturas do século XVII - consequência do consumo excessivo de bebidas fermentadas - tornaram-se mais esbeltos e ágeis; as pessoas tornaram-se sóbrias e sérias; e o pensamento, a inteligência e razão - por fim libertos do seu etílico véu  - passaram a ser valorizados.


O consumo do café rapidamente se tornou num hábito cada vez mais vulgarizado e, com o vício da cafeína, começou a procura frenética de fontes desta maravilhosa droga, o que originou o aparecimento de comércio externo em larga escala, com todas as inerentes consequências para o desenvolvimento social.


O café, por outro lado, mantinha as pessoas suficientemente sóbrias para darem asas à criatividade e inventarem toda uma gama de pequenos melhoramentos do seu bem-estar diário, concedendo ao cidadão comum uma comodidade como nunca antes tinha experimentado.

Pode, por tudo isto, dizer-se que a paixão da civilização ocidental pelo café foi um dos verdadeiros motores do Iluminismo - e bem sabemos que só este criou as condições para o surgimento da Maçonaria Especulativa. Foi graças ao café que, finalmente de olhos bem abertos, do meio-dia à meia-noite, o Homem pôde iniciar o trabalho para o seu melhoramento, em busca de mais Luz e Sabedoria.


Paulo M.


Fontes: 
http://www.stephenhicks.org/2010/01/18/coffee-and-the-enlightenment/
http://solohq.solopassion.com/Articles/Cresswell/Making_the_Genius_Quicker_A_Complete_Hiftory_of_Man_According_to_Hif_Divers_Delightf_%28Part_Two%29.shtml
http://en.wikipedia.org/wiki/Alcoholic_beverage