10 julho 2017

Comunicação do Grão-Mestre por ocasião do solstício de verão


O mundo comemora III séculos de Maçonaria Moderna

Queridos II. em todos os vossos graus e qualidades, a todos saúdo: sede bem-vindos à casa dos valores, à casa dos irmãos, à nossa casa.

Hoje celebramos em Grande Loja o Solstício de Verão. O vocábulo solstício vem da palavra latina “SOL” a que se justapôs a palavra “SISTERE”, que significa não se mexer, designando o momento em que o sol, durante o seu movimento aparente inscrito na esfera celeste, atinge a sua maior declinação em latitude.

Um dia de solstício será eternamente uma grande e mágica aurora: límpida; resplandecente. No solstício de Verão, o dia mais longo do ano, a luz do sol triunfa sobre a escuridão da noite, e oferece-nos a luminosidade plena. E estamos aqui para mais uma vez velarmos meus irmãos. Velarmos juntos a luz absoluta dos ancestrais valores maçónicos, fazendo-a triunfar sobre os medos, sobre as trevas e os obscurantismos, sobre todos os totalitarismos.

Neste preciso dia 24 de Junho de 2017, dia de São João Batista, a maçonaria moderna e especulativa, celebra o seu terceiro centenário. A maçonaria mundial completa assim 300 anos, desde que se atreveu a sonhar e lutar por um ideal de Humanidade, suportado por princípios simples, mas fundadores: o direito de pensar e o dever de tolerar. Universalizando-se a partir de então, a Maçonaria Regular afirma-se através da sua dupla dimensão, humanista e espiritual: por um lado, defendendo uma visão do homem baseada na liberdade de consciência, do intelecto e da igualdade de direitos, e por outro, defendendo um deísmo que reconhece a existência de Deus, mas que deixa aberta a definição da sua identidade.

E foi nessa noite de 24 de Junho de 1717, no terceiro ano do Rei George I, que em Londres na Inglaterra, se realizou a primeira Assembleia de Maçons Livres e Aceites, tendo lugar a reunião no primeiro andar da taberna “Goose and gridiron” (Ganso e grelha). Foi essa também uma noite de aurora primordial para a maçonaria, parafraseando Sophia de Mello Breyner sobre outras livres madrugadas, “O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo”. Foi nessa noite de 24 de Junho de 1717, que quatro lojas inglesas fundaram a primeira Grande Loja Inglesa e elegeram o primeiro Mui Respeitável Grão Mestre da Maçonaria Moderna, Anthony Sayer, encarnando a sua função o Centro da União e da Harmonia Maçónica.

E trezentos anos depois, em pleno terceiro milénio, são ainda muito grandes as resistências a estes ideais de liberdade, simples e fundadores. Por isso estamos aqui todos juntos para velar, o que significa acreditar e defender sempre os princípios maçónicos da liberdade, preferindo ter a garganta cortada a renunciar a eles.

E temos que estar permanentemente em guarda meus irmãos, porque ainda hoje o planeta vive momentos de muitas incertezas na defesa dos valores maçónicos. A grande e nobre Inglaterra que há trezentos anos nos presenteou com a primeira Grande Loja Maçónica, o país que forjou uma das mais densas democracias do mundo, parece ter-se agora cansado da História e envia-nos sinais que vão no sentido de querer ficar fora dela, deixando o “Brexit” criar desunião, arrancando à Europa a democracia mais forte, e apoucando-se assim como nação.

Por outro lado, nos Estados Unidos da América, o seu presidente democraticamente eleito, alheia-se dos verdadeiros males do mundo e em jeito de avestruz, volta as costas ao tratado de Paris e à sustentabilidade ambiental do mundo: temos de estar bem conscientes que apenas temos este planeta, que na sua versão primeira não foi programado para ter segundas oportunidades. Mas mesmo assim acreditemos que a América é maior que o seu presidente, e a Inglaterra maior que o “Brexit”.

E avisa-nos um dos maiores pensadores do nosso tempo, George Steiner: “O nacionalismo é um veneno absoluto e encarna o maior veneno do nosso tempo”.

E sobre o mesmo assunto, nos alvores na Primeira Guerra Mundial, alertava já o grande estadista francês Georges Clémenceau: “Podemos ser patriotas, mas não chauvinistas. E é esta uma distinção muito importante, porque o patriotismo pode ser decente, mas o chauvinismo, o nacionalismo e o totalitarismo, são realidades que vão sempre fazer viver à humanidade tempos muito amargos e degradantes, em que a morte e o medo espreitarão em cada esquina”.

O domínio da retórica é uma das grandes artes maçónicas, mas cuidado com a retórica política malvada, porque pode matar e assassinar por meio da linguagem. O horror do movimento nazi foi largamente baseado na retórica e na propaganda. Muito mais poderosas do que qualquer exército são as mentiras dos totalitarismos, que funcionam através da linguagem: sempre em guarda meus irmãos.

O que caracteriza o mundo actual é o alcance, a amplitude e a rapidez das mudanças. E a sua cadência todos os dias se acelera. Agora já com algum recuo, começamos a perceber que a mundialização indubitavelmente beneficia a humanidade. Nunca a pobreza no mundo recuou tanto e tão depressa e nunca os valores maçónicos estiveram tão difundidos e universalizados. Ainda assim, numa boa parte da população dos países ocidentais, a mundialização está a provocar um grande stress cultural e económico, que veio criar muitos ressentimentos e muitos medos. E a melhor coisa para resolvermos os problemas, não é enfiarmos a cabeça na areia, a melhor coisa é ter consciências dos problemas e resolve-los dentro do respeito dos valores maçónicos, sem nunca cedermos à facilidade aparente e venenosa dos totalitarismos. E é por isso, que igual que da primeira vez há trezentos na “Taberna Ganso e Grelha” devemos continuar eternamente a juntarmo-nos em Grande Loja, para velar em uníssono meus irmãos: para nos fortalecermos na defesa dos valores maçónicos e da liberdade, porque tudo o demais é pura vanidade.

E trezentos anos depois, neste tempo de solstício, a União da grande família dos maçons regulares, é de rigor: façamos o mundo mais feliz, e por contágio, sejamos todos mais felizes.

E era esta a mensagem simples que hoje vos queria comunicar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal dos valores maçónicos, a liberdade em Portugal, na Europa, no mundo, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquitecto do Universo.

Júlio Meirinhos
Grão Mestre

Nota: O MRGM Júlio Meirinhos escreve segundo as regras de orografia pré-Acordo Ortográfico de 1990.

Rui Bandeira

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