23 janeiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXVI


Mas se o Irmão que o Grão-Mestre em exercício nomear como o seu sucessor, ou o que a maioria da Grande Loja escolha através do voto, estiver, por doença ou outro motivo qualquer, ausente dessa grande festividade, este não poderá ser proclamado o novo Grão-Mestre, a não ser que o antigo Grão-Mestre, ou alguns dos Mestres e Vigilantes da Grande Loja possam assegurar, por sua honra de Irmãos, que esta dita pessoa, nomeada ou escolhida, prontamente aceitará o dito cargo; e nesse caso o antigo Grão-Mestre deverá atuar como seu procurador, e, então, nomear o seu Vice Grão-Mestre e Vigilantes em seu nome, e em seu nome também, receber as usuais honras, homenagens e congratulações. 

Nos recuados tempos do século XVIII, as comunicações não eram tão fáceis e rápidas como na atualidade. As reuniões magnas não ocorriam com a frequência e naturalidade que hoje verificamos existirem. A festividade anual dos maçons era preparada com meses de antecedência. Cada um tinha de organizar a sua vida de forma a poder estar nela presente. Era pois importante que o que de essencial houvesse para tratar fosse tratado. Daí que a Regra XXXVI impusesse que o novo Grão-Mestre estivesse presente, para que, após declarar a sua aceitação do ofício, fosse logo empossado e designasse o seu Vice Grão-Mestre e os Grandes Vigilantes.

Se assim não ocorresse, das duas, uma: ou alguém, por sua honra, assegurava - obviamente com conhecimento de causa - que o designado aceitava desempenhar o ofício, ou teria de se efetuar nova designação. O que não se admitia era o risco de o designado não presente vir, quando tivesse conhecimento da designação, a recusar o exercício da função, pois tal obrigava a que a Grande Loja vivesse numa situação de exceção, sem o dirigente máximo em funções durante um ano, salvo se ocorresse uma Assembleia extraordinária para efetuar designação que superasse a recusa - o que não era fácil, na época.

Hoje em dia as comunicações são muito mais fáceis e expeditas. A eleição para Grão-Mestre de um maçom porventura não presente não é grande problema, pois facilmente com ele se comunica e se obtém a sua aceitação ou recusa. E, se qualquer percalço houver, não é grande problema a realização de nova reunião para o superar.

Atualmente é comum que a eleição do Grão-Mestre e a sua posse ocorram em datas diferentes, e até com algum desfasamento temporal. Na GLLP/GLRP, em regra entre a eleição do Grão-Mestre e a sua posse decorrem cerca de três meses, período de tempo que é aproveitado para comunicar às restantes Obediências maçónicas mutuamente reconhecidas essa eleição e a data prevista para a posse, permitindo que as demais Potências Maçónicas organizem a sua representação na cerimónia de posse.

A posse do Grão-Mestre, a exemplo do que se passa com idêntica cerimónia em relação ao Venerável Mestre da Loja, é usualmente designada por instalação. Instalação aonde? Naquilo que os maçons designam por Cadeira de Salomão. Ou seja, o Grão-Mestre, tal como o Venerável Mestre da Loja, toma assento na Cadeira de Salomão. Mais do que a peça de mobiliário física - mais ou menos bonita, trabalhada ou confortável -, o que se pretende simbolizar com esta expressão é que, quer o Grão-Mestre da Obediência, quer o Venerável Mestre da Loja, devem exercer os seus ofícios com a sensatez e a sabedoria que vulgarmente se consideram terem sido atributos do rei Salomão. É afinal isso que se espera de um dirigente. Mais do que heroísmos, grandes feitos ou ousadas realizações, essencialmente Sensatez, Sabedoria, Equilíbrio. Com o uso dessas qualidades, os trabalhos individuais e coletivos podem decorrer na desejada Harmonia.

No século XVIII, o Grão-Mestre era assistido por um Vice Grão-Mestre e dois Grandes Vigilantes. O crescimento das instituições maçónicas obrigou a uma maior complexidade da sua estrutura hoje. Além daqueles Grandes Oficiais, o Grão-Mestre designa o Grande Secretário - que zela por toda a estrutura burocrática da Grande Loja -, o Grande Tesoureiro . que assegura a administração económica e financeira -, os Grandes Inspetores - que auxiliam o Grão-Mestre na verificação, harmonia e melhoria do funcionamento das Lojas, tendo em atenção os respetivos ritos -, o Grande Correio-Mor - o responsável pela estrutura de comunicação da Grande Loja -, o Grande Hospitaleiro - que dirige e coordena a atividade de beneficência - e vários outros Grandes Oficiais responsáveis por ofícios rituais e de administração de uma estrutura com dimensão nacional de coordenação e apoio de dezenas (em Portugal), centenas (em alguns Estados do Brasil) ou milhares (em Inglaterra) de Lojas.

A Maçonaria também se carateriza por uma harmónica integração entre a Tradição e a Evolução, prosseguindo hoje essencialmente os mesmos propósitos de há trezentos anos, mas utilizando os meios atualmente disponíveis. 

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 144. 

Rui Bandeira

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