10 junho 2012

O que se faz numa sessão maçónica



Para se entender o que se faz numa sessão maçónica é necessário entender-se, antes do mais, que muito do que aí se faz é ensaiado, teatralizado ou, como nós dizemos, ritualizado. Há vários rituais diferentes, correspondentes a cada um dos ritos, com muitos pontos comuns entre si mas cada um com a sua especificidade. Quando se diz que uma loja "trabalha num determinado rito", isso significa, essencialmente, que segue um determinado "guião" nas suas sessões, que executa sempre um determinado ritual. Este pouco mais determina que, de forma algo mais solene, se faça o que se faz numa simples reunião de condóminos:

- saber-se quem dirigirá a reunião e quem desempenhará outros papéis, como o de secretariar;
- confirmar se o local reune as condições para se efetuar a reunião: se há luz, cadeiras, documentação (livros de atas, de tesouraria, etc.) entre outros;
- verificar se os presentes são condóminos ou mandatados por algum condómino (ou seja: se têm lugar na reunião ou se lá estão por engano);
- verificar se há quorum, cruzando-se a  lista dos condóminos com a dos presentes;
- ler e votar a aprovação da ata da reunião anterior;
- executar a ordem de trabalhos de forma ordeira e respeitando o regulamento;
- dar a palavra a quem deseje prestar alguma informação, apresentar alguma questão ou suscitar tema de  reunião futura;
- fazer as despedidas dos demais condóminos;
- arrumar a sala, apagar a luz e sair.


Atos equiparáveis sucedem numa sessão maçónica, em que podem considerar-se três partes: a abertura dos trabalhos, o desenvolvimento dos trabalhos, e o encerramento dos trabalhos. Destes três momentos, a abertura e o encerramento são ritualizados. Também parte do que se passa na ordem de trabalhos o é, o que torna as sessões maçónicas mais uniformes e homogéneas na sua forma, e ajuda a que cada um saiba o que pode esperar e como deve agir.

De acordo com cada rito, há lugares pré-determinados para cada um dos oficiais, bem como para os aprendizes, companheiros e demais mestres. Há regras que são transversais a todos os ritos, como a do silêncio dos aprendizes e companheiros (a quem está vedado intervir em loja) ou a necessidade de se pedir a palavra e de que esta seja concedida antes de se poder falar (o que não sucede em qualquer momento). Há momentos específicos para se pedir a palavra, falando cada um apenas uma vez sobre cada assunto (ou seja: não há direito de resposta e muito menos de interrupção), e há uma ordem para se falar; se é passada a vez, perde-se a possibilidade de intervir. Há momentos para se estar de pé e momentos para se estar sentado, e apenas se circula em loja precedido ou acompanhado do mestre de cerimónias, que é o único que se pode movimentar livremente - e mesmo assim sempre acompanhado do seu bastão, e movimentando-se à roda da sala sempre em linhas e ângulos retos, e sempre no mesmo sentido. O cumprimento do ritual não só confere solenidade às sessões como as torna previsíveis e harmoniosas.

Os rituais maçónicos são secretos, mas apenas na medida em que cada maçon jurou não os revelar. O segredo sobre os rituais é, na verdade, um mero símbolo do segredo que cada maçon deve saber guardar em circunstâncias que, de facto, o exijam, e da confiança de que deve ser merecedor. Nada nos rituais é verdadeiramente "secreto", no sentido de que nada trazem de novo a quem os leia procurando descobrir um qualquer "segredo maçónico".

O que se faz nos trabalhos pode ser, simplesmente, a leitura e comentário de uma prancha, uma iniciação ou um "aumento de salário" (passar-se um aprendiz a companheiro ou um companheiro a mestre), ler-se um decreto do grão-mestre, combinar uma atividade da loja (que pode ser, por exemplo, uma refeição, uma palestra ou uma dação de sangue), ou mesmo não se fazer mais nada, passando-se da abertura para o encerramento!

Dos assuntos discutidos em lojas da Maçonaria Regular estão, como se sabe, proibidos quer a discussão religiosa quer a discussão política, pelo que estas questões têm de potencialmente fraturante e contrário ao ideal maçónico de tolerância, fraternidade e harmonia. Quem quiser saber, concretamente, de que tipo de coisas se fala, pode consultar o site da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues, onde se encontra publicado um considerável acervo de  pranchas apresentadas e discutidas em loja.

Paulo M.

7 comentários:

Nuno Raimundo disse...

Paulo,
já tinha saudades destes teus "textos"...
Esclarecedores como sempre ;)

TAF

Streetwarrior disse...

Boas @Paulo.
As sessões colocadas desta maneira, parecem ser uma coisa muito chata !
Gostaria de perceber estes 3 aspectos que sempre me deram muita curiosidade.
Visto que desde os primordios das nossas civilizações, tudo o que nos rodeia, é ligado á religião tudo é politica, o que sobra para se discutir numa sessão?
Se não se pode discutir religião, qual o interesse então de uma maçonaria ser Crente ou não numa entidade religiosa?
Por fim...qual a razão do Mestre andar em angulos rectos, terá isto a ver com (Anjos = Angulos ) bom e maus, visto que a nivel Astro-teológico existem bons angulos e maus angulos ?

PeaceWeapon disse...

Caro Streetwarrior, permite-me que responda na vez do autor, não jurando que consiga ser minimamente tão esclarecedor.
Na minha opinião, religião é uma coisa, espiritualidade é outra completamente diferente, mas qualquer pode ajudar-nos a vencer os nossos vícios e aperfeiçoar as virtudes, que é o objectivo do nosso trabalho, tomando a potencialidade do Homem enquanto foco de aperfeiçoamento, e não a religião em si. Na Maçonaria regular a crença num ser divino e superior, seja ele Alah, Jeova ou Deus ou outro qualquer deus de um sistema de crenças pessoal, deve apenas unir-nos e não dividir-nos, pelo que não nos concentramos nas diferenças mas apenas nas semelhanças. O caminho que usamos passa por essa crença, e é importante que exista como ponto comum e de união no caminho do aperfeiçoamento pessoal e colectivo, mas não implica que haja apenas um caminho ou se discuta qual o melhor. Daí que a maior divisão na Maçonaria seja entre a Regular e a chamada "irregular" (em não é necessário acreditar num Deus).
A política é deixada para o mundo "exterior", dentro de sessão preparamos o espírito e a mente para sermos melhores indivíduos, e se com isso formos melhores "políticos", maridos, pais, amigos, profissionais, etc, cá fora, estamos a trabalhar bem.
Relativamente aos ângulos, se pesquisares bem (neste blog também acho que encontras), verás que estes têm um grande simbolismo que tem a ver com a origem da Maçonaria especulativa, e que nos transmitem lições para o nosso aperfeiçoamento.

Streetwarrior disse...

Obrigado Peacewepon.
Peço desculpa pois só vi a resposta agora.
Nunca procurei ou vi os artigos sobre "angulos "...irei fazê-lo.
Nuno

Streetwarrior disse...

Alguém me pode indicar se existe algum artigo sobre Angulos?
Na barra de etiquetas não encontro.
Obrigado.

PeaceWeapon disse...

Streetwarrior,
Não é minha filosofia explicar símbolos a profanos (não leves a mal), pelo que não o fiz, mas visto que este blog não colocou palavras-chave para esses símbolos posso no entanto sugerir "pistas" (quase como faço com os aprendizes) para facilitar a pesquisa. Tudo se encontra na internet com alguma determinação, pelo que o "segredo maçónico" existe apenas em princípio mas não na realidade.
Vou apenas referir que o ângulo recto é produzido a partir de uma ferramenta, famosa por integrar a "bandeira" da maçonaria, e esta representa um valor ou virtude essencial.
Espero que a pesquisa e a meditação te alimente a curiosidade e a vontade de aprender.

Unknown disse...

Como se fosse um "mastro"que sustenta toda a forma de especulação profana assim como a aparição de um "companheiro as margens de uma câmara de reflexão...Meu Ir.'.