18 abril 2012

Regras Gerais dos Maçons: Introdução


O quarto capítulo da Constituição de Anderson de 1723 é dedicado às Regras Gerais. Enuncia trinta e nove, após a seguinte Introdução:


Compiladas, inicialmente, por George Payne, no ano de 1720, quando era Grão-Mestre, e aprovadas pela Grande Loja no Dia de São João Batista, no ano 1721, no Stationer's Hall, Londres, quando o Grande e Nobre Príncipe John, Duque de Montagu, foi unanimemente escolhido nosso Grão Mestre para o ano seguinte; ele escolheu John Beal como seu Vice-Grão-Mestre, e Josiah Villeneau e Thomas Morris foram escolhidos, pela Loja, como Grandes Vigilantes.
E agora, sob o comando de nosso Mui Venerável Grão-Mestre Montagu, o autor deste livro comparou-as com os antigos Arquivos e Usos Imemoriais da Fraternidade, e ordenou-as segundo este novo método, com muitas explicações apropriadas, para o uso das Lojas dentro e fora de Londres e Westminster.


Estas Regras Gerais incluídas na primeira Constituição elaborada sob os auspícios da Premier Grande Loja, a Grande Loja de Londres e Westminster, também conhecida pela Grande Loja dos Modernos, geralmente considerada como o catalisador da evolução da antiga Maçonaria Operativa para a moderna Maçonaria Especulativa, não devem ser confundidas com os Landmarks. Estes, conforme já referi em Os Landmarks, são os princípios delimitadores da Maçonaria.

Ao contrário do que se possa concluir desta definição, não existe uma fixação universal de uma lista de Landmarks.

A GLLP/GLRP adota a tradução em português da "Regra em 12 pontos" fixada em 1938 pela sua Grande-Loja mãe, a Grande Loge Nationale Française que, na versão portuguesa, podem ser lida no sítio da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

A Grande Loja Unida de Inglaterra tem, no seu Livro das Constituições de 2009, o sumário dos Antigos Deveres e Normas, em 15 pontos, que deve ser lido pelo Secretário ao Venerável Mestre eleito imediatamente antes da sua Instalação, sumário este que pode ser lido numa das páginas do sítio da UGLE.

Muito generalizada na Maçonaria americana e sul-americana está a compilação de 25 Landmarks efetuada por Albert G. Mackey, cuja tradução em português pode ser consultada, por exemplo, no sítio da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fraternidade Serrana, n.º 57.

A Maçonaria Liberal ou Irregular, ou seja, a corrente que, na esteira do cisma maçónico protagonizado pelo Grand Orient de France, admite ateus e agnósticos, e que em Portugal é representada pelo Grande Oriente Lusitano, adotou como princípios definidores a Declaração das Potências Signatárias do CLIPSAS (Centro de Ligação e de Informação das Potências Maçónicas Signatárias do Apelo de Strasbourg), conforme se pode ler no sítio do Grémio Fénix.

As Regras Gerais compiladas na Constituição de Anderson de 1723, como se verifica pelo seu texto introdutório, foram escritas e ordenadas por James Anderson após um trabalho deste de "comparação com os antigos Arquivos e Usos Imemoriais da Fraternidade", ou seja, pretendeu ser a compilação dos Antigos Usos e Costumes da Maçonaria.

Muitas vezes hoje se afirma que determinado procedimento ou regra provém dos antigos usos e costumes da Maçonaria. Muitos crêem que esses antigos usos e costumes são hoje apenas conhecidos por via de tradição oral, porventura com variantes ou imprecisões - que, afinal, permitiriam invocar quase tudo como decorrente desses quase desconhecidos e imprecisos antigos usos e costumes.

Os Antigos Usos e Costumes da Maçonaria estão, afinal, compilados e reduzidos a escrito desde 1723!

São práticas e usos tipicamente de origem britânica. Derivam muitos, se não mesmo a quase totalidade, de práticas seguidas e consolidadas na Maçonaria Operativa. Mas não nos esqueçamos que a Premier Grand Lodge, a Grande Loja dos Modernos, sob cuja égide James Anderson elaborou a Constituição de 1723, foi a instituição que catalisou a evolução da Maçonaria Operativa na atual Maçonaria Especulativa. Não podemos excluir - porventura será mesmo ajustado admitir... - que parte do que Anderson fixou como Regras Gerais, invocando provir dos Antigos Usos e Costumes provenientes da Maçonaria Operativa, afinal sejam já adaptações, evoluções, modernizações, ajustadas à nova realidade nascente.

De qualquer forma, para quem pretenda saber o que á a Maçonaria e como evoluiu até aos dias de hoje, é indispensável conhecer estas Regras Gerais e conveniente ter a noção de que as mesmas são a fixação escrita em 1723 daquilo que se convencionou chamar "os antigos usos e costumes da Maçonaria".

Se nada o impedir, tenciono dedicar os próximos trinta e nove textos (ou seja, até ao início do próximo ano, mais semana, menos semana) a aqui divulgar e comentar, uma por uma, as 39 Regras Gerais fixadas na Constituição de Anderson de 1723.

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 136.


Rui Bandeira

6 comentários:

Diogo disse...

Caro Rui Bandeira,

Será assim tão importante fazer uma análise tão exaustiva dos «ensinamentos» de pedreiros anteriores (ou posteriores) a 1700 (sem sentido pejorativo)?

Não haverá conhecimento mais importante a divulgar? Ou já estamos no reino da religião? Na crença sagrada?

Abraço

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

Tal como para os membros de uma Naçãoé importante conhecer e estudar e analisar a sua História para conhecerem a sua evolução como Povo, a razão e origem das suas idiossincrasias, problemas e virtudes, também para os maçons é importante conhecer a História da Maçonaria, ter conhecimento e análises de documentos produzidos há séculos, para conhecer a razão de ser do que fazem, a origem e evolução dos seus princípios.

Haverá sempre quem pense que há conhecimentos mais importantes para divulgar do que a História -mas eu penso que é importante preservar e estudar esta, pois o nosso Presente não chegou por geração espontânea: ancora-se no Passado e constitui a base do Futuro.

Abraço.

Diogo disse...

Caro Rui,

Eu não estou a colocar em causa o interesse da História. Mas serão (novamente sem qualquer sentido pejorativo) os ensinamentos de pedreiros assim tão importantes?

A História regista grandes filósofos, matemáticos e cientistas geniais em todos os campos. Não seria mais lógico divulgar o seu saber?

E volto a colocar a questão: a maçonaria para si é uma questão religiosa? Em que a crença substitui a razão?

A que conhecimentos chegaram os maçons?

Abraço.

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

1) Os ensinamentos são sempre importantes, sejam de pedreiros, sejam de quem forem !Os ensinamentos passados de geração em geração desde há centenas de anos têm a sua importância plasmada pelo próprio facto de por esta forma perdurarem: se fossem destituídos de interesse, há muito que teriam sido esquecidos...

A História regista grandes filósofos, matemáticos e cientistas (alguns dos quais maçons...). É lógico que o seu saber deve ser divulgado, mas nos locais próprios para tal. Este blogue é de temática maçónica, é procurado e consultado por quem se interessa por essa temática, não por quem procura especialmenteinformação sobre matemática ou ciência. Esss vão procurar nos espaços dedicados a essas matérias.

Sabe, Diogo, no fundo o que é preciso ter em conta é que há lugar para tudo e para todos...

3) Sabe muito bem que a maçonaria para mim não é uma questão religiosa, até porque já, anteriormente, tivemos ocasião de dialogar sobre a minha conceção do Divino e o Diogo certamente se recordará que, nesse campo, o meu pensamento é, no mínimo, heterodoxo. A crença não substitui a razão, no meu entendimento. Mas foi pela Razão que cheguei à Crença. Sobre este tópico, perceberá melhor, lendo o texto em http://a-partir-pedra.blogspot.pt/search?q=sou+crente.
Faça-o e verá que as coisas raramente são tão a preto e branco como me parece que o Diogo tem tendência a ver! para além da Razão e da Crença, há a Convicção - e esta pode levar dois seres racionais a terem crenças diferentes.

4) A que conhecimentos chegaram os maçons? Conclua por si mesmo o Diogo perante esta pequena, e meramente exemplificativa, lista de maçons:

Mozart
Schubert
Haydn
Benjamim Franklin
Voltaire
Lavoisier
Baudelaire
Laplace
Liszt
Alexander Fleming
Rudyard Kipling
Enrico Fermi
Egas Moniz
Carlos Mardel
Freud
Henri Dunant (fundador da Cruz vermelha Internacional)
Carl Jung

Abraço.

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

Correção:

O atalho correto para o texto que lhe indiquei é:

http://a-partir-pedra.blogspot.pt/2008/03/serei-crente.html

António Miranda disse...

Efectivamente é uma temática interessante, primeiro pela perspectiva histórica, que, mesmo quando não aplicada à Maçonaria, mas também à vida de qualquer cidadão enquanto membro de qualquer organização, está cada vez mais desprovida de qualquer significado, por desconhecimento histórico, ou seja, há uma grande dificuldade principalmente nos dias de hoje completamente preenchidos de distracções e repletos de uma confusão generalizada sobre o que são os princípios da vida em sociedade, que o processo histórico passa despercebido da maioria das pessoas como se de uma lenda se tratasse. Se nas organizações, sejam elas de que tipo for, se desse alguma importância à história da sua própria evolução seria talvez mais fácil para todos uma compreensão efectiva de quais são os propósitos dessa mesma organização.
A verdade é que a maçonaria está intrinsecamente relacionada com rituais e processos de obediência que nem sempre são entendidos mesmo por alguns membros dessa organização, como escreveu Christopher Knight no seu livro “A chave de Iran”. Este processo de entendimento sobre os ensinamentos dos pedreiros anteriores devem ser a chave para a continuidade da ordem tendo em conta que, na minha modesta opinião, a longevidade desta resulta precisamente do cumprimento das regras implementadas com base nesses escritos a quando das constituições de Anderson.
O que quero dizer é que é importante que seja dada a devida atenção sempre que a componente histórica seja levantada e a quem tenha a amabilidade de a aprofundar e partilhar a bem da organização, seja ela qual for, e quanto mais explorada e aprofundada melhor.
A outra questão está relacionada com a crença. Sendo que na maioria das religiões é expresso a alto e bom som pelos seus seguidores que sentiram um chamamento, na maçonaria dificilmente alguém sente ou apregoa esse tipo de sentimento, isso marca a diferença entre o que pode ser considerado crença ou não, com está expresso no texto de Carl Sagan, poupar o cérebro ao pensamento é uma forma fácil de ter certezas, e sendo que na maçonaria o trabalho e a idoneidade comprovada pelos actos é condição de admissão nunca a falta de esforço cerebral pode ser considerada como um factor da condição de maçon.
É também excelente a dualidade de pensamento referenciada no seu texto quando refere que, até prova em contrário, será crente, mas compreende e aceita de forma aberta que o pensamento contrário também esteja correcto até que seja provado continuaremos todos a seguir o que acreditamos, mesmo porque, com também foi dito, nenhuma das versões está explicada e não têm necessariamente que ser contraditórias.
Obrigado pelo texto e pela partilha.
Importa referir que embora me interesse por estes assuntos, sou profano!