26 outubro 2011

Maçonaria e Poder (XV)

Estandarte da GLLP/GLRP

Se a GLLP/GLRP não intervém politicamente, então não deve ter no seu seio políticos. Se os tem, não deveria ter - ou então pratica de facto aquilo que nega de palavra. Esta é uma objeção que já ouvi. E que é aplicável aos políticos, como aos magistrados, como aos gestores públicos, por exemplo.

Não tem razão de ser esta objeção. Mas não basta afirmá-lo, há que mostrar porquê.

Elenquemos alguns factos, formulemos algumas hipóteses (não propriamente impossíveis, mas de efetivação muito improvável, refira-se já, para que não haja dúvidas ou suspeitas infundadas) e coloquemos algumas questões.

O JPSetúbal é um empresário com muitos anos de experiência e lançou e manteve vários negócios e empresas. Ainda hoje, semirreformado, gere uma pequena empresa com relevância e repercussão pública no concelho onde reside. Suponhamos que decidia candidatar-se à autarquia onde reside e onde é conhecido e era eleito. Passava automaticamente à condição de político. Deveria, por tal facto, ser excluído da GLLP/GLRP?

O Rui Bandeira exerce há mais de três décadas, a profissão de advogado. É, pois, um jurista e advogado experiente. Suponhamos que decidia, e havia vaga para tal, dedicar os últimos anos da sua vida útil profissional colocando a sua experiência ao serviço da comunidade, no exercício da Magistratura. Seria esta opção razão bastante para dever deixar de integrar a GLLP/GLRP?

O José Ruah é um gestor experiente na área da saúde, tendo aprendido e executado como fazer o mesmo com menos meios e como obter mais com os meios disponíveis. A sua específica competência e capacidade, adquirida e apurada na gestão privada, fá-lo um alvo possível de recrutamento para gestor de unidade pública dessa área. Se isso sucedesse, deveria ele abandonar a GLLP/GLRP?

Parece evidente que, em qualquer dos três casos hipotizados a resposta deve ser negativa. Estes três maçons de muitos anos sempre trabalharam no setor privado e não seria o facto de, nas suas áreas, enveredarem pela causa pública que os faria deixar de serem quem são, os levaria a agir diferentemente da forma como atuaram toda a sua vida.

O político, o magistrado, o gestor público, eram-no, não por serem maçons, mas em resultado, na sequência do seu percurso de vida ao longo de dezenas de anos. E não se vê por que a sua coerência, em termos éticos, cultivada ao longo de dezenas de anos deveria ser afetada pela sua passagem do setor privado para a vida pública. Não é verdadeiro o ditado de que "a ocasião faz o ladrão" - a não ser que se considere que todos são ladrões, só o que faltará a muitos são as ocasiões, o que seria uma paupérrima conceção da Humanidade.

Quem resista à tentação do slogan, da demagogia, do sound bite, nas análises que faz, facilmente conclui que não é o facto de haver políticos, magistrados, gestores públicos numa Obediência Maçónica que é certo ou errado por si só, que gera condenável influência política, ou o que quer que seja.

O que importa não é quem está, o que faz profissionalmente quem integra a Obediência. O que importa é o objetivo com que cada um deles ali está. Se e quando está para se aperfeiçoar, para ser melhor e com isso agir melhor na sua vida profissional, tudo bem, é motivo de satisfação para a Obediência, é bom para ele, é melhor para a Sociedade. Se o objetivo é criar ou obter "sinergias" para alavancar as suas possibilidades na sua vida profissional ou social, para integrar projetos de influência, então tudo mal: o próprio terá a ilusão do Poder, porventura ascendendo mais alto, não por si, mas à sombra de algo exterior a si e, mais tarde ou mais cedo, à falta de valor próprio, cairá - e de quanto mais alto cair, mais doloroso será o trambolhão; a Obediência trai-se a si própria e, a longo prazo, como historicamente se viu, pagará, com juros, o preço de se imiscuir onde não deve; a Sociedade perde por ver a sua natural evolução ser perturbada e torcida.

É tudo uma questão de postura, de objetivo, de respeito pela natureza das instituições, afinal. Não é porque um cão mordeu que se devem abater todos os cães. O que se deve é ensinar os canídeos a refrearem os seus instintos.

A GLLP/GLRP, como todas as Obediências Regulares, não exclui políticos, magistrados, gestores públicos, etc., das suas fileiras. Têm o mesmo direito à melhoria, ao aperfeiçoamento, segundo o método maçónico, que todos os outros homens livres e de bons costumes e seria írrito discriminá-los.

Mas o que importa ter sempre presente - contra demagogos e mal-intencionados, mas também contra tentações, por muito vestidas de boas intenções que se apresentem - é que há uma caraterística fundamental na Maçonaria Regular: nela podem entrar políticos, mas não a Política; destina-se a formar todos os seus membros, incluindo os que sejam políticos, mas não forma políticas.

Entendendo-se isto, entende-se como deve ser natural e em que limites é saudável a interação entre a Maçonaria e o Poder!

Rui Bandeira

13 comentários:

Marcos Amaro disse...

Estimado Rui Bandeira;

Penso que este é o tal último texto sobre a Maçonaria e Poder, considerando um seu anterior comentário, assim sendo, espero por um novo trabalho e suas respetivas reflexões que sempre enriquecem quem lê e acompanha este espaço de troca de ideias e partilha de ideais.

Quanto ao tema em concreto os meus comentários são muito curtos e grosseiros, se tal me é permitido:

Tomara eu que todos os políticos e gestores de coisas públicas e privadas fossem “VERDADEIROS MAÇONS”;

Tomara eu que todos os que os gerem as suas casas, educam os seus filhos e ensinam os nossos filhos fossem “VERDADEIROS MAÇONS”;

Tomaram eu que a nossa sociedade fosse toda constituída por “VERDADEIROS MAÇONS”;

Por certo teríamos uma sociedade mais “justa” e “perfeita”;

Por certo teríamos uma sociedade mais “fraterna” e “altruísta”;

Lá está mais um a fazer-se à causa, poderão pensar uns entender mal outros, mas não, eu explico o porquê da minha pretensão, o porquê do meu desejo egoísta:

Para mim um “VERDADEIRO MAÇOM” é:

Um homem que procura a perfeição através do trabalho dele, para ele e para os outros;

Um homem que é altruísta e não egoísta;

Um homem que reconhece que tem defeitos e tudo faz por os combater;

Um homem que sabe os seus limites e tenta ultrapassa-los com consciência do correto e incorreto;

Um homem que coloca a justeza e a correção acima do interesse próprio e da ignominia de fazer apenas pelo seu belo prazer;

Um homem que tem a coragem de se agrupar e juntar a valores comuns, partilhando com outros os seus sentimentos mais puros e fraternos;

Por fim um homem verdadeiramente homem.

Utopia tal não existe, gritam por certos muitos, concordo, mas estou certo que um "MAÇOM" trabalha para isso e por isso, em conjunto com todos aqueles que partilham os mesmos princípios e regras.

Mas e os que não são “VERDADEIROS MAÇONS”, não podem esses também ser assim? – questionarão uns outros tantos, estou certo que sim, mas esses se ainda não são “VERDADEIROS MAÇONS”, por não pertencerem há Maçonaria, em breve procurarão maneira de ser e ou seguirão o seu caminho fora da Maçonaria respeitando e mantendo os seus valores, tal como se diz que “não veja a tua mão direita o que a esquerda faz”, um Maçom deve fazer o que faz e defender os valores máximos da sua consciência sem ter a necessidade de que lhe atribuam qualquer titulo e ou classificação e ou que o reconheçam por qualquer designação, um “VERDADEIRO MAÇOM”, dentro ou fora da Maçonaria deve ser pelos outros reconhecido pela sua forma de estar, pelo exemplo que dá, pelo empenho que tem, pelas causas que defende e nunca pelo que deu, pelo que fez, pelo seu poder e ou ausência dele.

Mas estimado Rui Bandeira esta é a forma de que um homem comum pensa e por certo, imperfeito como é, muitas das suas argumentações e reflexões devem de sofrer o desbaste das arestas que constituem a sua pedra bruta.

Por certo a forma que este homem comum têm deve de ser trabalhada pelo “cinzel” depois de lhe se aplicada a “justa” força para produzir a correção necessária, sem ferir de morte a pedra e dela se poder retirar uma forma "polida" de preferência "cúbica".

Estimado Rui Bandeira bem-haja,

MA

Candido disse...

Boas
Foi com muito agrado que segui esta serie e que arquivei(sem aviso) para memoria futura.
Efectivamente a Maçonaria sempre abraçou as causas nobres sem nunca as reclamar, mas, embora pouco usual num Maçon, atrevo-me a apontar o caso Timor....
Abraço e Obrigado Rui.

Diogo disse...

«Se o objetivo é criar ou obter "sinergias" para alavancar as suas possibilidades na sua vida profissional ou social, para integrar projetos de influência, então tudo mal: o próprio terá a ilusão do Poder, porventura ascendendo mais alto, não por si, mas à sombra de algo exterior a si»


Caro Rui,

É precisamente esta a questão. É deste objectivo que quase toda a gente, fora da maçonaria, desconfia. E, quanto a mim, com razão.

É por isso que, enquanto houver Segredo, a interação entre a Maçonaria e o Poder levantará sempre suspeitas. Como poderia ser de outro modo?

Abraço
Diogo

Candido disse...

Viva Diogo.
O segredo só diz respeito a quem se comprometeu respeita-lo, aos outros, efectivamente não lhes diz nada!!!!!
É como discutir a existência de Deus...,para quem não acredita, Deus significa o quê?
So easy!
Abraço

Paulo M. disse...

@Diogo: O "segredo maçónico" e qualquer suposto "tráfico de influências" nada têm que ver um com o outro. Nada. Em primeiro lugar porque o conceito de segredo em maçonaria é, acima de tudo, simbólico, transmitindo nomeadamente a ideia de que nem tudo deve ser dito - como diz o povo, "se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro", ou "pela boca morre o peixe".

Por outro lado, no que concerne supostos "tráficos de influências", são mais as vozes que as nozes. Diga-me lá: nunca, num grupo de amigos, ouviu perguntar se alguém conhecia uma empregada doméstica de confiança, ou um contabilista sério e empenhado, ou simplesmente um restaurante onde o serviço seja bom? Nunca ouviu perguntar "conheces alguém que perceba de...." ou, mais diretamente, "alguém conhece alguém no sítio X que possa dispôr-se a perder meia hora do seu almoço a procurar a informação Y que já pedi mas demora semanas ou meses a ser-me disponibilizada"?

Será errado fazer isto entre amigos? Não me parece. Então porque será que é errado fazê-lo entre amigos que, por acaso, sejam maçons? Apelar à boa vontade de um amigo, pedindo-lhe que ceda um pouco do seu tempo - não do tempo do patrão, nem dos clientes; falo do tempo pessoal de cada um - será assim tão estranho? É que os "favores" que ouço, por vezes, pedir, são tão prosaicos quanto os que referi.

Ou será que entende ser, de todo, errado ajudar um amigo?!

Um abraço,
Paulo M.

Streetwarrior disse...

Boas a todos os que nos lêem.

Eu compreendo a questão do Rui e que terá a sua lógica, usando os óculos que que se Escolher.
Sem duvida que não coloco a honorabilidade das pessoas em causa e já o disse, que a Maçonaria por si , não é uma instituição maligna, nem o poderia ser, senão, como dizem os Brasileiros, "a casa já tinha caído "
Mas convenhamos que determinadas situações, não se regem pela lógica de instituição mas sim, por uma ética moral que não pode e deve ser colocada em causa a bem dos intervenientes.

Pergunto-lhe então e isto serão meros exemplos.
Será moralmente aceite, um médico legista do hospital, fazer parte de uma associação de agências funerárias da zona desse hospital?
Será moralmente aceite, mesmo com as melhores intenções dos intervenientes que um julgamento, reúna, Juiz e Réu da mesma loja ou Obediência?
Será moralmente aceitável que JP Setubal ( e peço perdão, mas é um mero exemplo ) ser um empresário de nome e que decida participar activamente na Sociedade concorrendo a um cargo Politico, sendo-lhe exigido que tome as melhores opções em prol da comunidade, contratar serviços da própria empresa, sendo essa, o fornecedor ou prestador mais em conta?... Atenção que refiro que o negócio é vantajoso para a Comunidade.
Qual a razão, se a maçonaria se interessa tanto pelos ideais e bons valores de seus membros e reprova determinadas atitudes, pergunto-lhe.
Isaltino Morais foi/será expulso? Outros casos conhecidos, foram expulsos?
É quase tão inconcebível como o papa tentar arranjar justificações e proteger Padres Pedófilos com a desculpa que Deus Perdoa.
Deus pode perdoar, mas o Homem Bento sabe as responsabilidades morais que exerce....ou melhor, não exerceu.

É que, motivado pela relação " discreta " dentro da sociedade, a Organização, será sempre prejudicada e isto é um facto que tem que ser aceite por vocês, independente de sequer se colocar em causa a idoneidade das pessoas.

Depois, ainda existe um outro factor relacionado com o aprimorar dos bons valores Mortais.

Qual será então a inclinação para que se escolha quase sempre para as suas fileiras, Médicos, Advogados, Juízes, enfim, indivíduos com alguma formação, digamos média/elevada e que pelo nível cultural que já têm, possuem uma consciência e elevação moral para com a sociedade?
É que se é para formar pessoas com valores, tratemos de aprimorar os escalões mais baixos da sociedade, pois é nesses que falta cultura, formação cívica ( a maioria )e consciência democrática...e não me parece que haja, a titulo de exemplo, os verdadeiros Pedreiros na concepção da palavra dentro da Maçonaria.

È uma questão de ética e moral caro Rui..mas isto é a minha opinião e que vale o que vale.
Bem Haja
Nuno

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

Concordo com os comentários de resposta do Cândido e do Paulo M. A questão não é o "segredo" (que não tem a dimensão que se mitifica: confira, por favor, o meu texto "O Segredo macónico", publicado no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues, em http://www.rlmad.net/rlmad-main/mmenu-pranchas/715-segredo-maconico.html). É a utilização, quando existe e enquanto não é evitada e repudiada pelos maçons que o são com objetivos sérios e sinceros, da Maçonaria para fins alheios ao seu múnus.

Se um padre é pedófilo, não se pode lançar um anátema sobre todos os sacerdotes. Se um advogadoé incompetente na defesa do seu cliente, não se pode genmeralizar e dizer que todos os advogados são incompetentes. Se um juiz é venal, não se pode dizer que os juízes são venais. se um político rouba, não é certo afirmar que todos os políticos o fazem. Se um maçom não se comporta como tal, não se deve concluir que a Maçonaria é que está mal e é um perigo e é a génese de todos os males do Mundo e mais da crise da dívida e do buraco que existe no asfalto da rua perto de si.

Este o meu ponto de vista.

Critique-se, repudie-se, denuncie-se quem merece crítica. repúdio, denúncia. Não se meta no mesmo saco todos aqueles (e são muitos) que, pelo contrário, procuram ser melhores e cada vez mais, nem a instituição que buscaram para i tentarem fazer e ser.

No fundo, é tão simples: basta não ir atrás das demagogias, dos "Pedros" que estão sempre a apontar lobos que nunca chegam, poupando munições para o animal que efetivamente venha atacar o gado, quando e se vier...

Abraço.

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarior:

Respondendo às suas perguntas:

1) Um médico legista (cujos "clientes" são apenas restos mortais de alguém que já não vive neles) pode moralmente ser sócio de uma sociedade de agências funerárias se a legislação que regula a profissão médica, a condição de funcionário ou colaborador hospitalar e o setor das agências funerárias o permitir; e é moralmente errado que o seja se a Lei o proibir.

É importante que se tenha a noção de que a Moral Social é a que decorre da regulamentação legal da mesma Sociedade enão outra qualquer , ou mais , ou menos. Ou então, está-se a deixar nas mãos de indivíduos ou grupos de indivíduos, ou setores sociais a definição do que é "moral" ou "imoral", o que é uma forma de ditadura do pensamento porventura mais eficaz porque insidiosa.

Se é moral, deve ser permitido. Se é permitido é porque é moral. Quem ache que algo permitido é imoral, deve diligenciar pela sua proibição. Se i não conseguir, não pode, não deve, pretender impor os seus conceitos à maioria que rejeitou a sua opinião. Estas são as regras da Sociedade. Que são também válidas para o raciocínio inverso: não é lícito pretender desculpar-se conduta ilícita co o pretexto de que pode ser proibido, mas é moral...

2) Sim. Juiz deve condenar Réu da sua Loja se dever ser condenado e deve absolvê-lo se dever ser absolvido. Ou então não ode ser Juiz! Que confiança pode a Sociedade depositar num Juiz que seja incapaz de exercer imparcialmente a sua função só porque conhece um Réu? Na Lei existem disposições que impõem e permitem a substituição de um Juiz em situações em que, por qualquer razão, ele se considere incapaz de julgar caso concreto com imparcialidade. Se assim for, o Juiz deve utilizar essa possibilidade. Se o Juiz, apesar do conhecimento e convivência com o Réu se considera capaz de julgar objetivamente o caso, então julgá-lo-á objetivamente e condenará, se se provar que o Réu cometeu infração. Não meio-juízes. Ou se é Juiz de corpo inteiro e caráter firme, ou não se merece a enorme confiança e o enorme poder que a sociedade lhe confia.

3) A Lei proíbe que titulares de cargos políticos negoceiem com sociedades em que eles ou seus familiares próximos participem. Portanto, a situação hipotizada é efetivamente ilegal e, assim, imoral.

(continua)

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior

(continuação)

4) Isaltino Morais ou qualquer outra figura pública condenadasó pode ser expulso da maçonaria se for maçom. Nunca ouvi Isaltino Morais afirmar que é maçom, pelo que não respondo em concreto à pergunta, pois isso poderia levar a crer que eu admitiria que ele o era. Em termos abstratos, informo que o Regulamento Geral da GLLP/GLRP determina que, se porventura um maçom for condenado por factos infamantes ou que denigram a Maçonaria ou a Obediência, será expulso, se não sair pelo seu próprio pé.

5) Por fim: no texto anterior (XIV) referi que a Maçonaria sociologicamente tem mais elementos pertencentes a estratos privilegiados ou relativamente confortáveis da sociedade do que dos estratos que vivem com dificuldades (só depois de se garantir adequadamente a subsistência e um mínimo de conforto, para si e para os seus, é que o homem está verdadeiramente disponível para algo para tantos tão abstrato como preocupar-se com o seu aperfeiçoamento moral e espiritual...). Isso explica a prevalência de elementos de extratos mais confortáveis na Maçonaria. Só podemos aceitar e enquadrar quem nos procura. Mas asseguro-lhe que todos aqueles que, mesmo de extratos com mais dificuldades ou de profissões ditas menos "nobres" (e isso não existe: todo o trabalho honesto é nobre e digno) pedem a Iniciação são analisados e tratados exatamente com os mesmos critérios que usamos para todos. Temos, naturalmente, pela razão que apontei, um número menor de pessoas de extratos menos "considerados" socialmente. Mas todos os que connosco estão são Irmãos com a mesma dignidade e respeito e carinho e amizade que o maçom socialmente mais "ilustre". Nunca ninguém poderá acusar a Maçonaria de não ser um paradigma de algo que lhe é essencial e integra uma das suas divisas: a mais absoluta Igualdade!

Streetwarrior disse...

Caro Rui, concordo com o comentário na sua genese mas ambos sabemos que nem sempre a teoria se aplica á prática.
Além do que algumas leis ( e seus buracos a explorar )são elas próprias inexplicáveis e imorais, as Parcerias Publico Privadas são exemplos de estar legalmente previsto e representarem acordos escandalosos e prejuiciais para o em comum.

[ "Que confiança pode a Sociedade depositar num Juiz que seja incapaz de exercer imparcialmente a sua função só porque conhece um Réu?"
"Se o Juiz, apesar do conhecimento e convivência com o Réu se considera capaz de julgar objetivamente o caso, então julgá-lo-á objetivamente e condenará..." ]

Na minha opinião, isto é moralmente reprovável e é aqui que entra a discrição da maçonaria, pois derivado a esse factor, não se cosegue apurar se ambos são maçons...ou não.
O caso Moderna, foi exemplo disso.

Será possivel, proidenciar maçons que tivessem sdo expulsos de suas Obidiencias, por estarem a braços com a justiça e terem sido condenados?
Nuno

Nuno Raimundo disse...

Uma pequena achega,

A opinião pública não sabe se num julgamento, o Juiz e o Reú são maçons, mas também e mais importante que isso, sabe se são amigos pessoais ou não?

A relevância de ser maçon ou não, simplesmente não existe!

E se num julgamento um Juiz julgar um amigo seu? O fator amizade deve pesar no seu julgamento?
é obvio que não o deve ser.
O mesmo se passa em relação à Maçonaria.

Agora acredita quem quiser acreditar.
Quem não quiser, que olhe para dentro e pense o que faria se fosse o juiz, e se algum amigo seu fosse o réu.

abraços

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Nuno,

1) Se os princípios são corretos e a prática não os segue, é esta que tem de ser corrigida e, sendo caso disso, sancionada.

2)Não comento aqui opções políticas e não me referirei, portanto, em concreto, às PPP. Mas sempre lhe digo que uma coisa é a Lei (que admite a existência de PPP) e outra á aatuação concreta da Administração (que fez contratos que muitos considram ruinosos para o Estado e com vantagens injustificadas para a parte privada). Discordo da sua utilização do conceito de "moral" ou "imoral"para caraterizar algo de que discorda politicamente. Os contratos feitos não são morais nem imorais: são certos ou errados, defenderam ou não equilibradamente os intereses das duas partes. Mas isso não tem nada a ver com Moral. É preciso cuidado quando utilizamos figuras de linguagem. Quando se diz que as PPP são imorais, faz-se uma hipérbole, carregando nas tintas para acentuar a discordância. Mas não rebaixemos a Moral de nível, não banalizemos a utilização do conceito (já que não resistimos a banalizar a palavra).

Na minha opinião, há 3 tipos de moral: a individual, que só a cada um e à sua consciência diz respeito; a religiosa, decorrente das regras de conduta resultantes dos Livros sagrados da religião e sua interpretação pelos respetivos sacerdotes, e que vincula os crentes dessa religião, na medida da sua crença e da sua ligação a ela; e a moral social, que só pode ser a que resulta da Lei fixada na Sociedade, sob pena de completa anarquia ou de sujeição às mais descaradas demagogias. Se não for a Lei a definir a Moral social, então o que seria ela? Seria definida por quem mais ativamente proclamase as suas ideias, quiçá preconceitos? E se dois, três ou quatro fossem simultaneamente ativos na proclamação de ideias / preconceitos opostos entre si teríamos 2, 3 ou 4 "morais sociais"? Ou seria a moral social definida pelo que à massa da população é fornecido pelo grande meio de comunicação atual, a televisão? E neste caso, qual o conceito moral a adotar: o dos documentários e mensagens culturais da RTP 2 ou o dos reality shows da TVI?

3) se pensar bem, o que relamente interessa não é se o juiz é maçom ou não. O que interessa é se o Juiz é reaslmente Juiz, isto é, imparcial, objetivo nas suasanálises, justo nas suas decisões. Se o Juiz é juiz, sendo maçom nem lhe passa pela cabeça beneficiar alguém por ser também maçom.

Por outro lado, a objeção anterior do Nuno Raimundo também me parece consistente: ninguém do público sabe se e auando um juiz nãoestá a julgar o assunto de um seu amigo... E também aqui a questão se põe nos mesmos termos. se não se declarou impedido ou suspeito (termos técnico-jurídicos para designar situações em que deve ou pode o juiz ser desonerado do dever de decidir uma questão concreta), ou é verdadeiramente juiz e a amizade é irrelevante para a decisão ou, se põe esta à frente da justiça, juiz não é...

4) E, já que falou da Moderna, quero lembrar que o maçom ali em causa foi condenado e cumpriu pena. E, já agora, aí tem também o exemplo de uma situação de expulsão.

Um abraço.

Streetwarrior disse...

Obrigado pela reflexão.

Nuno