27 março 2009

O Chocolate quente


Verdade que o tempo mais frio parece ter passado... de facto nunca se sabe, mas mesmo com a tradição a não ser o que era a Primavera anuncia-se esplendorosa renovando a vida.

Está a ser assim e ainda bem.

A Primavera está-se nas tintas para as crises !

Esta constatação vem a propósito de uma boa chávena de chocolate quente...

Quem, de entre Vós se lembra e teve a sorte de beber o "Cacau da Ribeira" ?

Em Lisboa funcionava como o "ide e que Deus vos abençoe" das missas católicas... Era o final inevitável das "noites da malta", aí pelas 5 ou 6 da matina, já abrandava o escuro do Céu quando o pessoal se juntava no Cais do Sodré para o "Cacau da Ribeira", quente, denso, com cacau a sério (não era plástico, não !) que repunha a ordem no corpo e no espírito após uma noitada... de trabalho duro e cansativo que Deus sabe... Aquilo é qu'era trabalho... haja Deus !

Ora bem, hoje é dia de "estorinha" (institucionalização do Rui) e como tal aqui vai uma, bem saborosa e doce que recupera algo daquela magia das noitadas de Lisboa nos idos de 50's e 60's do século XX (caraças, estou velho !)
Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras,decidiram fazer uma visita a um velho professor da faculdade, agora reformado.

Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho.

O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes - de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas.

Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade.

Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, lhes disse:

- Reparem como todos escolheram as chávenas mais bonitas e dispendiosas deixando ficar as mais vulgares e baratas. Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena, mas fostes conscientemente para as chávenas melhores.

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação doprofessor, este continuou:

- Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm.

Vivei com simplicidade.
Amai generosamente.
Ajudai-vos uns aos outros com empenho.
Falai com gentileza.

E apreciai o vosso chocolate quente!

(fim da estória)

Muito bem, se depois disto tiverem necessidade de pegar no guardanapo para limpar a boca... é bom sinal.

Escolheram o chocolate ! Fizeram bem !!!

Mas não abusem. Cuidado com o fígado.

Bom fim de semana.

JPSetúbal

16 comentários:

Diogo disse...

A maçonaria diz recrutar apenas entre os bons para formar uma elite. Será que não estão a olhar apenas para a chávena? Quanto chocolate do bom, servido em chávenas simples, não vos terá já passado ao lado?

Jose Ruah disse...

Chocolate que eu saiba nenhum do bom nos passou ao lado.

No entanto chá, ou falta dele, graças a Deus que nos passam uns quantos ao lado.

A Jorge disse...

Diogo,

Tem razão quando diz que nos podem "passar ao lado" pessoas bastante validas: Seleccionando com critério ou sem critério nenhum, esse risco existe na mesma, já que não temos possibilidade de "avaliar" toda a gente - estará certamente de acordo que é preferível ter critérios do que não os ter.

De qualquer modo, aquilo a que chama "os bons" não se mede em termos de riqueza física, influência, ascendente familiar ou cor política; mede-se exclusivamente em termos de riqueza espiritual e atitude perante a vida e os outros.

Paulo M. disse...

Apertou-se-me o coração ao ver o Cacau da Ribeira referido no passado. Quer isso dizer que deixou de existir? Se assim é, é pena... É daquelas coisas que damos por tão certas que não nos passa pela cabeça que possam deixar de existir.

Como as lojas de roupa - que vão tentando adaptar-se à medida do envelhecimento da clientela para fecharem quando esta deixa de precisar de roupa nova - muito do que, na parca extensão da nossa existência, temos por intemporal vai dando os seus sinais de desgaste para acabar por desaparecer. Por isso muitas instituições não sobrevivem ao seu fundador - ou, quando muito, à geração que o sucede. Só quando passam algumas gerações se pode confirmar se foi feita para as atravessar ou se, pelo contrário, não passou de um lampejo, de um fósforo que arde na escuridão, condenado a uma extinção precoce.

Ouvi, não há muito tempo, dizer que uma loja sem aprendizes, por muitos mestres que tenha, é uma loja condenada a abater colunas. O mesmo pode ser dito da Maçonaria em termos mais vastos. Porém, enquanto continuar a haver bons candidatos - e, pelos vistos, estes vão aparecendo - a Maçonaria irá permanencendo. É inevitável que venha a desaparecer no turbilhão de artefactos culturais que a História regista. Como das pessoas que morrem, poder-se-á, nessa altura, dizer que, se o Mundo estiver melhor porque ela existiu, terá valido a pena a sua existência.

Simple

Diogo disse...

A Jorge: «aquilo a que chama "os bons" não se mede em termos de riqueza física, influência, ascendente familiar ou cor política; mede-se exclusivamente em termos de riqueza espiritual e atitude perante a vida e os outros»


Então podem ser os mais humildes dos humildes. Há algum nas fileiras das maçonarias?

A Jorge disse...

Diogo,

Ora aqui está uma pergunta cuja resposta é fácil - SIM.

Diogo disse...

A jorge,

Gostaria de beber uma imperial com ele. Para uma troca de pontos de vista. Eu pago.

Diogo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jose Ruah disse...

@ Diogo

Lamento impossivel que possa beber uma imperial com quem quer que seja que pertença à nossa ordem.

Se lhe indicassemos os nomes estariamos a violar os nossos compromissos.

E depois entenda que, estando o chocolate bem cá do nosso lado, a falta de chá do seu, o que sobra dizer mesmo é que

" Nós é mais café!!!"

Nuno Raimundo disse...

ºBoas simple...

( não te "ensinado" nada que não saibas já)...
;)

é normal que uma RL que não tenha aprendizes "abater colunas" no continuar do tempo, porque não havendo admissões, elevações e exaltações o quadro de mestres não é renovado, logo a linha de sucessão será a mesma; Não existindo uma continuada renovação dos seus quadros, a mesma "perecerá"
porque existirão sempre as mesmas "caras",as mesmas "opiniões"...
Por mais que se debata, por mais que se tente aperfeiçoar, a entrada de "sangue novo" oermitirá ver as "coisas" de outra forma e com outros "olhos".

Quanto candidatos, tarde ou cedo eles aparecerão...
Existiram, existem e existirão pessoas que gerão sempre vontade de melhorar os seus defeitos e aperfeiçoar as suas qualidades...

º Quanto ao post,
a estória apenas demonstra o que existe na realidade, usando outra metáfora, onde quase todas as pessoas gostam de envergar as melhores roupas e as de melhores marcas sem nos preocuparmos se o que vai dentro delas ( nós) é de semelhante qualidade ou não.

Não é por escolhermos os melhores objetos, envergarmos as melhores roupas que seremos melhores seres humanos.
Seremos melhores pessoas, é se as nossas intenções e o que nos vai na "alma" assim o for...

abr...prof...

Jose Ruah disse...

@Nuno

Uma Loja que não inicie aprendizes está inexoravelmente condenada a desaparecer. Não num ano ou em 2 mas como bem sabe a morte é um facto da vida e consequentemente os Mestres dessa Loja um dia vao começar a morrer....

A Jorge disse...

Diogo,

Deduzo pela sua resposta que duvida da que lhe dei. Está no seu direito.

Aparentemente, temos formas de estar bastante diferentes; eu prefiro acreditar nas pessoas até prova em contrário.

Nuno Raimundo disse...

Boas José...

Como essa é uma condição "natural" da Vida, não a mencionei.
Preferi abordar o "assunto" de outra "forma".
;)

ABR...PROF....

Paulo M. disse...

Viva, Nuno! É verdade, uma loja sem aprendizes, antes de abater colunas por morte biológica (como referiu o José Ruah), será uma espécie de "morto-vivo", sem sangue novo. Contudo, basta que, nessa fase, admita aprendizes (e os acompanhe o tempo suficiente...) para inverter essa expectativa de morte anunciada.

Recordemos, no entanto, que a Maçonaria existe há poucos séculos. As organizações mais antigas que existem hoje têm poucos milénios, e uma "máquina de sobrevivência" muito bem montada. Ora, a humanidade existe há muito mais tempo do que isso; muito do que existiu simplesmente desapareceu, por uma razão ou outra.

Aceitemos esta morte com serenidade - até porque não estaremos cá para a presenciar...

Um abraço,
Simple

J.Paiva Setúbal disse...

Simple
Meu Caro, pois é, tudo se acaba...
Penso que ainda existe algo que se chama, ou é conhecido por, "O Cacau da Ribeira" mas... a tradição já não é o que era. O bom, velho e revigorante Cacau da Ribeira que mais se mastigava do que se bebia, em chávenas rachadas cheias de... "patine" que o tempo e o uso lhes pintou, esse foi "chão que já deu uvas". O que não quer dizer que não existam bons locais para tomar um bom chocolate, mesmo a "des-horas".
Zé e Jorge
Vá... deixem-se disso, vão tomar um cacausinho bem quentinho qu'isso passa. Aposto !
Já agora... Óh Simple, acho que devias ir com eles. Só vos peço para me avisarem. Também quero...

J.Paiva Setúbal disse...

Chatice, então não é que me esqueci do Rui... Em boa verdade agora qu'é um Senhor não sei se aceitará... hum, acho que sim... é capaz de aceitar... Vá anda daí também.
É porreiro, pá !