10 agosto 2008

Desfazendo uma Confusão

Um Leitor que com imaginação conseguiu um perfil de blogger chamado Anónimo, deixou-nos alguns comentários no post aqui sobre a questão da fé e da regularidade.

Começou por nos perguntar se a condição para ingressar na GLLP/GLRP era acreditar em Cristo.

Foi-lhe respondido que a questão era mais vasta, e que a única condição era acreditar na existência de um Grande Arquitecto do Universo, não tendo a questão a ver com religião mas sim com fé.


Volta o nosso leitor à carga, com as seguintes questões:

“Estou confuso, afinal o que vos diferencia da GLNP?”

E num comentário logo imediato:

“Acabei de ver uma reportagem da TVI sobre maçonaria.Se há pouco estava confuso, agora estou completamente perdido.Qual a diferencia entre GLLP, GLRP e GLNP?De todas as obediências em Portugal só consigo distinguir a particularidade do GOL que aceita mulheres e ateus sem qualquer reconhecimento por parte da regularidade inglesa, mas quanto as outras acima referidas, como distingui-las ??”


Está confuso sim senhor!

Vamos tentar resolver a confusão.

1 – Nem tudo o que se vê na televisão é de boa qualidade ou verdadeiro. Há sempre uma parte sensacionalista, uma parte invenção, uma parte show off e uma parte verdadeira e real.
Se a reportagem que viu é uma que passou originalmente há cerca de 1 ano e que refere a existência do GOL, GLLP, GLNP e GLTP então é a mesma que conheço. E será sobre esta que assento a minha opinião.

2 – Decifrando as Siglas e as datas de constituição e origens:

GOL – Grande Oriente Lusitano – fundado em 1802
Primeira Obediência em Portugal, tendo sido reconhecida pela Grande Loja Unida de Inglaterra, num primeiro tempo e perdido essa regularidade quando adoptou os princípios que regiam o Grande Oriente de França, nomeadamente a não necessidade de acreditar num Grande Arquitecto do Universo, abrindo assim a ateus e agnósticos.
É uma obediência Masculina, só admitindo homens, tendo no entanto convénios de reconhecimento com Obediências Femininas, e consequentemente direitos de visitação.

GLLP – também denominada GLLP/GLRP – Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal – fundada em 1991
Originalmente constituída apenas como GLRP, aparece pela vontade de maçons que militavam no GOL e que com a ajuda da GLNF – Grande Loja Nacional Francesa – constituem uma Grande Loja aceite e reconhecida pela Regularidade.
Em 1996 por força do que ficou conhecido pelo Golpe do Sino, dá-se uma cisão na GLRP e por uma questão legal e administrativa, a Denominação passa para GLLP.
Esta é a única Obediência Maçónica em Portugal a ser reconhecida pela Maçonaria Regular Internacional.

Mais informações em:
Regularidade Maçónica
O Nome da Grande Loja

GLNP – Grande Loja Nacional Portuguesa – fundada cerca de 1997 em Bragança
Aparece fruto da instabilidade gerada pelo Golpe do Sino, e é essencialmente radicada no Nordeste Transmontano, onde aliás tem a sua sede.
Sendo um fruto da linha regular original, adoptou os mesmos princípios, mas não obteve reconhecimento internacional por parte da Regularidade


GLTP – Grande Loja Tradicional de Portugal – Fundada em 2005 e constituída enquanto jurisdição. Os seus fundadores são oriundos da GLLP, da qual saíram após sérias divergências.
Aceita a feminilidade, e é portanto Mista.


3 – A sua primeira confusão:

A obrigatoriedade de uma religião especifica para pertencer à GLLP. Como expliquei na minha resposta, isso não existe. Existindo sim a obrigatoriedade de acreditar num Grande Arquitecto do Universo.

4 – A sua segunda confusão:

O GOL é uma obediência masculina e não aceita mulheres nos seus quadros nem nas suas Lojas. Os Maçons do GOL são considerados Maçons pelos movimentos regulares, embora não sejam reconhecidos enquanto regulares.

5 – A sua maior confusão:

É natural que as duas organizações – GLNP e GLTP – anunciem princípios parecidos aos da GLLP, pois dela derivam e saíram os seus membros constituintes. Todavia e do ponto de vista da GLLP estas associações não são consideradas sequer maçónicas, ou seja nem sequer gozam do mesmo estatuto do GOL. Mas como se pode depreender pelo acima escrito há diferenças substanciais entre os vários caminhos.

É evidente que cada pessoa tem o direito de seguir a via que melhor lhe convém e que não posso, não devo, nem quero estar a fazer juízos de valor.


É certo que este tema é passível de grandes discussões filosóficas, mas usando o principio KISS – Keep it Short & Simple – tudo assenta nos Landmarks e no cumprimento dos mesmos, e no reconhecimento por parte do Movimento Regular internacional que inclui a United Grand Lodge of England, as Grandes Lojas Americanas, a Grande Loja Nacional Francesa e mais uma infindável lista de Grandes Lojas e Grandes Orientes.

Quanto aos Landmarks poderá ler mais em :Landmarks


E com isto espero ter contribuído para a sua confusão !


José Ruah
Com a prestimosa colaboração dos autores dos posts referenciados.
Nota: todas as opiniões expressas são do autor.

10 comentários:

Paulo M. disse...

Aproveito a dúvida do "Anónimo" quanto à crença no Grande Arquitecto para colocar uma questão - para variar, daquelas "simples"...

Existem várias concepções possíveis de "Grande Arquitecto", que podem variar em diversas dimensões. Podem ir de um pessoalíssimo e proverbial "velho de barbas" a uma essência cósmica pouco definida, impessoal e pouco preocupada connosco. Há quem o considere Uno, Trino, ou mesmo que há Múltiplos Grandes Arquitectos - ou, ainda, um mesmo com várias "faces". Há quem O considere uma fonte de moralidade e de regras de comportamento para nós, e quem entenda que "Criador" e "Pastor" são coisas distintas, pelo que, uma vez criados (ou evoluídos...) estaríamos entregues a nós mesmos sem reportar a ninguém. Há quem acredite no Bem, na Ética, na Moral, mas que não considere, forçosamente, que os mesmos emanem de uma qualquer "divindade". Há quem espere um Paraíso com anjinhos barrocos a tocar lira, e quem entenda que o único "céu" que nos espera são as tripas de uma minhoca.

Já vi caracterizar o Grande Arquitecto como o Deus das religiões monoteístas - mais especificamente, das religiões ditas "do Livro" (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), eventualmente e com algum esforço englobando outras religiões, eventualmente politeístas, ou mesmo o Budismo, cuja crença não passa forçosamente (tanto quanto alcança a minha vasta ignorância a este respeito) pela fé na existência de um Ente superior.

Já sei que ser "humanista" não vale, pois muitos daqueles que assim se definem são considerados "ateus" ou "agnósticos" - e o GOL estará cheio deles, e na GLLP não haverá nenhum. Onde está, afinal, a linha divisória? Ou é tudo um certo "gradiente de cinzentos"? Deve haver uma definição algures, ou haver um Landmark - ainda mais tão fracturante - sobre algo que não se define parece-me esquisito... a não ser que esteja subentendido.

Quererá o José Ruah deitar alguma luz sobre este assunto?

Um abraço,
Simple

David disse...

Fiquei mais entendido com os links apresentados no post do que com o resto da mensagem.

Agradeço na mesma a intenção.

Alguma critica mais acérrima a respeito daquele vídeo em três partes ? (Encontrado no site da GLNP)

Também gostaria de saber qual deus corresponde ao grande arquitecto do universo.

Anónimo porque assim o quero
Cumprimentos

David disse...

Anónimo porque assim o queria,

Por vezes sinto que a minha ignorância e as numerosas perguntas são uma maçada para os outros, dai o pseudónimo (com nenhuma intenção ofensiva), mas já que fui respondido com interesse através de um artigo inteiro (e que o simple esta para dar origem a outra mensagem no seguimento), prefiro tirar o "véu", que nunca fica bem.

O seguinte é tirado das 12 regras da GLLP:

"1. A Maçonaria é uma fraternidade iniciática que tem por fundamento tradicional a fé em Deus, Grande Arquitecto do Universo."

O Grande Arquitecto é D.eus. Mas quem é esse D.eus designado pela GLLP ?

PS: A crença em cristo, uma fé católica, é um rumor de que tive conhecimento aqui em franca.

Cumprimentos de um profano,
David

David disse...

Errata:
Anónimo porque assim o queria,

Por vezes sinto que a minha ignorância e as numerosas perguntas são uma maçada para os outros, dai o pseudónimo (com nenhuma intenção ofensiva), mas já que fui respondido com interesse através de um artigo inteiro (e que o simple esta para dar origem a outra mensagem no seguimento), prefiro tirar o "véu", que nunca fica bem.

O seguinte é tirado das 12 regras da GLLP:

"1. A Maçonaria é uma fraternidade iniciática que tem por fundamento tradicional a fé em Deus, Grande Arquitecto do Universo."

O Grande Arquitecto é D.eus. Mas quem é esse D.eus designado pela GLLP ?

PS: A crença em cristo, uma fé católica, é um rumor de que tive conhecimento aqui em franca.

Cumprimentos de um profano,
David

Luz do Oriente disse...

Mano acrescentando uma deixa à tua feliz descrição do panorama maçónico, existe uma terceira obediência chamada Direito Humano que aceita maçons de ambos os sexos e que pelos Landmarks da GLUI se deve considerar irregular.

Jose Ruah disse...

@Luz do Oriente

Não é que me tenha esquecido do Direito Humano, mas na minha classificaçao é uma organização para-maçonica e logo não teria cabimento aqui.

Unknown disse...

Boas tardes!
Desculpem a pergunta. Estava a ler o site do GOL e deparei que outras ordens não marcaram presença na cerimónia de investidura!

Qual a razão de não marcarem presença? Não foram convidados?

Cumprimentos

Jose Ruah disse...

@Giordanu

Não fomos convidados nem teriamos que ser.

Os maçons de per si não existem, são reconhecidos como tal.

Extrapolando para as Obediencias, acontece o mesmo.

O GOL e a GLLP/GLRP não se reconhecem mutuamente, pelo que não teria qualquer sentido convidar.

Neste post, faço referencia a um post do Rui Bandeira que o poderá ajudar a compreender este assunto.

Unknown disse...

Que significa "para-maçonico" ?

Jose Ruah disse...

@giordanu

Organizações similares a organizaçoes maçónicas mas que não o são.

Mal comparado :
Para-Farmácia
Paramédico