04 dezembro 2007

Moto contínuo

(...) oh Rui, não tem defeitos com mais necessidade de empenho e melhoramento do que a escrita?! (...)

(Simple Aureole, em comentário ao texto Reflexão.)

O maçon busca o seu aperfeiçoamento em todos os aspectos da sua vida e do seu comportamento. O seu trabalho, nesse sentido, deve ocorrer em todos os momentos, em relação a todas as actividades, relativamente a todas as suas características.

O que se faz em cada momento deve procurar-se fazer sempre bem feito, cada vez mais bem feito. A necessidade de análise do que foi feito para ver onde e como se pode fazer melhor não deve ocorrer em espírito de crítica ao passado, às opções tomadas, às acções realizadas. Deve, antes, processar-se como meio e rampa de lançamento para melhorar o que se está fazendo e o que se irá fazer.

Por isso, o maçon acaba por tender a ser um optimista. Porque não se abate com os erros passados, antes os usa como alavancas para as melhorias futuras. Se fizer bem o seu trabalho, só pode melhorar...

Nunca é só num campo, num aspecto, que o homem precisa de se aperfeiçoar. É em todos, é em tudo. Porque o homem é uma integralidade complexa, cujo comportamento, cuja acção, decorrem de mil detalhes.

Assim, à interrogação do Simple Aureole, a única resposta admissível é, sem hesitação, que sim. Mas impõe-se acrescentar que, no momento em que me dedico à escrita, é a escrita que procuro melhorar. Naquele momento, é a prioridade absoluta porque esse é o momento que é, isso é o que se faz e o que se faz deve fazer-se sempre com total dedicação, se se quiser fazer bem feito.

Quando outras coisas se fazem, outras coisas devem beneficiar da dedicação absoluta, outras coisas são objecto da procura da melhoria, do anseio da aproximação da perfeição.

Só assim o homem se pode desenvolver equilibradamente - dando o melhor de si em relação a tudo e procurando que esse melhor se aproxime cada vez mais da excelência.

E não se pense que esta postura é impossível de manter, por cansativa. Quando o homem descansa, também então deve procurar fazê-lo cada vez melhor, obter o repouso que lhe carregue as baterias para novo ciclo de trabalho. Quando se diverte, deve procurar divertir-se plenamente - ou então, não estará, pura e simplesmente, a divertir-se.

A tudo isto, em vez de aperfeiçoamento, podia muito bem chamar-se, simplesmente, viver.

Porque, bem vistas as coisas, viver é muito mais do que simplesmente existir, assistir á sucessão dos dias e das noites. Viver é crescer. Por fora, primeiro, por dentro, sempre. Viver é descobrir e praticar e aproveitar o sentido da Vida. Viver é tentar. Viver é errar e remediar o erro. Viver é melhorar.

É da natureza humana procurar ir sempre mais além. Quem disso desiste, ou está doente, ou se resignou a simplesmente vegetar, cedeu à sua animalidade e sufocou o seu espírito. Esse já não almoça, limita-se a comer a sua ração... Esse já não regressa a casa, limita-se a abrigar-se. Esse já não vive, limita-se a aguardar pela morte.

É por isso que, mesmo tendo muitas mais coisas, muitas mais características, para aperfeiçoar, também não prescindo de procurar aperfeiçoar a minha escrita - se o consigo, ou não, essa já é outra história... Entre a busca do aperfeiçoamento e o sucesso nessa demanda há muito caminho a percorrer...

E esse percurso é muito mais fácil quando nos ajudam a pensar, a questionar, a analisar, como sucedeu com o comentário do Simple Aureole. O meu muito obrigado!

Rui Bandeira

2 comentários:

Paulo M. disse...

"(...) no momento em que me dedico à escrita, é a escrita que procuro melhorar. Naquele momento, é a prioridade absoluta porque esse é o momento que é, isso é o que se faz e o que se faz deve fazer-se sempre com total dedicação, se se quiser fazer bem feito."

Percebi, finalmente, o que queria dizer: o Rui luta cada batalha como se dela dependesse a guerra. É uma perspectiva interessante, e uma hipótese que eu tinha descurado, pois tenho tendência a estabelecer metas de antemão e a dar uma atenção pouco mais que periférica ao que não esteja na ordem do dia.

Obrigado pela lição proveitosa.

Um abraço,
Simple Aureole

Nuno Raimundo disse...

Boas...

Apesar de ser um dos "trabalhos do Companheiro Maçon o aperfeiçoamento da escrita e do diálogo, no estudo das Artes Liberais ( Gramática, Retórica, etc); não será essa uma "obrigação" de todos nós?
Tentarmos melhorar os nossos défices e dificuldades e tentar melhorarmo-nos a nós proprios como pessoas e seres humanos que somos?

Pelo que tenho visto aqui, o Rui ( e os outros camaradas de painel) estão num bom caminho...



abr...prof...