26 novembro 2007

O Grão-Mestre Fundador

Fernando Teixeira foi o Grão-Mestre Fundador da Obediência Maçónica Regular Portuguesa, internacionalmente reconhecida, em que se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, que se denominou, inicialmente de Grande Loja Regular de Portugal e que presentemente se denomina Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal (GLLP/GLRP). O seu currículo maçónico está resumido na página dedicada aos Past Grão-Mestres do sítio da GLLP/GLRP, na forma seguinte:

Curriculum Vitae maçónico

- Grau 33 do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite.
- Membro Honorário do Grande Priorado de Helvetia.
- Cavaleiro Benfeitor Honorário da Cidade Santa, do Grande Priorado Lusitano.
- Grande Prior do Capítulo Português do Arco Real.
- Membro de Honra da Grande Loja de Washington D.C.
- Membro de Honra da Loja "Atlântida" da Grande Loja de Espanha.
- Grande Oficial Honorário do Grande Oriente de Itália.
- Membro Honorário (Venerável de Honra) da Loja "Oldest Ally" da Grande Loja Unida de Inglaterra.
- Grande Oficial Honorário da Grande Loja de Porto Rico.
- Grão Mestre Honorário "Ad Vitam" da Grande Loja da Roménia.
- Medalha de ouro da Grande Loja Nacional Francesa.

Em 1984, Fernando Teixeira sai do Grande Oriente Lusitano e funda a Grande Loja de Portugal.
Em 1989, é designado Grão Mestre do Distrito de Portugal da Grande Loja Nacional Francesa.
Em 29 de Junho de 1991, a Grande Loja Regular de Portugal é constituída e reconhecida internacionalmente como Obediência Regular em Portugal, tendo Fernando Teixeira sido nomeado o seu primeiro Grão Mestre.
Reeleito em Setembro de 1994, é substituído em Setembro de 1996, a seu pedido e por motivos de saúde, tendo sido nomeado Grão Mestre Jubilado.

Quando relembro na minha memória Fernando Teixeira, a expressão que assoma ao espírito para definir a marca que deixou em mim é a de Príncipe da Renascença. Fernando Teixeira possuía um carisma invulgar, sabia que o tinha e utilizava-o sem tibiezas. Como Grão-Mestre, governou a Grande Loja com mão de ferro envolta em luva de pelica e sorriso cúmplice. Impunha a sua vontade como um rei absoluto, mas ouvia todos os obreiros, desde os mais próximos colaboradores ao mais recente e imberbe Aprendiz com interesse, agrado e atenção. E não se coibia de elogiar uma boa ideia, um ponto de vista interessante, vindo de um obscuro obreiro e de ordenar (é o termo: Fernando Teixeira, mesmo quando pedia, ordenava...) aos seus mais íntimos colaboradores, aos que asseguravam os mais altos ofícios na Grande Loja, que executassem a boa ideia, que atentassem no ponto de vista interessante.

A imagem que guardo de Fernando Teixeira é a de um homem com uma notória superioridade intelectual, uma cultura enciclopédica, que impressionava os demais e os predispunha para seguirem as suas orientações. Daí o seu carisma. Mas também era um homem perfeitamente consciente desse seu carisma e que o utilizava, sem qualquer hesitação, para garantir que a sua vontade imperasse. Fernando Teixeira foi, sem dúvida, um homem brilhante, que era óptimo ter como amigo, mas que era temível ter como inimigo...

A Grande Loja muito deve a Fernando Teixeira, à sua enorme inteligência, à sua habilidade no trato, à sua capacidade diplomática. Tendo sido criada na esfera de influência da Grande Loja Nacional Francesa, obteve, em tempo recorde, o reconhecimento das Grandes Lojas da esfera de influência anglo-saxónicas, as Grandes Lojas americanas e a Grande Loja Unida de Inglaterra e, com ele, o reconhecimento em todo o Mundo, como a Potência Maçónica Regular em Portugal. Conseguiu, em escassos dois anos, o que outros, mais ricos, fortes e poderosos, em outras paragens levaram anos e anos a obter.

Criou a Obediência a partir quase do nada, com espartana administração dos escassos recursos disponíveis. Sabia e fez saber que a afirmação da Obediência passava também pelo seu apuro ritual. Ensinou e exigiu que se aprendesse.

Fernando Teixeira foi, sobretudo, um grande líder. Com todas as características de um líder. Com todas as virtudes de um líder. Também com os defeitos que o hábito da liderança cria. Era uma vedeta e comportava-se como tal - mas todos gostavam dele assim mesmo e todos esperavam que fosse precisamente assim que se comportasse. Era autoritário e proclamava o seu orgulho em o ser - mas todos se sentiam confiantes no seu exercício da autoridade.

Os cinco anos de exercício do ofício de Grão-Mestre por Fernando Teixeira foram muito frutuosos. Do nada, ou quase, a Obediência cresceu, implantou-se, estruturou-se, organizou-se.

Fernando Teixeira apreciava as boas coisas da vida e afirmava-o sem tibiezas. E gostava de pompa e circunstância, sobretudo nas cerimónias em que recebíamos dignitários estrangeiros. Misturava a solenidade com a humanidade e singeleza com a naturalidade só acessível aos eleitos. Recordo-me de, ainda Companheiro, o ver entrar com pomposa solenidade, usando um riquíssimo avental e o seu Colar de Grão-Mestre, numa sessão de Grande Loja. A dada altura, essa sessão de Grande Loja ficou restrita aos Mestres - o que impôs que os Aprendizes e Companheiros aguardassem no exterior o desenrolar dos trabalhos até à altura em que podiam reentrar. Mas os trabalhos eram demorados e o tempo passava... De repente, no hall do hotel onde os mais novos procuravam consolar o seu aborrecimento, a caminho do tédio, aparece Fernando Teixeira, com todos os seus paramentos. "Fiz um intervalo nos trabalhos, para vir cá fora fumar uma cigarrilha e fazer-vos um pouco de companhia, que já estão há muito tempo à espera..." E cavaqueou durante dez minutos com os Aprendizes e Companheiros, após o que reentrou para recomeçar a sessão. E claro que deixou cá fora umas dezenas de incondicionais, resgatados do tédio da espera por dez minutos de atenção do Grão-Mestre...

Foi assim Fernando Teixeira, príncipe da Renascença, homem brilhante e carismático, que gerou incomensuráveis fidelidades.

Fernando Teixeira gostava do Poder - e assumia-o. Mas a saúde começou a traí-lo e resignou-se a deixar o ofício de Grão-mestre. Mas o perfume do Poder não deixou de o atrair. Conviveu mal com a saída do ofício. Não deixou respirar o seu sucessor. Estava então, também rodeado de alguns próximos que eram mais lata brilhante do que metal precioso. Não se apercebeu que o brilho que estes mostravam mais não era do que o pálido reflexo do brilho que ele próprio emanava. Ainda o seu sucessor não tinha aquecido o lugar, desentendeu-se com ele e quis impor a sua exoneração. Acabou por integrar a cisão da Casa do Sino.

Do meu ponto de vista, errou então. Mas não é esse erro, por muito dolorosas que tenham sido as situações então vividas, que deslustra, a meus olhos e aos olhos de todos quantos com ele privaram naqueles anos gloriosos de implantação da Maçonaria Regular em Portugal, tudo o que anteriormente, com brilhantismo, ele fez em benefício desta.

Tenho - temos, todos nós nesta Casa - muito orgulho, muita honra no Grão-Mestre Fundador, Fernando Teixeira.

E muita gratidão pelo que lhe devemos. E alguma saudade.

Outros haverá que também homenageiam a sua memória. Pela minha parte, em nada isso me incomoda. Poderemos ter, porventura, outras divergências. Ainda bem que convergimos na boa recordação de Fernando Teixeira. E, lá no Oriente Eterno a que, chegada a sua hora, Fernando Teixeira passou, estas tricas dos pobres humanos nada significam...

Rui Bandeira

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