21 setembro 2007

Sobre Esoterismos

Falei num post prévio da linha esotérica, e o nosso leitor Simple que lê todas as letrinhas que escrevemos neste blog não deixou passar essa referencia em branco e questionou sobre.

O esoterismo está em minha opinião no feitio de cada um.

Eu sou cartesiano, racionalista, e sigo linhas de pensamento lógicas sendo também um pouco Maniqueísta. É a minha formação, é a minha forma de ser na sociedade civil, sou assim em casa com a família.

De vez em quando, se a situação o exige visto a minha capa de politico e passo a admitir alguns tons de cinzento e situações menos lógicas.

Acredito que a Maçonaria tem origens definidas e que com os landmarks, os regulamentos, os rituais, a prática se pode muito bem responder a toda e qualquer questão que se levante.

Mas hoje estou aqui para falar de Esoterismo. Sendo este um tema de grande importância na Maçonaria, decidi contudo fazer uma abordagem ligeira, ou talvez não.

Creio que o esoterismo se pode dividir em categorias (cá está a minha faceta lógica) e a melhor maneira que encontrei de as explicar foi com a apresentação de exemplos. Uns são totalmente inventados para este efeito, outros são reais. Temos então as seguintes categorias (classificação é minha e inventada agora mas se estivesse em publico diria “ segundo uma antiga tradição … [juntando em voz baixa e para o lado “que acabo de inventar” ] ) de esoterismo:


Esohisterismo
Enoterismo
Esoterismo Complexo
Esoterismo Simples
Esoterismo Super Simples


EsoHisterismo

1) A Razão pela qual numa loja existe o pavimento mosaico advém do cosmos e da superposiçao da Lua em Marte, com uma incidência de Vénus as 10h34min do dia 23 de Março do ano de 1658, como é evidente para qualquer mortal.

2) Mozart foi iniciado em 14 de Dezembro de 1784.
José Ruah (eu próprio) foi Iniciado em 14 de Dezembro de 1991

Se repararmos nos anos e aplicarmos a regra dos 9 fora, temos que:
1784 = 2
1991 = 2

Mozart tinha 28 anos quando foi iniciado
José Ruah 27

Pela mesma regra

28 = 1
27 = 0
(o que é uma absoluta verdade)

Mozart demorou exactamente 1 mês a chegar a Mestre.
José Ruah demorou exactamente 9 meses a chegar a Mestre.

Novamente
1= 1
9 = 0

Mozart foi organista da sua Loja
José Ruah é organista suplente da sua Loja

Mozart compunha magistralmente e tocava ainda melhor ( tal qual indicam os 1 acima)
José Ruah também (campainhas de portas e Cds conforme querem dizer os 0 acima)

Mozart morre exactamente 200 anos e 9 dias antes da iniciação de José Ruah. Como 0 9 equivale a Zero podemos dizer que a Iniciação de José Ruah aparece na celebração dos 200 anos do falecimento de Mozart.

Logo e tendo em conta esta demosntração, José Ruah é seguramente uma nova forma de Mozart.


Enoterismo

É uma corrente intermitente, com uma correlação positiva aos Ágapes, ou mais propriamente ao fim dos mesmos.
Revela-se na verborreia e na capacidade inventiva que proporciona o ENO (ou produto similar – do grego e significa vinho) propelido pelos canhões bem carregados que são presença imprescindível nos ágapes.

De entre estes posso destacar o J e o B que têm um valor esotérico importante e um potencial enotérico de aproximadamente 40º/vol.

Poderia aqui citar umas quantas destas “ pérolas” mas os leitores poderão imaginá-las.


Esoterismo Complexo

1) Visão Crística / Messiânica transpondo rituais religiosos para cima dos rituais Maçónicos, e pensando que com isso vão conseguir definir novos arquétipos e encontrar o Santo Graal.

2) Tentativa de basear a Maçonaria na Cabala, usando para tal aquilo que se convencionou ser a Cabala Cristã, que é uma adaptação da Cabala Judaica (a original).
A estes eu costumo fazer apenas uma só pergunta: “ O meu irmão é então um entendido em Hebraico antigo e Aramaico? “, a resposta é invariavelmente não.
Temos que perceber o que é a Cabala, e saber que ela só pode ser interpretada na sua língua original pois assenta na construção frásica de uma língua e numa tradução numérica de um alfabeto específico.
Atente-se que nas línguas latinas o alfabeto contem vogais e consoantes e começa por A, B, C, …

Em hebraico o alfabeto só tem consoantes, tem várias letras com o mesmo som mas com valores gramaticais e numéricos diferentes e começa por Alef, Bet, Guimel (A, B, G) tal como o grego (alfa, beta, gama).

Traduzindo para números

Alef = A = 1
Bet = B = 2
Guimel = G = 3

Mas a letra G no alfabeto latino é a 7ª letra e A é uma vogal e Alef uma Consoante.

É fácil de depreender que quaisquer traduções e adaptações têm muito do dedo de quem traduziu, suprindo a impossibilidade de tradução de um sem número de conceitos. E estas traduções feitas por gente do Clero em épocas remotas, tinham por objectivo demonstrar determinadas verdades que careciam de demonstração.


Esoterismo Simples

1) Os que tendo lido os escritos de Jean Baptiste Willermoz, e René Guenon, partem do princípio que a Maçonaria começou e acabou nos dizeres destes, seguramente sabedores e cultos, escritores.

2) Os que por serem profundamente, e convictamente espirituais, se preparam para o ritual e quase entram numa fase de pré transe ou tentam uma espécie de elevação da alma durante as sessões.


Esoterismo Super Simples

Os que genuinamente fazem pesquisa nas mais variadas fontes e que produzem conhecimento sobre prováveis origens das coisas e que permitem aos demais poderem enriquecer-se com este conhecimento.
Não podemos esquecer que mesmo os mais racionais como eu também acreditam/aceitam algumas coisas como sejam, a origem esotérica da Maçonaria associada à construção de Templo de Jerusalém sob a égide do Rei Salomão e a “expertise” do Mestre Hiram entre outras.


Ora com estas linhas/classificações todas é fácil de perceber que numa Grande Loja temos gente para todos os gostos, e por isso temos Lojas para vários gostos.

Eu seria muito infeliz numa Loja puramente esotérica onde se discute a génese da vírgula na 3ª página do ritual linha 23. Tentando-se saber se advém de uma conjuntura cósmica, ou de uma interpretação cabalística. Para mim vem seguramente de uma necessidade gramatical ou de um erro de redacção do autor.

Outros seriam muito infelizes em lojas onde se discutam coisas práticas como o que vamos fazer para interagir com a sociedade de que forma e com que dinheiro. Porque estes assuntos têm pouco a ver com a noção transcendental de Willermoz, e seguramente não contribuem para a elevação do espírito.

Na generalidade gostamos todos da vertente enotérica, uns porque a praticam outros porque se riem até não poder mais com o que ouvem.

Tentando concluir.

Numa Grande Loja existem (coexistem) irmãos com inúmeras tendências esotéricas. Naturalmente acontece a agregação dos Irmãos da mesma tendência, normalmente as mais extremas) formando assim uma Loja com um determinado perfil.

No entanto a generalidade das Lojas têm um pouco de tudo, pois dessa forma consegue-se um contrapeso que permite um equilíbrio ideal ao desenvolvimento.

É contudo necessário perceber que estamos a falar de pessoas, e por muito que se queira (até eu que quero fazer passar-me por 100% racionalista) cada uma delas tem um pouco de cada coisa.

Diz o povo que “ De Sábios e Loucos todos temos um pouco”, e na Maçonaria isto também é verdade.

No entanto a experiência diz-me que só existe o caminho para o Esoterismo. Ou seja os racionais podem ficar um pouco esotéricos, os esotéricos super simples só evoluem para simples e daí para complexos. Não há na história nenhum que tenha feito o caminho ao contrário ou seja de Esotérico para Racional.

Devo portanto concluir que o estádio de elevação espiritual atingido pelo esoterismo deve ser muito bom, porque os que vão não voltam mais, eu cá como ainda não fui não posso dizer muito mais sobre o assunto.

Como podem já ver só esta conclusão em si tem valor esotérico, concluo portanto que já devo começar a ficar “contaminado”.

Provavelmente este não é o texto mais explicativo sobre o esoterismo, mas foi o que saiu.

Ainda me diverti a calcular a comparação com o Mozart, e posso desde já garantir que os factos são todos verdadeiros, quer a data de iniciação, quer o tempo entre graus, quer a idade, quer os 200 anos e 9 dias.

Dizem os mais esotéricos que não há coincidências. Dizem os deterministas e logo mais racionais que tudo está determinado.

Não restam então quaisquer dúvidas que os extremos se tocam e que na verdade entre os mais racionais e os mais esotéricos não há grandes diferenças.

Como diria Fernando Pessa – “ E esta hein !!!”


José Ruah

7 comentários:

Paulo M. disse...

Caro José Ruah:

Sou, de facto, um indefectível devorador dos vossos escritos - que levo muito a sério - dos quais tento extrair a essência e aperceber-me do homem por detrás das palavras. O seu texto de hoje, porém, li-o com uma surda gargalhada de alívio.

Confesso que sempre me distanciei de fatalismos, adivinhações, horóscopos, rezas e bruxedos, misticismos exacerbados e olhares vidrados voltados para o céu. Como digo à minha filha mais velha, há pessoas a quem as coisas acontecem, e pessoas que fazem as coisas acontecer. Tento contar-me entre os últimos – e ensiná-la a consegui-lo.

Foi, assim, com alguma abnegação que me dispus a ler "A simbologia maçônica (segundo as regras da simbólica esotérica e tradicional)" de Jules Boucher - recomendado a uma pessoa que conheço. É um livro muito ilustrado, com muitos "bonecos" explicativos - e definitivamente muito esotérico.

Estava eu já tristemente conformado com a ideia de que a maçonaria implicaria, forçosamente, todo esse arsenal místico, quando o José Ruah, com o seu cartesiano testemunho, me liberta do jugo de terminar o que comecei. O livro vai mesmo – pelo menos para já - ficar por acabar de ler. Outros mais interessantes se degladiam pela minha atenção por entre a pilha que se acumula na minha mesa de cabeceira.

Espero vir a poder agradecer-lhe, partilhando consigo um desses cálices onde a água e o fogo se misturam, elevando o nosso espírito no ar, mas não tanto que, no fim, nos deixe por terra...

Um abraço,

Simple Aureole

Rui Bandeira disse...

Grande texto!

Jose Ruah disse...

@Simple

Pois esqueci-me do Jules Boucher !!
No entanto, Willermoz, Guenon, Boucher e outros, têm a particularidade de serem todos franceses.
Uma outra particularidade dos Franceses é terem sido os criadores do Rito Escoces Rectificado e consequentemente do Regime Escoces Rectificado (altos graus). Esta linha ritual assenta essencialmente em Willermoz.
É muito cristã e muito mistica.

Se aceitar a minha recomendação, estes autores só deverão ser lidos após alguns anos de Maçonaria, olhe eu por exemplo já cá ando ha quase 16, e só li extractos.

São textos muito hermeticos de dificil compreensão e que criam quando entendidos corretamente uma espectativa grande. Quando entendidos incorrectamente (a maior parte dos casos assim acontece) criam uma espectativa ainda maior e um consequente desanimo imediato.

Na generalidade os exemplares que temos sao traduçoes, quando em minha opinião sao livros a ler na lingua original, mas isso implica um grande dominio da mesma.

Por outro lado ha que admitir que até ha uns anos atrás a literatura existente era escassa, e esses autores eram considerados gurus.

Hoje com a Internet há uma vastissima panoplia de textos e de interpretaçoes.
Mais recentemente com o aprarecimento deste blog, ficou suprida a falta que havia de GURUS.

Por ultimo o meu agradecimento por ser leitor atento e critico.

Quanto aos copos, se for chegado o momento, terei muito gosto avisando-o desde já que um cálide de vinho para mim é suficiente para toda a refeiçao e ainda sobra metade.


@Rui

Obrigado
Abraço

Paulo M. disse...

@José Ruah

Vou seguir os seus conselhos: vou devolver o livro à sua dona, e se vier a querer lê-lo fá-lo-ei em francês.

Quanto aos gurus, de facto não há no panorama nacional mais nenhum blog tão profícuo como o "A partir pedra". Infelizmente, nestas coisas quase sempre "quem sabe, não fala; e quem fala, não sabe"...

Finalmente, quanto ao hermetismo dos textos, pelo menos o que li encontra-se, de facto carregado de simbologia. Li há tempos que os ingredientes escabrosos das receitas de bruxaria mais não eram que mnemónicas para coisas tão comezinhas que se podem comprar em qualquer drogaria ou supermercado. Imagino que não seja muito diferente a simbologia maçónica.

Quanto aos copos, uma vez que também não bebo muito mais do que um, teremos que arranjar companhia, sob pena de uma garrafa chegar para várias "sessões"...

Um abraço,

Simple Aureole

PatBR disse...

Ruah,

Já estou como o Rui... "Grande texto!" :)

Beijos

J.Paiva Setúbal disse...

Meu Querido Zé, vai um abração !
Esotéricamente um gan'da texto.
Se o L.P. o lê... dá-lhe o "treco".

David disse...

Muito interessante !

Não é nos livros que comprei sobre maçonaria que encontrarei este tipo de conteúdo inédito e informativo com um tom tão descontraído.

E isto é a razão pela qual continuo a ler atenciosamente o blog.