02 janeiro 2013

Mesmo que seja duro, Feliz 2013!


Há pouco mais de um ano, comecei o último texto de 2011 que publiquei aqui no blogue assim:

Segundo as notícias que chegam a Portugal, o Brasil vive um bom período, o otimismo medra na mesma proporção do desenvolvimento, espera-se que o ano de 2012 seja melhor do que o de 2011. Que assim seja!

Não sei se no Brasil se pressente que 2013 será melhor do que 2012, mas creio que se confia que, pelo menos, não será pior. Por mim, repito o que desejei o ano passado: Que assim seja!

No mesmo texto, quanto a Portugal, aos portugueses e aos que neste país vivem, escrevi então que "neste velho Portugal, cada vez mais velho, demograficamente falando, o panorama é bem mais sombrio: a seguir a um mau ano de 2011 espera-se um pior ano de 2012, o pessimismo está instalado em proporção superior à percentagem de queda do Produto Interno Bruto. Por estas bandas, os tradicionais, nesta época, votos de Feliz Ano Novo soam a esperança vã, palavras ocas, simulacro de boa disposição."

Não é agradável, neste caso, reconhecer-se que a previsão acertou e, pior, que se prolonga para 2013, que todos preveem ainda pior que 2012. Por isso, se mantêm válidas as considerações que a propósito teci o ano passado:

Os tempos europeus e lusitanos de agora são tempos de pouco TER. Não são, porém, tempos perdidos ou improdutivos para aqueles que se preocupam essencialmente, não com o TER, mas com o SER. São tempos que nos mostram e ensinam a diferença entre o que é verdadeiramente essencial e o que, afinal, é apenas simplesmente confortável. São tempos que nos alertam para a precariedade do TER e que nos mostram a perenidade do SER. Que - com dureza mas também com clareza - nos ensinam que o que possuímos, o que amealhamos, os rendimentos que obtemos, estão à mercê dos desvarios de anónimos financeiros, dos apetites de insaciáveis banqueiros, das debilidades dos políticos a que entregamos os nossos destinos, dos conceitos dos teóricos económicos da moda e do acefalismo cinzento dos burocratas que a todos estes enquadram. Mas são também tempos que nos relembram que o nosso verdadeiro tesouro é aquilo que SOMOS, o que aprendemos, o que melhorámos, as capacidades que adquirimos, a nossa força, tenacidade, confiança em nós, o conjunto das capacidades que laboriosamente adquirimos ao longo da nossa existência e que é com o que cada um verdadeiramente É que resiste e ultrapassa e vence a falta ou diminuição do que TEM, que reconstrói sobre os destroços do que caiu, que avança e deixa para trás o deserto da penúria. Enfim, aquele que se concentra no que É sente menos falta do que não TEM.

O essencial é SER, não TER. Os tempos de crise servem para que o homem sábio o relembre e possa não o esquecer nas épocas de prosperidade.

Esta é a Sabedoria que desejo que todos os meus conterrâneos consigam ter para a cada um ajudar a superar este tempo duro enquanto não chega tempo mais aprazível (que é importante que, apesar de tudo, cada um saiba que acabará por chegar).

Mas o acentuar e o prologar da dureza do tempo que se atravessa fez-me compreender que não basta essa Sabedoria, também é e necessário que cada um convoque e mantenha o máximo que puder da sua Força para resistir ao embate e, sobretudo, para persistir no que tiver de fazer para ultrapassar o mau momento.

É necessária Força de discernimento para distinguir entre o que nos é essencial - e preservá-lo - e o que, apesar de confortável, nos é afinal meramente acessório, e de que, se assim tiver que ser, se prescindirá. É necessário ter a Força de caráter para, se assim for necessário fazer, fazê-lo sem demasiado azedume, sem nenhuma perda de amor-próprio, sem sofrimento excessivo, ainda que aquilo de que se for obrigado a prescindir fosse tido por adquirido e garantido.

Em tempos negros, quando a borrasca nos cai em cima sem dó nem piedade, é importante não cair no desespero, que tolhe e incapacita a necessária reação à inclemência do tempo que corre. Para isso, é imprescindível valorizar  e apreciar todas as nesgas de luz, todos os momentos de calmaria, todos os apontamentos de cor, todos os pedaços de calor, que conseguirmos lobrigar, utilizar cada um desses momentos de reconforto como suplemento de energia para resistir, persistir, prosseguir, até que dia chegue em que a luz suplante a treva, a calmaria domine a borrasca, a cor esconda o cinzento, o calor expulse o frio. É assim indispensável preservar e apreciar toda a Beleza que conseguirmos encontrar, em cada momento, em cada tarefa, em cada riso de criança, em cada gesto, em cada coisa. Saber descortinar e apreciar a Beleza no meio da dificuldade, da penosidade, da dureza, é vitamina que suplementa e exponencia a indispensável energia de que necessitamos para superar esta hora do lobo  que estamos vivendo.
  
Que todos consigam prescindir sem demasiado esforço do supérfluo e preservar o verdadeiramente essencial. Que àqueles que já veem o essencial a ser atacado não falte a indispensável solidariedade que lhes permita resistir e ultrapassar a sua situação. Que àqueles que mantiverem o privilégio de manter barca que os proteja do furor destas vagas alterosas, que a tantos e cada vez mais fustiga, não lhes falte o sentido de solidariedade, a predisposição para ajudar, o ânimo para partilhar o que lhes sobra com quem está a necessitar.

Se assim for, então todos conseguiremos vir a ver o horizonte a clarear, encontrar novos caminhos desimpedidos, reconstruir o que se tiver perdido ou destruído. E a superação das dificuldades ter-nos-á tornado um pouco mais fortes, capazes e resistentes - em suma, melhores. Se assim for, apesar dos pesares, ao olhar para trás poderemos dizer que as dificuldades afinal não nos impediram de conseguir ter o que a todos desejo: UM FELIZ ANO DE 2013!

Rui Bandeira

4 comentários:

Diogo disse...

Também eu acredito que o SER é mais importante que as superfluidades de um mundo apenas virado para o TER. Mas Não havendo pão para comer, não existe SER (exceto para santos).

Um roubo ou uma vigarice não é equivalente a uma borrasca que nos destrói a horta. As primeiras são atos deliberados de indivíduos, ao passo que a segunda é um acontecimento natural.

Que a discussão entre o SER e o TER não nos tire o discernimento para justiçar criminosos.

Abraço e Bom Ano

Streetwarrior disse...

Não esquecer a culpa dos Advogados que defendem os vendilhões do templo...eh eh eh
Ahhhh Malvados dos Advogados...querem dominar o mundo, a ELITE das Elites e se forem Maçons, é meio caminho andado para o Take Over mundial.
lol
Rui, o bom ano para si e para todos os q nos lêem.
Abraço
Nuno

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior (e também @Diogo):

("matando" dois coelhos - salvo seja... - com uma cajadada)

E não olvidando a responsabilidade dos informáticos, que criaram e aplicam a tecnologia que facilita roubos, vigarices e propicia a impunidade dos vendilhões do templo defendidos pelos advogados...

Um abraço a ambos! Os tempos andam maus, mas, pelo menos, o sentido de humor mantém-se...

J.Paiva Setúbal disse...

Pois, agora apareço eu só para dizer, olha que dois... (Nuno e Rui, naturalmente !)
Só uma achega mais. Na India (a dos "intocaveis") os supostos advogados de defesa recusam-se a defender os "piratas" que mataram a jovem no autocarro. Têm acompanhado ?
Abrações.