12 abril 2007

A Conspiração Judaico-Maçónica

Esta semana, três vezes foi chamada a minha atenção sobre o recém-publicado livro de Alain Goldschläger e Jacques Charles Lemaire A Conspiração Judaico-Maçónica. Primeiro, através de um texto lido num blogue maçónico americano; depois, através de uma mensagem de correio electrónico recebida de um Irmão adormecido, mas que continua atento (para quem não sabe: em Maçonaria, diz-se adormecido o maçon que, por qualquer razão, decide suspender a sua actividade maçónica, sem prejuízo do seu direito de, quando o entender, a retomar normalmente); a terceira, através de mensagem enviada pelo JPSetúbal.

Manifestamente que se trata de uma obra que suscitou o interesse dos maçons. À primeira vista, dir-se-ia que tal interesse se revestia de algum masoquismo, tendo em atenção o título da obra e o preconceito anti-maçónico que leva alguns a enredar a Maçonaria nas mais mirabolantes teorias da conspiração. Porém, o título está (propositadamente?) imbuído de alguma dose de equivocidade: é certo que a obra trata da conspiração judaico-maçónica, mas desmontando essa mirabolante tese:

Segundo uma sinopse divulgada:

No campo dos preconceitos que têm tido uma vida longa, o mito da conspiração judaico-maçónica é talvez o mais conhecido. Católicos conservadores, publicistas de extrema-direita, militantes fanáticos da causa árabe, incontáveis são aqueles que, desde o século XIX até aos nossos dias, avançaram com as “provas” duma pretensa colusão entre os judeus e os franco-maçons em jeito de explicação pseudo-racional de diversos acontecimentos históricos. Não se trata aqui apenas dum mito inepto concebido por polemistas de vão de escada, mas sim duma fantasmagoria criminosa, que contribuiu para justificar a matança de milhões de vítimas inocentes. O poder deste mito sobre as mentes explica-se pelas modalidades lógicas da sua exploração. Contra todas as exigências racionalistas, o pensamento conspiracionista procede por manipulações históricas e argumentativas. A presente obra tem por objecto a desconstrução dessas manipulações.

Segundo outra:

Qual o poder efectivo da maçonaria na ordem mundial? Desfazer todas as dúvidas em torno do mito de uma grande conspiração judaico-maçónica é o objectivo da mais recente – e polémica – obra de Alain Goldschläger e Jaques Charles Lemaire. Os autores põem em causa a "ingenuidade" de uma teoria que justificou, no passado, os intentos criminosos e sangrentos de fundamentalistas Católicos, Islâmicos e de Extrema-Direita.

«As conspirações existem; a conspiração, não» . Se é inquestionável que em todas as épocas do passado foram urdidas manobras para mudar uma situação política, como foram os casos de, por exemplo, o assassinato de Júlio César ou o fim «forçado» de Napoleão, os investigadores Goldschläger e Lemaire defendem que não é possível, nem historicamente plausível, falar-se numa grande conspiração mundial judaico-maçónica.

Numa obra que pretende deitar por terra uma teoria que justificou acontecimentos como o Holocausto, e demonstrar o absurdo lógico e histórico da aliança atribuída aos judeus e aos franco-maçons, os autores partem de uma análise histórica e sociológica para atribuir ao poder do mito uma "lógica de exploração", implementada através da manipulação histórica e argumentativa por parte de determinados agentes.

Segundo os autores, o mito – que teve origem no final do séc. XIX – subsiste na actualidade através dos "insuspeitos" meios da literatura e do cinema: James Bond já não defende a honra ou vida da rainha de Inglaterra, para se opor às pretensões de domínio mundial do Spectre. Por outro lado, Luke Skywalker salva as galáxias das garras do «Império do mal». Para Goldschläger e Lemaire, estas ficções arriscam-se a criar, inadvertidamente, um terreno fértil para os espíritos fracos, mais inclinados a aceitar uma explicação simplista e totalizante do real.

«A Conspiração Judaico-Maçónica » é uma obra explicativa, que pretende lançar um alerta para os perigos do desvio de pensamento e da manipulação histórica e desfazer um mito que já permitiu demasiados excessos, em nome de uma luta mobilizada pelo extremismo.

Os autores da obra são académicos respeitados. Alain Goldschläger é professor no Departamento de Francês da Universidade de Western Ontário e director do Instituto de Pesquisa sobre a Literatura do Holocausto. Jacques-Charles Lemaire é professor na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Livre de Bruxelas.

O livro foi publicado em Portugal pela editora Via Occidentalis, tem 148 páginas e o seu custo é de € 17,85. Se for adquirido através do sítio Webboom.pt, custará apenas € 16,07. Mas quem dominar a língua francesa, pode adquirir a edição em francês da mesma obra por apenas € 8,79, mais portes de envio, através do sítio francês da Amazon.

Cá por mim, acho que já tenho escolhido um dos livros para ler nas próximas férias...

Rui Bandeira

3 comentários:

Jose Ruah disse...

Ja comecei a ler !!!. vamos ver se tenho paciencia para o ler até ao fim.

Jose Ruah disse...

outra coisa
corrige o titulo de "conspitação" para conspiração.

Rui Bandeira disse...

Corrigido.